Crítica
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Sinopse
Logo após formar-se, Christopher McCandless decide desbravar os Estados Unidos em busca de liberdade. Durante essa jornada solitária, ele conhece várias pessoas que ajudam a mudar sua perspectiva de vida.
Crítica
Desde muito cedo descobri que minhas grandes paixões eram o cinema e a música. Nunca tive dúvidas, trabalharia com o meio artístico - era só uma questão de tempo. Bem, e esse passou, me desviei de minha rota e acabei indo parar no mercado da moda, tão cruel quanto o do cinema, só que extremamente longe de qualquer objetivo que eu poderia ter traçado pra minha vida. Nunca havia me interessado por moda e nunca tinha pensado que seria justamente esse mesmo mercado que me reaproximaria da minha grande paixão. Bem, não quero devanear muito. Escrevo isso pois posso dizer que dentre tantas coisas que sei, uma das poucas que realmente entendo é cinema, e ao longo de todos esses meus anos aprendi que um bom filme é aquele que te faz apaixonar, seja por uma personagem, pelo roteiro ou toda uma jornada. O bom filme te envolve em níveis tão íntimos que você sem perceber está no lugar do personagem. E essa semana assisti a um bom exemplar desse tipo de filme.
Na natureza selvagem é o perfeito exemplar de o que seria “um bom filme”. É um dos passos mais corajosos e inteligentes já dados por Sean Penn, que se joga pra detrás das câmeras para dirigir e escrever o roteiro; não poderia ter se saído melhor. O filme recebeu duas indicações ao Oscar e acumulou algumas boas dezenas de prêmios ao redor do planeta. Também pudera: ele faz lembrar aquela fase em que você está mais perdido que achado, sabe? Aquela fase da vida em que tudo que você precisa é apertar o botão de “reset” e começar de novo. E se isso de fato fosse possível? A vida de Christopher McCandless não cabia mais dentro dele mesmo e, talvez, se ele fosse como tantos outros que vagam pelo mundo, tivesse tentado suicídio ou tomado muito antidepressivo. Mas era um otimista, apaixonado pela vida e por tudo que o mundo poderia oferecer, sem cobranças, sem dramas. Seu otimismo fez com que deixasse sua desordenada família e sua vida perfeitamente planejada pra trás para embarcar em uma aventura na vida selvagem. Segundo ele, era como deveria de fato ser a própria vida. Essa película não cansa. É uma aventura bem contada, um passeio por uma vida tão inquieta e ao mesmo tempo serena, de um menino que abraçou o mundo sem se dar conta de que seus braços não eram assim tão longos. Christopher queimou seu dinheiro e quebrou os cartões de créditos, abandonou sua identidade para se transformar em Alex SuperTramp (ou supervagabundo), e foi como seu alter-ego que fez toda sua jornada, até chegar no coração do Alaska.
Há muito tempo não via um filme tão bonito, mas não apenas por sua história. Esse é um filme lindo em todos os sentidos. Sua fotografia, assim como toda a paisagem pela qual Supertramp percorre, são um personagem à parte, poesia pura; montanhas, rios, mar, desertos, florestas e planícies cobertos pelo mais azul dos céus criam vida e saem da tela para dentro de nossas vidas. A trilha sonora dá tom envolvente, cada acorde criando uma nova sensação e uma nova atmosfera onde a firme direção, coroada com um roteiro sensível e rico em detalhes, conduzem Emile Hirsch, um dos mais brilhantes atores da nova geração, e todo o grande elenco, para o ponto de sintonia necessário para empregar verossimilhança ao material. Este filme consegue nos colocar no lugar que costumo chamar de paraíso cinematográfico, aquele lugar que existe de verdade em nosso planetinha, mas só parece possível dentro das telas de cinema. Supertramp (ou Emile Hirsch, a confusão se torna meio inevitável tal a perfeição do ator), sabe conduzir de forma que sentimos e vibramos junto com ele, e cada novo destino encontrado é uma vastidão de possibilidades. Cada pessoa que passa no caminho de Alex é uma grande lição de vida e cada lugar por onde ele passa não permanece o mesmo. Ele é mais uma daquelas pessoas que tem o dom de alterar tudo e todos que cruzam seu caminho, só que sem notar que na verdade o que precisa ser alterado, acima de tudo, é a própria vida.
Com isso tudo dito, Na Natureza Selvagem pode acabar parecendo muito mais profundo e doloroso do que de fato é. Não se engane, esse é um filme de fácil digestão, agradável aos sentidos e que vai te ensinar algumas coisas sobre a vida. O que torna toda experiência ainda mais proveitosa é simplesmente você ter a curiosidade pra saber o que vai acontecer na próxima curva. É como se você mesmo estivesse se aventurando. Afinal, quem nunca teve vontade de embarcar em uma jornada pelo desconhecido? Na natureza selvagem mexe com os nossos sentidos, e é assim que quase todos deveriam ser. Uma pena não termos mais diretores e roteiristas tão corajosos, que abrem mão do comercial pra nos levar em uma jornada através do ponto de vista da terceira pessoa. Esse é um filme triste que te enche de esperança, é um filme que tem um final inevitável mas que não incomoda. Aliás, aqui nada incomoda, pois estamos “na natureza selvagem”.
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