Crítica
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Sinopse
Tendo como pano de fundo a ensolarada Sicília, na Itália, surge um amor de verão entre dois jovens. Porém, um contratempo faz esse romance se transformar numa paixão repleta de interdições e dificuldades.
Crítica
Histórias de amor entre adolescentes que precisam lidar com o destino trágico de ao menos um dos dois são tão comuns, tanto no cinema quanto na literatura, que chegam quase a formar um subgênero à parte. Desde que William Shakespeare colocou dois jovens apaixonados em cena e deixou que ambos, literalmente, morressem de amor em Romeu e Julieta, as mais diversas variantes dessa fórmula têm inundado tanto as páginas literárias quanto inúmeras manifestações audiovisuais, seja no cinema, televisão e, como tem se tornado cada vez mais comum, também no streaming. Pois é exatamente isso que o espectador irá encontrar em Na Mesma Onda, produção original da Netflix filmada na Itália e que se contenta em apenas transitar por cenários paradisíacos e desfilar a mesma cartilha há muito conhecida no formato: menino e menina se encantam um pelo outro, logo um deles fica doente e o outro se compromete em acompanhar a sofrência alheia até o final. Além de trilhar caminhos bastante conhecidos, também o faz com absurda previsibilidade.
Sara (Elvira Camarrone) e Lorenzo (Roberto Christian) se conhecem durante uma colônia de férias. Estão em uma ilha no sul da Itália, e ambos sonham em se tornarem velejadores. Ele já pratica para competições, enquanto que ela afirma amar o esporte, mas não vê sentido nas disputas com colegas. Na verdade, o que logo o espectador irá perceber, é que o argumento da garota nada mais é do que uma desculpa: seus músculos estão cada vez mais fracos, consequência da distrofia muscular que vem enfrentando há no mínimo três anos, e cujo impacto no seu dia a dia tem se tornado progressivamente mais forte. É por isso que, de início, resiste às investidas do rapaz, ao mesmo tempo em que topa participar de apostas tolas – quem consegue pular a fogueira? – mais para provar a si mesma, do que aos outros, que continua capaz de tanto. Mas não é por decidir ignorar o que está se sucedendo com seu corpo que seu estado não continuará se deteriorando.
Tanto é que chegará um momento em que não poderá mais disfarçar as constantes câimbras e dores, principalmente nas pernas. Ao ser levada novamente ao hospital, é informada que precisa intensificar seu tratamento com sessões de hidroterapia e novos medicamentos. Tudo o que tentava evitar, ainda mais enquanto estava desfrutando dos prazeres e excitamentos proporcionados pela descoberta do primeiro amor. Se o desenrolar da trama é por demais ingênuo, o problema maior não é nem o que está sendo contado, mas a forma escolhida para tal. Essa responsabilidade recai sobre os ombros do diretor e roteirista Massimiliano Camaiti, que revela uma total falta de familiaridade com o universo no qual se propõe mergulhar. Não há química entre os protagonistas, a progressão da doença se dá sem suspense e mesmo o momento de maior aflição, uma regata da qual os dois participam mesmo sem as condições ideais para tanto, termina por se desenrolar sem muitos segredos ou mistérios.
Ao optar por focar suas atenções em Sara e Lorenzo, Camaiti revela desprezo ainda por personagens que poderiam contribuir com o enredo, permitindo a esses apenas sugerir possibilidades que nunca chegam a ser desenvolvidas. Como a separação dos pais dela, que não é explicada, ou a ausência do pai – ele se desculpa numa passagem, sem que a audiência compreenda exatamente o porquê – assim como a briga com a melhor amiga – resolvida sem muito alarde. Do lado dele, há tanto o drama vivido pelo colega de treinamentos – mais um estereótipo do que uma presença relevante – como o retorno da tia para a casa da família, outro elemento que também não ganha maiores repercussões. Ao mesmo tempo em que tais caminhos são desprezados, a narrativa segue por trajetos seguros e redundantes, apenas reforçando uma ligação que é mais proclamada do que percebida.
Assim como o próprio título é aproveitador – afinal, por mais que o ambiente marinho tenha importância na história, ele nunca chega a estar no centro dos acontecimentos – Na Mesma Onda também tenta de afiliar a uma corrente recente que vai de Nicholas Parks a John Green, com um suposto toque local. Essa percepção, no entanto, fica restrita aos cenários – mal explorados – e o idioma empregado, que não consegue resistir nem até à trilha sonora – toda composta por canções populares em inglês. É o tal processo de descaracterização – ou, como preferem, universalização – da gigante plataforma, que na ânsia de alcançar a todos, elimina grande parte do apelo ou gosto particular. Assim como Lorenzo, que passa com a mesma expressão de bobo alegre do início ao fim, independente da notícia que receba, assim também é esse filme, que se esforça em propor algo diferente, mas tudo que consegue é entregar o mesmo de sempre.
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