Na Batida do Coração
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Stefan Westerwelle
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Into the Beat: Dein Herz tanzt
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2020
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Alemanha
Crítica
Leitores
Sinopse
Katya sempre praticou arduamente para ser bailarina clássica. Porém, ao descobrir o hip-hop, acaba se apaixonando pelas novas possibilidades de expressão corporal que vão levá-la a potencialmente decepcionar seus pais.
Crítica
Entre as tantas tendências apontadas pelo algoritmo interno da Netflix, é razoável imaginar que uma delas deve indicar um crescimento na apreciação de dramas adolescentes envolvendo conflitos na pista de dança. Essa, afinal, pode ser a explicação para o lançamento em sequência de títulos como O Preço da Perfeição (2020), Feel the Beat (2020) e Dançarina Imperfeita (2020), por exemplo. E Na Batida do Coração, que vem agora se somar a essa mesma linha narrativa. Afinal, os elementos aqui reunidos são exatamente os mesmos facilmente reconhecíveis em todos os apontados acima, assim como em muitos outros similares. Há a mocinha rebelde, o jovem incompreendido, a pressão dos familiares, os professores exigentes, uma relação que parece improvável no começo, apenas para se revelar em seguida uma paixão capaz de alterar destinos, o apoio dos melhores amigos e o grande teste final no qual tudo será decidido: quem vai e quem fica, o beijo aguardado e as devidas declarações de amor eterno. Sem tirar nem por, exatamente como numa receita de bolo pré-pronto: sabe-se exatamente o que está comprando, com o mesmo sabor insosso esperado.
O que Na Batida do Coração poderia oferecer de diferente, no entanto, é que ao invés de se tratar de uma produção norte-americana, como as demais citadas nesse texto – e a absoluta maioria daquelas que se enquadram nesse subgênero – o sotaque aqui empregado é o alemão, assim como a origem dos intérpretes e os cenários nos quais a trama se desenvolve. Isso seria mais do que suficiente, caso houvesse vontade para tanto, para oferecer um tempero local – e, portanto, único – a um argumento já muito explorado por suas contrapartes ao redor do mundo. Mas o que acontece é justamente o contrário, muito graças à estratégia Netflix de produção: com a desculpa de estar incentivando talentos regionais, a gigante do streaming tem sempre em mente uma necessidade de se comunicar com o mundo todo, e não apenas com um ou outro país em especial. Assim, o esforço em geral é para eliminar qualquer característica mais pontual, deixando tudo bastante similar, independente de qual for a sua origem. Enfim, justamente aquilo que poderia ser seu ponto forte é o que é menos explorado pelo conjunto.
A protagonista da vez é Katya (a estreante Alexandra Pfeifer), uma bailarina que tem se dedicado ao balé desde a tenra infância, esforçada em seguir os passos do pai, Victor (Trystan Pütter, de Toni Erdmann, 2016), um dos maiores nomes da dança no país. Porém, nas vésperas da audição que poderá lhe garantir uma vaga na mais importante academia do mundo, em Nova Iorque, o caminho dela acaba cruzando com o de Marlon (Yalany Marschner), um habilidoso dançarino de street dance. Os dois, obviamente, são de mundos opostos: ela segue regras, pensa objetivamente e está habituada a obedecer mestres e superiores; ele, por sua vez, vive em pleno caos, está constantemente explorando novos caminhos e é um verdadeiro autodidata, fazendo do próprio exemplo sua principal lição. Ou seja, ambos são exatamente o que os clichês determinam em casos como os aqui citados. E como também não poderia ser diferente, da mesma forma como se estranham num primeiro momento, rapidamente estarão perdidamente apaixonados, um nos braços do outro.
Um estudo a respeito das locações por onde as ações de Na Batida do Coração se passam aponta para um verdadeiro quebra-cabeças. Apesar da história ocorrer, supostamente, em um único lugar, as filmagens se deram em ao menos quatro cidades diferentes entre dois países (além da Alemanha, também na Áustria). Essa miscelânea também se verifica no roteiro, que parece se desenrolar no melhor estilo Frankenstein, através de uma colagem de distintas partes das mais diversas histórias. O resultado, como se poderia antever, nem sempre é uniforme – aliás, está longe disso. Se por um lado os dramas familiares da menina parecem não fazer muito sentido – o pai é apenas respeitado, ou é também amoroso? Por mais que se explique, a ausência materna é dramaticamente justificada? – há ainda desenlaces da sua rotina que custam a se encaixar. Em relação ao garoto, o que o passado dele tem a dizer sobre seu comportamento atual? E o mais importante: por estarem falando, basicamente, sobre dois estilos de dança, não seriam eles complementares? Ou são, de fato, excludentes, como os diálogos em cena tanto se esforçam para dar a impressão?
Apostando mais na transformação feminina, uma vez que à medida em que se encontra nos movimentos mais livres ela vai adquirindo também uma maior certeza a respeito do que realmente ambiciosa para sua vida, Na Batida do Coração ao mesmo tempo relega o par masculino a uma posição de mero coadjuvante, que parece estar sempre à disposição, de acordo com as mudanças de humores da protagonista. Esse é um dos motivos, dentre tantos outros, que até mesmo a relação dos dois se torna de difícil aceitação, seja pela falta de entrosamento, pelos escassos momentos de conexão e pelos diálogos rasos que se esforçam em levar adiante. Como geralmente acontece nesse tipo de situação, fica impresso na tela que ambos são melhores nas sequências de dança – alguns chegam a ser impressionantes, principalmente os iniciais – do que quando precisam atuar. Mas como de nada adianta o espetáculo no palco se há pouco envolvimento com aqueles responsáveis pelos passos dados, o conjunto acaba sendo condenado a um vazio sem volta. Por mais bonito que possa parecer enquanto a música toca, assim que essa acaba e os aplausos se dão, junto com eles vem o rápido esquecimento e uma justa irrelevância.
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