Nada a Perder
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Alexandre Avancini
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Nada a Perder: Contra Tudo. Por Todos.
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Os episódios mais marcantes da vida de Edir Macedo. A história do país durante a segunda metade do século XX é pano de fundo para a trajetória do líder religioso, sempre cercada de momentos difíceis, polêmicos e controversos, como sua prisão em 1992, em São Paulo.
Crítica
É curioso estarmos hoje diante de um filme como Nada a Perder, cinebiografia de um homem que ficou conhecido por, entre tantas outras coisas, fechar cinemas! É por este e muitos outros motivos que se torna uma tarefa particularmente difícil avaliar de forma distanciada o longa que se propõe a narrar a história de vida de Edir Macedo, um contador que se auto-intitulou ‘bispo’ ao fundar a Igreja Universal do Reino de Deus, uma das maiores organizações religiosas do Brasil. Se enquanto peça publicitária, manifesto político ou panfleto catequizador a produção possui qualidades pífias e até mesmo condenáveis sob um olhar mais amplo, estes são elementos que fogem à discussão cinematográfica – que é, em ultima instância, a qual devemos nos propor neste espaço. E ainda que o seu valor esteja estampado na tela – é, afinal, um dos maiores orçamentos já vistos na cinematografia nacional – ele próprio se sabota ao optar por recursos simplistas, minimizando qualquer característica artística em prol da eficiência de seu discurso – e, principalmente, a quem ele se dirige.
A primeira questão a ser levantada é qual a razão de ser de Nada a Perder? Conquistar novos fiéis? Difícil, ainda mais em uma realidade cada vez mais polarizada como a atual. É certo que seus admiradores correrão às salas de exibição com a mesma intensidade em que seus detratores se manterão afastados – ninguém irá mudar de ideia por causa desse filme, convenhamos. A razão, portanto, parece ser única e exclusivamente pregar aos já convertidos, fazendo uso dos mesmos recursos que tanto os impressionam nos cultos que frequentam, sejam em assembleias espalhadas por todo o país ou nas pregações televisivas que dominam as programações noturnas. Então, dá-lhe uma trilha sonora exagerada e ininterrupta, que dita toda e qualquer reação que o espectador deve ter frente ao que é exibido na tela, como se esse não fosse capaz de decidir por conta própria – em determinados momentos, a impressão é de se estar assistindo a um super-herói da Marvel em ação; uma fotografia manipuladora, que abusa de clichês – câmeras lentas, uso de gruas – e enquadramentos que visam mais do que apenas construir uma boa narrativa – perceba a imensa quantidade de tomadas de baixo para cima, como que a endeusar o fotografado em sua missão ‘divina’; e uma montagem que alterna entre a irresponsável – pois ignora fatos e se atém a outros de modo quase aleatório – e a baseada em videoclipes, acelerando o desenrolar dos fatos de tempos em tempos, preocupando-se mais com o perfil dos personagens do que com a atenção dos espectadores.
Sim, pois é igualmente inglória qualquer tentativa de se ater a outra figura em cena além da do protagonista. Esse é um filme não apenas sobre Edir Macedo, mas também dele, oriundo de sua figura e voltado quase que exclusivamente a ele, e a mais ninguém. Atores de renome, como Marcello Airoldi (difícil afirmar qual o maior constrangimento que enfrenta, se a sequência que ridiculariza religiões de matrizes africanas ou a que tenta envergar uma maquiagem canhestra prestes a se desmanchar) ou Nina de Pádua entram e saem da trama sem maiores repercussões, enquanto que outros, como Eduardo Galvão (o padre vilanesco que deseja o fim do inimigo), Dalton Vigh (o juiz sem autoridade) ou André Gonçalves (como o colega, e, depois, antagonista, R. R. Soares) mal conseguem ir além do estereótipo forçado. Petrônio Gontijo, no papel principal, se esforça para carregar nas costas o peso do mundo, mas a ausência de uma direção mais rígida o deixa literalmente perdido, exagerando quando se pedia suavidade e permanecendo apático em outras passagens de maior tensão – como a prisão, logo no início, em que um exército da Polícia Federal o leva como que a um passeio familiar.
