Sinopse
A história de um ex-goleiro de futebol que, longe do estrelato, agora trabalha como motorista de ônibus. Sem dinheiro e desesperado por não conseguir pagar as contas médicas do filho doente, se envolve com uma rede de tráfico de pessoas da Bolívia.
Crítica
Traçando um paralelo entre a glória e o sofrimento do povo sul-americano, Muralla se apresenta como uma jornada de redenção envolta de drama e suspense. Em sua trama, o diretor Gory Patiño se aproxima de trajetórias de vida desastrosas ao estilo dos também latinos Biutiful (2010) e Uma Vida Melhor (2011), ganha com interpretações consistentes, mas deixa a desejar ao optar por incorrer no melodrama de forma exagerada em sua obra sem despender do mesmo tempo na construção de seus personagens.
Fernando Arze Echalar, na pele de Jorge, é um ex-futebolista boliviano que, mesmo sem entrar em detalhes, percebe-se que há muito não desfruta mais do glamour e fama que lhe rodeavam nos anos 1990. Agora, é apenas um motorista de van que, num momento de desespero, acaba se envolvendo com uma rede clandestina de tráfico humano. Para lidar com seu sentimento de culpa, se esforça para acreditar que é apenas uma engrenagem de uma grande organização ilegal. Quando a tragédia que tentava evitar, acontece, é lançado ao poço da salvação religiosa, pois, a partir daí seu objetivo será destruir o mal que ajudou a criar.
O diretor já havia retratado caso semelhante no drama Cielito lindo (2010), ao lado de Alejandro Alcondez. Aqui, sua condução valoriza uma fotografia de planos fechados que exageram no estímulo de comoções, abrindo espaços para que a narrativa se torne arrastada e exaustiva para o espectador. Referências às perseguições de Trainspotting: Sem Limites (1996) apenas endossam a sensação de falta de norte – tanto geográfico, quanto explicativo.
Na segunda metade do filme, Echalar entrega seu protagonismo ao ator argentino Pablo Echarri. Este assume o papel de vilão sem ressalvas, abraçando o longa e prendendo o espectador com seu carisma. Echarri, como Nico, é uma peça de escalão mais alto do grupo contrabandista e também responsável pelas melhores cenas da obra, entregando um portenho estereotipado – mas que dá fôlego e alívio cômico a um dramalhão que parecia estar fadado ao fracasso.
Com um comando na fórmula mais tradicional do cinema latino americano, Patiño conclui uma produção com potencial para mais – nos deixando dúvidas quanto ao passado que levou Jorge a se tornar um jogador esquecido e desgraçado em suas escolhas. Mesclando metáforas esportivas com justiça social – afinal o futebol é, pelo menos na América do Sul, a dádiva e a maldição do povo – Muralla logra com o esforço de seus atores e o brilho de Pablo Echarri, mas não se estabelece como referência porque prefere fazer apenas mais do mesmo.
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