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Sinopse

Elza chega em casa, em Copacabana. Cara a cara, diante do espelho, nos desafia, numa saga que ultrapassa o tempo, explosões, pedreiras, lama, preconceitos, perseguições, perdas. Mas ela é dura na queda, num rito, nua e crua, ao mesmo tempo frágil e forte, real e sobrenatural, como uma fênix transcende em música e canta gloriosa. Um filme com a cantora, compositora e atriz Elza Soares.

Crítica

Esta não é uma cinebiografia tradicional de Elza Soares. Há, para começo de conversa, uma recusa terminante de prender-se a cronologias ou a coisa que o valha, especificamente no que diz respeito à linha de progressão. A cineasta Elizabete Martins Campos prefere seguir um caminho nada convencional, algo perfeitamente adequado ao retrato da trajetória de uma mulher/artista cuja existência não se presta ao estandardizado. Ao invés de escrutinar a criança, a jovem e a adulta, ressaltando as mudanças, ou seja, as transformações inerentes à vida de qualquer um, My Name is Now, Elza Soares assume um discurso absolutamente sensorial, num jogo instigante de imagens e sons que ajuda a delinear uma personalidade praticamente etérea, que surge tanto do privilégio à seara meramente musical, haja vista a quantidade de números extensos e intimistas, quanto dos depoimentos livres e fortes da protagonista/performer.

Dentro desse itinerário estilístico instigante, somos confrontados, na condição profunda de expectadores/voyeurs, por Elza Soares em pessoa, ela que reafirma contundentemente seu espaço entre as grandes artistas da música brasileira. Quando não analisada pela câmera em meio a apresentações de visceralidade flagrante, ela se dirige aberta e corajosamente à lente para depor contra tudo que a insatisfaz, afrontando quem lhe entristece, ocasionalmente vertendo lágrimas de saudade, indignação ou alegria. O processo inusitado é o grande atrativo de My Name is Now, Elza Soares, documentário que permite poucos meios termos entre a adesão e o descolamento. Nem sempre a realizadora consegue dar dinamismo à progressão narrativa, por incorrer em repetições, em reiterações de clara intenção expressiva. Todavia, esses momentos de enfraquecimento não são determinantes para tornar a sessão enfadonha.

Um dos pontos mais célebres da biografia pessoal de Elza Soares, o casamento com o craque Garrincha, é encarado de maneira sutil e terna por Elizabete Martins Campos. Sem questionar a protagonista, tampouco recorrendo a depoimentos externos – aliás, estes inexistem, como um todo, no longa-metragem –, ela tempera a exposição de imagens do casal apaixonado, de recortes da imprensa da época, obviamente interessada nos desdobramentos de um relacionamento tão conturbado como intenso, com a voz indefectível de Elza potencializando a esfera sentimental, então acessada com respeito. My Name is Now, Elza Soares é um filme essencialmente afetuoso, no qual o carinho se evidencia na abordagem propriamente dita, na reverência transparente, em termos práticos, nos instantes em que se julga necessário trazer elementos complementares para estofar o conjunto, como as fotografias, por exemplo.

My Name is Now, Elza Soares busca desnudar uma figura incensada aos quatro ventos, sem recorrer a explicações que poderiam reduzir uma visão particular dos fatos. Elizabete Martins Campos não demonstra apreço, ou curiosidade, pelas ocorrências em si, ou por encadeamentos, preferindo estudar o resultado, ou seja, Elza Soares como mulher que lutou sobremaneira para vencer na vida. Algumas passagens soam deslocadas, como a massagem realizada pelo homem apolíneo, talvez uma forma de brincar sutilmente com a maldade contida nos comentários abundantes sobre a predileção de Elza por relacionar-se com jovens. Em sentido semelhante, a fala da protagonista acerca de sua boca, à qual borra de batom, é um contra-ataque às críticas às cirurgias plásticas, ressaltadas por quem não dimensiona, para além das frivolidades, a importância de Elza como artista e estandarte da força feminina.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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