Crítica
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Sinopse
Zeca sobreviveu a uma chacina; Gerson nunca viu seu pai fora das grades; Mônica é diferente de todos da família; Junior é fascinado por consertos de televisores; Joana sonha com a mãe que nunca conheceu. Todos descobrem o cinema como um caminho para desafiar seus destinos.
Crítica
Depois de dois documentários com boa repercussão, Coração Vagabundo (2008) e Quebrando o Tabu (2011), Fernando Grostein realiza sua estreia na ficção com o longa Na Quebrada. Passado na periferia de São Paulo – local ao qual título faz referência – o filme retrata as diversas experiência de jovens de baixa renda. Cada personagem levado à tela carrega uma marca das crueldades urbanas do país, seja a das chacinas ou a do onipresente mundo do tráfico de drogas.
Violência, pobreza, vícios diversos e abandono são os motores das histórias inspiradas em fatos reais que preenchem o filme. Para contrabalançar o peso dos assuntos em pauta, Grostein usa dois recursos. No plano técnico, foge do realismo esperado, utilizado em várias produções recentes, como Cidade de Deus (2002) e Sonhos Roubados (2009), e aposta em uma espécie de realidade visualmente cenografada, em que a opção por trabalhar o contraste e a densidade das cores possibilita filtrar o impacto das ações. Do ponto de vista narrativo, a escolha para amenizar esteve em opor às dificuldades os sonhos e a superação dos personagens. A trajetória de Junior (Jean Amorim), jovem que quer consertar eletrônicos e acaba por explodi-los, é um bom exemplo do flerte acertado com o humor e a leveza.
Ao funcionar como vínculo entre as histórias, o Instituto Criar, ONG que foca no desenvolvimento profissional e social de jovens por meio do audiovisual, aparece como alavanca para superar o passado e permitir um presente diferente. Em um país com uma realidade social árida, desassistida pelo poder público, todo o esforço nesse sentido deve ser levado em consideração.
Enquanto drama social, Na Quebrada está tomado por boas intenções. Ainda que as dificuldades apresentadas na ficção não surpreendam aquele que acompanha vez por outra o noticiário, a validade da investida não pode ser negada. O que conta contra o projeto de Grostein é o resultado enquanto cinema, pois boas intenções não bastam para realizar um filme – ou seríamos mais moralistas do que espectadores de cinema, imagino.
No que deveria ser essencial – a linguagem cinematográfica – Na Quebrada deixa a desejar do começo ao fim. Os momentos de bom cinema são difíceis de serem encontrados mesmo quando buscados à lupa. Assinado pelo diretor junto a Marcello Vindicatto e Andre Finotti, o roteiro se ressente de uma estrutura dramática sólida, em que as situações se desenvolvam de maneira menos rápida e superficial do que as encontramos. É, aliás, a montagem do mesmo Finotti que dá ao filme uma velocidade descompassada com a dramaturgia. Com cortes bruscos – pensemos nas cenas de luta, em que nos chama atenção mais a confusão de como elas se dão do que o conteúdo – a intensidade visual vaga solitária, em um envolvimento com o público que somente pode ser atingido por ecoar a realidade, e não pelo trabalho – pouco – competente de Grostein.
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