Crítica
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Sinopse
O cenário aterrador da Guerra da Bósnia abriga laços afetivos improváveis. Defensor do lado sérvio, o soldado Danijel se afeiçoa inesperadamente a Ajla, bósnia que se torna sua prisioneira num campo de concentração.
Crítica
Em seu primeiro trabalho como roteirista e diretora de um longa-metragem de ficção, a atriz Angelina Jolie não quis saber de futilidades. Apostou em uma temática espinhosa, a Guerra da Bósnia, e resolveu apontar sua câmera para um romance improvável que, em uma espécie de microcosmo, representaria o conflito duradouro entre muçulmanos e sérvios. Retrato duro e sem concessões, Na Terra de Amor e Ódio tem predicados suficientes para garantir uma conferida, com algumas boas escolhas de mise en scène e um elenco interessante. Mas alguns pecadilhos acabam atrapalhando o resultado final.
Na trama, Ajla (Zana Marjanovic, de Quebrado, 2012) e Danijel (Goran Kostic, de Homens e Deuses, 2010) se reencontram anos depois de terem um rápido envolvimento amoroso. Ela, muçulmana, pintora, prisioneira do exército sérvio. Ele, militar, filho do membro de mais alta patente do exército, respeitado pelos seus pares. Ao ver Ajla no cativeiro, junto de outras mulheres, Danijel passa a protegê-la dos abusos de seus companheiros, enquanto continua a seguir suas ordens. Uma história de amor nasce entre os dois, que pode acabar de forma tão trágica quanto a guerra em que vivem. É notável que Angelina Jolie escolha uma temática tão séria para estrear como cineasta. O conflito entre sérvios e muçulmanos que deflagrou, em 1992, a Guerra da Bósnia, merece receber uma luz sobre aqueles fatos e a vontade da atriz em fazer isso com um longa-metragem engajado como Na Terra de Amor e Ódio é admirável. No entanto, alguns cuidados deveriam ter sido tomados. Uma rápida pesquisa na internet já aponta que os figurinos utilizados no longa-metragem são completamente errôneos, não respeitando época ou padrão do que era usado pelo exército sérvio, por exemplo. Lógico que, para uma plateia ocidental que não teve contato direto com o conflito e que acompanhou tudo apenas pela televisão, esse detalhe pode passar despercebido (tanto que foi necessária uma pesquisa para tomar conhecimento deste equívoco). Isso, no entanto, não abstém a cineasta do descuido. Afinal de contas, Na Terra de Amor e Ódio é um trabalho que busca ser um retrato fidedigno da guerra ou apenas uma ficção para americano ver?
Outro ponto que incomoda na versão exibida internacionalmente são os diálogos dublados em inglês. Mesmo escolhendo atores locais, Jolie os coloca a interpretarem em uma língua estrangeira o que, visivelmente, deixa-os completamente desconfortáveis. Ainda que Zana Marjanovic mereça louros pela sua entrega ao papel, certamente sua performance se beneficiaria muito caso pudesse atuar em sua língua natal. Goran Kostic se recente por ganhar um personagem tão dúbio que chega a ser incoerente. Algumas ações de Danijel, que chegam a beirar à loucura, e o desfecho, ainda que impressione pela surpresa, soam desequilibrados demais. Como se a realizadora buscasse o choque pelo choque. Com algumas belas escolhas de enquadramento – com destaque para cena em que vemos Ajla deitada em sua cama no canto inferior da tela, enquanto vemos uma refém ser arrastada para fora do quarto e a chegada de uma misteriosa pessoa no canto superior – Angelina Jolie demonstra ter olho para a profissão, ainda que tropece em alguns detalhes da direção e, muito mais, em pontos do roteiro. Um exemplo básico disso é a inclusão da irmã de Ajla, que ainda que tenha algum desenvolvimento dramático, é esquecida diversas vezes pela narrativa. Isso sem mencionar outros personagens que aparecem e desaparecem sem nunca terem seu propósito esclarecido.
Ganhando pontos pela coragem de algumas cenas, mas perdendo outros quando relega o filme à deriva, Na Terra de Amor e Ódio é uma estreia que deixa certa margem de curiosidade no espectador: o que Jolie fará no futuro com esta nova carreira que se abre? Dedicação e dinheiro para embarcar em outras iniciativas como essa ela certamente tem. É esperar e ver.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 6 |
Daniel Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4.5 |
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