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Sinopse

Em Meu Eu do Futuro, Elliott está prestes a fazer 18 anos e sair de casa para ir para a faculdade. Para comemorar, viaja com suas amigas. Sob efeitos de drogas, a garota se depara com uma versão de 39 anos dela mesma. Agora juntas, as duas passarão por um momento de descoberta pessoal. Indicado ao Gotham Awards 2024.

Crítica

Meu Eu do Futuro não se apresenta como uma inovação radical dentro do gênero de comédias dramáticas sobre encontros entre versões de si mesmo. Quem já assistiu a filmes como Peggy Sue: Seu Passado à Espera (1986) ou O Homem do Futuro (2011) encontrará semelhanças no conceito. Contudo, o que começa como premissa já explorada ganha nuances surpreendentes. Neste caso, a viagem no tempo não é provocada por dispositivo científico ou fenômeno onírico de praxe (como sonho, por exemplo), mas por algo mais inusitado: uma experiência com cogumelos alucinógenos. Esse ponto de partida assegura que o longa mantenha elemento de surpresa que reverbera ao longo de sua trama.

A atuação de Maisy Stella como Elliott, a adolescente em busca de autoconhecimento, é um dos maiores atrativos da produção. Conhecida por seu trabalho em Nashville: No Ritmo da Fama (2012-2018), Stella imprime energia divertida à personagem, que é ao mesmo tempo sarcástica e cheia de inseguranças típicas da juventude. Em tarde descontraída com suas amigas, Elliott se aventura com cogumelos e, sem querer, se depara com sua versão de 39 anos, interpretada por Aubrey Plaza. Como de costume, Plaza se entrega à mistura de comédia e drama com habilidade, mas é no tom humorístico que ela realmente se destaca, conseguindo arrancar risadas até nas situações mais delicadas.

A cineasta Megan Park adota abordagem menos séria em Meu Eu do Futuro, distanciando-se da gravidade que marcou seu trabalho anterior, A Vida Depois (2017). Contudo, ela não abre mão de explorar questões emocionais complexas. O roteiro, como quebra-cabeças, se desenvolve ao mostrar a Elliott do futuro e o choque entre as versões. O que parece ser apenas sequência de acontecimentos triviais logo se transforma em confronto de vontades: a Elliott jovem quer entender por que não pode fazer algo, enquanto a versão mais velha insiste na proibição. Esse embate entre gerações mantém o público intrigado, curioso para descobrir as razões por trás dessas restrições.

A dinâmica entre essas duas versões, tão distantes e, ao mesmo tempo, tão conectadas, é enriquecida por elementos de humor que abordam temas contemporâneos, como identidade sexual e a Geração Z. O projeto reflete sobre os conceitos de certeza e dúvida que marcam a vida desses adolescentes, enquanto faz piadas afiadas sobre a cultura pop. A cena em que Elliott interpreta Justin Bieber, com toda a sua exagerada paixão, é um dos momentos mais marcantes da trama.

Embora Meu Eu do Futuro caminhe para desfecho um tanto melodramático, ele nunca perde de vista a beleza do processo de revisitação do passado e da reconstrução do futuro. A obra subverte as expectativas ao ter bem menos de viagem no tempo do que o espectador poderia imaginar. No entanto, é na jornada de autodescoberta e no delicado encontro de gerações que o longa encontra seu verdadeiro charme, tornando-se sensível, com o poder de emocionar sem recorrer a grandes artifícios. Um experimento simpático sobre o que seria de nós se tivéssemos a chance de revisitar nossas escolhas mais decisivas.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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