Crítica
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Sinopse
Num mundo onde as mulheres desapareceram e os homens foram afetados por um estranho fenômeno que faz seus pensamentos ficarem audíveis, Todd encontra Viola, uma jovem misteriosa que acabou de aterrissar no seu planeta.
Crítica
O futuro tem um tanto de passado em Mundo em Caos. Num planeta há mais de 60 anos-luz da Terra, homens criam uma colônia em vários sentidos semelhante às cidades vicejantes do Velho Oeste norte-americano, ou seja, o século 23 remonta ao 19. O protagonista é Todd (Tom Holland), jovem que vive num recanto masculino, orientado pela história que lhe contam desde pequeno a respeito do extermínio das mulheres pelas mãos dos nativos. Essa observação “nós” versus “eles”, igualmente referente à dinâmica da luta com os indígenas em prol do “progresso”, é pouco desenvolvida pelo cineasta Doug Liman. Aliás, em todo o longa-metragem vemos apenas um desses seres desalojados pela horda de humanos que rapidamente se apossou do território, ainda por cima numa circunstância de mera luta corporal, imprescindível à sobrevivência. A não ser por uma pontuação aqui, outra acolá, a invasão terráquea não é devidamente encarada como oportunidade de estabelecer outra ponte entre imaginação e verdade histórica. Aos poucos, a ação e a aventura se impõem.
Um dos traços mais importantes dessa permanência dos terráqueos no planeta que possui ecossistema semelhante ao da Terra é que nele os homens praticamente não conseguem mentir, haja visto o que chamam de “ruído”, exteriorização sonora de pensamentos, visualmente semelhante a uma aurora boreal. Na extensa fase de apresentação de Mundo em Caos, esse recurso é bem utilizado do ponto de vista dramático. Todd vai na contramão do ambiente masculino (e fundamentado na necessidade de estar sempre pronto a matar) quando uma mulher literalmente cai do céu, egressa de uma missão interplanetária de reconhecimento. Viola (Daisy Ridley) se depara com essa realidade hostil, logo vista com desconfiança por ser excepcionalmente obscura num lugar em que todos tendem à transparência. As mulheres não são afetadas pelo ruído, ou seja, não se pode ter acesso ao que elas pensam. A jornada dessa dupla improvável rumo ao local menos brutal rende boas sacadas, algumas até mesmo cômicas, ainda que as nuances se desgastem gradativamente.
Há dois personagens em estágio de descoberta. À medida que ambos avançam, Todd toma contato com aldeias além das sua e ideias que colocam em xeque suas crenças. Nascida no espaço, Viola conhece coisas como a temperatura e a textura da chuva. No entanto, Doug Liman enfraquece essa trajetória conjunta, sobretudo por passar muito rapidamente por todas as circunstâncias que poderiam conferir densidade a esse conjunto que, então, perde potência após a revelação da premissa. Encontrar um espaço em que mulheres coexistem com homens – no qual a autoridade maior é uma delas – poderia ser muito melhor explorado, até para reconhecer intensamente a vilania dos asseclas do personagem de Mads Mikkelsen (decalque do típico mandachuva perverso do faroeste). O roteiro a cargo de Patrick Ness e Christopher Ford, baseado num livro escrito pelo primeiro, adiciona elementos enquanto os protagonistas rumam ao futuro, mas não confere tempo suficiente para componentes principais se assentarem e, sobretudo, para que possam reverberar. É tudo superficial.
Os dois destaques do elenco de Mundo em Caos são Tom Holland e Mads Mikkelsen. O primeiro constrói habilmente um tipo entre a curiosidade capaz de dissipar a ignorância e o receio frente ao desconhecido. O segundo deita e rola criando um vilão marcante ( provavelmente mais se ganhasse alguns minutos de tela). Pena o filme não apostar nos ingredientes que poderiam adensar essa mistura inicialmente bastante saborosa. Quando Todd tira a roupa diante da desconhecida, sem qualquer pudor, é evidente a alusão à ausência de malícia que, por sua vez, remete à prévia do pecado original contido na bíblia cristã. Esse elemento religioso também surge, embora insuficientemente trabalhado, no personagem vivido por David Oyelowo, cujo fanatismo combina com essa sociedade misógina por definição. A ensaiada subtrama envolvendo o ciúme do rapaz interpretado por Nick Jonas por Todd não se concretiza pela simples falta de substância do sugerido principalmente no começo do longa-metragem. É tudo muito acelerado e, por conseguinte, epidérmico neste filme cuja fragilidade maior é justamente a evocação de tantas coisas e o pouco tempo para o cozimento. Uma lástima, pois o enunciado e os movimentos iniciais são instigantes, o que torna algo decepcionante o resultado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Francisco Carbone | 1 |
Lucas Salgado | 3 |
MÉDIA | 3 |
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