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Sinopse

O presidente de uma empresa de sucesso comete suicídio repentinamente. A junta dos diretores da companhia decide colocar um idiota na presidência para que as ações despenquem e assim possa comprá-las. O ingênuo e idealista Norville Barnes parece o perfeito "testa de ferro" para o plano.  

Crítica

Logo após se consagrarem com a Palma de Ouro no Festival de Cannes por Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991), os irmãos Joel Ethan Coen foram convidados a voltar ao evento francês, porém dessa vez com seu trabalho seguinte na condição de apresentação especial na abertura da programação. Qual não foi a surpresa de todos ao se depararem com Na Roda da Fortuna, uma comédia de humor negro que em quase nada se assemelhava ao que a dupla havia feito anteriormente. E ainda que o choque tenha provocado uma rejeição quase imediata, este é um trabalho inspiradíssimo que só tem crescido com o passar do tempo, justificando uma merecida revisão que serve, em última instância, para colocá-lo entre os longas mais divertidos e menos pretensiosos de uma filmografia repleta de grandes obras.

Narrado em tom de fábula e com um visual impressionante que deve ter deixado Tim Burton com inveja – é muito fácil imaginar o Batman de Michael Keaton circulando pelos mesmos cenários – Na Roda da Fortuna parte de um arquétipo narrativo bastante comum, porém aqui empregado de forma simplesmente brilhante. Após um prólogo nos últimos minutos do dia 31 de dezembro de 1958 em que nos deparamos com Norville Barnes (Tim Robbins, ingenuamente apropriado) prestes a saltar do 44° andar do edifício Hudsucker, voltamos no tempo em aproximadamente um mês para descobrir o que se sucedeu para que tal situação fosse possível. E o que vemos é ainda mais insólito: na mesma sala no topo do prédio, após um relato apontando a excelente saúde financeira da empresa, o presidente Waring Hudsucker (Charles Durning) simplesmente sobe na mesa e, com um sorriso estampado no rosto, percorre-a correndo em direção à janela, até saltar por ela rumo à morte inevitável, quarenta e quatro andares abaixo. E será o momento do homem certo, no momento errado – ou seria o contrário?

Para se apoderar do controle da empresa, Sidney J. Mussburger (Paul Newman, aproveitando cada minuto com visível prazer ao criar um tipo desprezível e irresistível) escolhe o novato Barnes para assumir a presidência, acreditando que com isso as ações disponíveis no mercado percam seu valor, tornando-as desinteressante aos demais e possíveis de serem adquiridas pelo preço mais baixo possível. Isso feito, é só demitir o pateta e recolocar as coisas nos eixos. Mas com a intromissão de uma decidida repórter (Jennifer Jason Leigh) e uma sacada de gênio que ninguém esperava, o desenrolar dos acontecimentos se dará um pouco diferente do esperado, indo até o momento inicial já presenciado. Conduzido de forma assumidamente farsesca e apostando no absurdo – tanto nas interpretações do elenco quanto nos episódios envolvendo os personagens – Na Roda da Fortuna mostra, da forma mais simples possível, como até o menos relevante dos homens pode estar a um passo do sucesso, bastando para isso estar preparado para o momento certo de agir. E quando o impossível interrompe o desenrolar dos fatos de modo inesperado, fazendo uso de uma situação deus ex machina tão improvável quanto hilária, isso só não se torna ridículo, pois o que fora mostrado até então preparara o terreno para isso. Da emergência da Carta Azul à leitura de Anna Karenina pela secretária à espera de uma definição sobre o futuro do bambolê, cada elemento disposto na tela tem sua função específica, e a compreensão deles – ou de sua maioria, ao menos – torna o processo de fruição dessa obra ainda mais prazeroso.

Os Coen sabem disso, e conduzem com o mesmo carinho e atenção de sempre os tipos apresentados, elevando a perspicácia do público a um novo nível de exigência. Cinema também é aprendizado, e uma óbvia evidência da genialidade alheia está no fato dela não ser percebida de imediato, ao menos não pela maioria. Exatamente o que aconteceu em Na Roda da Fortuna, filme também conhecido por ter sido o maior fracasso comercial de toda a carreira dos diretores. Um feito que, neste caso, só conta a favor.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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