Orin: Música Para os Orixás
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Henrique Duarte
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Orin: Música Para os Orixás
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
De todos os elementos da herança africana na formação cultural brasileira, a musicalidade é sem dúvida um dos mais notáveis, se mantendo fortemente presente ainda hoje. Em Orin: Música Para os Orixás, o diretor Henrique Duarte se volta a esse aspecto, adentrando os terreiros do Candomblé para apresentar as origens das cantigas sagradas que embalam os rituais da religião e dão nome ao documentário – Orin na linguagem iorubá –, investigando as particularidades de seus ritmos e instrumentos, e a influência destes na gênese de diversos gêneros musicais tipicamente brasileiros como o samba, o baião e até mesmo o funk carioca. Apesar da temática religiosa/espiritual permear a projeção, a música é mesmo o foco central do longa, que expõe não apenas seu papel como ferramenta fundamental de celebração, transe e invocação dos Orixás, mas também suas outras facetas, como a de meio de integração social.
Para estruturar a narrativa, Duarte adota a história do instrumento-símbolo do Candomblé, o atabaque – indo da sua divisão em três formatos (Rum, Rumpi e Lê) até seu processo de fabricação propriamente dito – como fio condutor, inserindo sobre ele os outros tópicos que deseja abordar. Essa estruturação, contudo, resulta um tanto caótica, especialmente em seu início, sem que haja uma transição bem delineada entre os temas examinados pelos vários especialistas consultados – sociólogos, artistas, etnomusicólogos – passando certa sensação de aleatoriedade. Saltando entre curtos fragmentos de depoimentos, o documentário mergulha numa profusão de definições e nomes – de instrumentos, rituais, entidades – nem sempre fácil de ser acompanhada por aqueles que não possuem algum conhecimento prévio, algo que só é amenizado quando o diretor decide se aprofundar minimamente nos tópicos tratados, dando mais tempo de fala a seus entrevistados.
Ainda que por fim consiga impor certa cadência ao modo como transmite as informações, alguns assuntos de potencial interesse acabam se perdendo, sendo tratados apenas superficialmente – caso da referência aos grupos musicais que exploraram as raízes africanas dentro da MPB nos anos 1960 e 1970, como Os Tincoãs, do qual fazia parte o cantor e compositor Mateus Aleluia, um dos entrevistados do documentário. Não escondendo suas aspirações didáticas – como ao acompanhar o instrumentista que defende sua tese sobre o ensino dos atabaques em uma faculdade de música na Bahia – o longa também deixa clara a intenção de dar visibilidade e promover a cultura do Candomblé, alvo de tanta desinformação e preconceitos na sociedade brasileira. Esse propósito elogiável, entretanto, acaba esbarrando no esquematismo formal do trabalho de Duarte.
Dividido basicamente entre os depoimentos e as imagens das cerimônias nos terreiros – exceção feita ao registro de duas performances de dança e à sequência de abertura encenada na mata – Orin: Música Para os Orixás termina preso a uma narrativa monocórdica, que ao buscar oferecer ao espectador o máximo de informações possível, se torna repetitivo, não conseguindo encontrar soluções para proporcionar uma imersão, de fato, mais profunda no universo retratado. Pois até mesmo no aspecto musical, seu elemento basilar, o trabalho de Duarte se mostra titubeante, não sendo capaz de captar plenamente a atmosfera dos cultos ou a energia e a vibração da batida dos atabaques tão exaltadas pelos entrevistados. Em meio a essas fragilidades, o valor da obra como instrumento de preservação cultural – especialmente de uma cultura tão dependente da tradição oral, ponto ressaltado em diversos momentos – não chega a ser totalmente invalidado, porém, nunca atingindo a força do manifesto de defesa ou da peça de resistência que poderia ser.
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