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Sinopse

Mundo Deserto de Almas Negras: Oscar é um jovem e bem sucedido advogado da elite paulistana. A pedido de um misterioso cliente, ele aceita entregar celulares para um membro de uma facção criminal dentro de um presídio. Porém, quando tem sua carga roubada, passa a ser perseguido pelos perigosos contratantes. Premiado no Cine PE 2015.

Crítica

A ideia é promissora: imagine uma sociedade em que os conceitos e a distribuição racial seja inversa a que hoje conhecemos. Ou seja, os brancos até podem estar em maioria, mas a eles cabem os subempregos, as condições alternativas, a posição de subserviência, a vida nos guetos, subúrbios e favelas. Quanto aos negros, estes ocupam os postos mais privilegiados, são poderosos empresários, líderes, políticos. Moram em casas suntuosas, tem melhor acesso à educação e respondem pela elite social. É neste universo, portanto, em que se insere a ação de Mundo Deserto de Almas Negras, longa dono de muitos méritos – a começar pela proposta ousada – mas cujo resultado final soa irregular diante estes potenciais isolados.

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Sidney Santiago (ator que é um dos ativistas mais ligados à causa no Brasil) interpreta o protagonista, Oscar, um advogado rumo à sociedade do escritório onde trabalha. Nesse caminho, no entanto, ele acaba cedendo à pressão de um poderoso cliente, que por se diferir dos seus iguais passa a agir como se fosse também da classe dominante – ainda que esteja ali mais pela força do dinheiro que conquistou, do que por um direito natural. O que terá que fazer é levar aparelhos celulares para dentro do presídio – já que, pela profissão que exerce, não será revistado na entrada – servindo como peão ao crime organizado. Nada muito distante, pelo que se vê, do que é possível ler todos os dias nas colunas policiais dos jornais diários.

Assumindo-se como um ‘noir tropicalista’, Mundo Deserto de Almas Negras é o trabalho de estreia do grupo criativo Heavybunker, idealizado a partir de encontros na Faculdade Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro – onde aconteceram, aliás, as principais locações do filme. Com uma abordagem estética afro-brasileira, peca, no entanto, em alguns pontos da direção de arte – certos cenários são por demais amadores – e na montagem, que se alonga em determinadas passagens apenas para criar uma impressão já concretizada, reforçando em imagens discursos previamente explorados pelos personagens. Poderia oferecer mais força à trama, mas tudo o que consegue é soar redundante.

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Mas há o que se destacar em Mundo Deserto de Almas Negras. Além da trilha sonora envolvente – 100% nacional, que mesmo usando temas consagrados consegue fugir do clichê mais óbvio – e de atuações comprometidas – como a de Santiago, que após o sucesso de sua estreia no drama Os 12 Trabalhos (2006), que lhe rendeu prêmios nos festivais do Rio de Janeiro e de Recife, finalmente encontra outro papel à altura de seu talento – é importante ressaltar o trabalho do diretor Ruy Veridiano, hábil em combinar tensão e humor em ritmo de sátira em meio a uma trama policial competente, que desperta curiosidade pelo inusitado e prende o espectador pela condução segura. Em resumo, tem-se um filme que poderia facilmente sucumbir diante suas próprias pretensões. Felizmente, o conjunto se mostra acima de meros esquemismos estéticos, revelando um conteúdo pertinente e digno de atenção.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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