Nada a Perder tem como subtítulo Contra Tudo. Por Todos e, apesar das duas sentenças, o roteiro de Emílio Boechat (Lascados, 2014) e do norte-americano Stephen Lindsey (Sempre ao seu Lado, 2009) poderia se resumir à primeira. Macedo é retratado como um eterno perseguido – da infância, vítima de bullying, aos colegas de trabalho, relações familiares e até no auge do seu sucesso, quando passa a ser perseguido, de acordo com a sua visão, de forma gratuita e discriminatória. E se hoje é bem-sucedido naquilo a que se dedicou, o resultado é mais creditado a uma intervenção divina do que a qualquer outra forma de mérito, justa ou não. A constante insatisfação com qualquer outra forma de autoridade religiosa – o pai, o padre, o cunhado – é repetidamente deixada de lado por uma nova motivação. Outros movimentos relevantes, como o drama familiar por causa da filha que nasce com lábio leporino, ou o início de sua presença midiática, surgida após ouvir um reclame no rádio, são abordados de modo por demais superficial. São apenas etapas a serem superadas, e não momentos dignos de atenção.
Edir Macedo é um homem que levou sua vida envolto por polêmicas. Aquele que for assistir a Nada a Perder em busca de um olhar a respeito dessas situações mais controversas, no entanto, irá se decepcionar. Totalmente chapa branca – afinal, não se trata apenas de uma versão autorizada de sua história, mas encomendada e paga por ele, que oferece apenas o que lhe convém, sem nenhuma forma de oposição – é um filme que, justamente por ser demais abrangente, não se aprofunda em particularmente nada. E isto que essa é só a primeira parte – um teaser da sequência é exibido antes dos créditos finais, e os mais entusiasmados chegam a falar em uma trilogia. Da infância no interior, repleta de limitações financeiras e religiosas, ao desconforto que sente com as ‘liberdades’ da cidade grande, decepcionando-se com namoradas e amigos, o protagonista é retratado sempre como um rebelde, e a falta de nuances nesta figura que lhe oferecem termina por torná-lo monocórdio. O discurso é o mesmo, do início ao fim. Diante de qualquer dificuldade – a falta de respostas às suas indagações, o abandono do emprego para se dedicar à pregação, a perseguição da Igreja Católica, a compra da Rede Record – sua solução é sempre a mesma: rezar. Por sua vez, situações que deveriam servir de clímax – como o grande encontro no Maracanã – são logo descartadas, suplantadas por uma emergência desnecessária. Menos, certamente, seria mais.
A frase “baseado em uma história real” parece servir como salvo-conduto para se propor os maiores absurdos, já que, não importando o espanto gerado, tudo, em tese, poderia ser desculpado, “pois foi assim na vida real”. O que o diretor Alexandre Avancini (o mesmo da infame versão cinematográfica de Os Dez Mandamentos: O Filme, 2016) parece desconhecer, no entanto, é que uma vez transformado em ficção, qualquer episódio precisa se tornar minimamente crível. Algo que não acontece na maior parte de Nada a Perder. Essa leitura, por outro lado, deverá permanecer reservada aos mais críticos e desconfiados. Porém, se levarmos em conta que esses, em sua esmagadora maioria, não serão confrontados com o que esse filme tem a dizer, voltamos ao ponto inicial dessa conversa: àqueles a quem se dirige, não seria esse, portanto, um filme bem-sucedido? Por maior que seja a boa vontade do espectador, difícil oferecer uma resposta positiva a essa pergunta, seja pelos diversos motivos até então apontados, ou ainda por tantos outros também ao alcance de questionamentos, como a fraca direção de atores, os diálogos expositivos ou o enredo desprovido de um estudo narrativo mais preciso. Seria apenas ingênuo, ou até mesmo equivocado, não fossem suas reais intenções. E frente a essas, permanecer indiferente é quase que compactuar com tamanha desfaçatez.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 2 |
Wallace Andrioli | 2 |
MÉDIA | 2 |
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