Crítica
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Sinopse
Orna, além de cuidar da casa e dos filhos pequenos, está passando por dificuldades financeiras, com o restaurante do marido quase sem dar lucro. Quando consegue um emprego de assistente em uma luxuosa imobiliária, parece que sua sorte vai mudar, mas conforme cresce dentro da empresa, se torna alvo de assédio de seu chefe, Benny, que efetua desde comentários sobre sua roupa e cabelo até agressivas sugestões.
Crítica
Orna (Liron Ben-Shlush, indicada como Melhor Atriz à premiação da Academia de Cinema de Israel por este trabalho) é uma jovem determinada. Casada com um marido apaixonado (Oshri Cohen, indicado como Melhor Ator Coadjuvante na mesma cerimônia) e mãe de duas crianças, não é daquelas que percebe os problemas familiares de braços cruzados. Muito pelo contrário. Ao se dar conta que o companheiro tem enfrentado dificuldades no restaurante que comanda, ela, literalmente, vai à luta. Não é fácil ser mulher em um mercado de trabalho comandado, quase que integralmente, por homens. E é justamente isso que a protagonista de Não Mexa Com Ela irá descobrir logo na primeira oportunidade que lhe surgir. No entanto, este não é um filme sobre o assédio, e, sim, sobre como reagir a ele. Um pequeno detalhe que acaba fazendo toda a diferença.
Antes de mais nada, é bom deixar claro que o título nacional – Não Mexa Com Ela – pode passar uma impressão equivocada. Afinal, não se trata da história de uma mulher que estava na sua e, ao ser provocada, parte para a vingança, ao melhor estilo Charles Bronson de saias. O que se vê é justamente o oposto, aliás. É sobre resistência e perspicácia. Orna tem um comportamento que beira ao idealizado por Gandhi. Tudo o que deseja é evitar conflitos. É quase ingênua em sua fé nas pessoas. Confia cegamente no esposo, e não lhe dá indício para que dela possa desconfiar. E quando pressionada, prefere acreditar na quase utópica capacidade humana de mudança, ao invés de ver no erro a ponta de um iceberg, uma amostra de que algo ainda pior poderá surgir. Ela tem esperança: na família, nos colegas de trabalho, na sociedade, em si mesma. E não deixará que um deslize de outro se interponha na sua busca por uma vida melhor.
Quando é chamada para trabalhar para Benny (Menashe Noy, de O Julgamento de Viviane Amsalem, 2014), Orna interpreta a oferta como o momento de virada. Corretora de imóveis, vislumbra um mercado em expansão à sua frente. Vai ser bom para ela, para o marido e toda a família. Portanto, quando o chefe lhe recomenda soltar o cabelo – “você é muito bonita para deixá-lo preso” – ou quando uma indireta a faz comprar novas roupas para se ‘apresentar’ no ambiente profissional, não vê esses pequenos atos como um movimento de opressão. Naquele ponto, são apenas cortesias, aparentemente inocentes. Mas quando, tarde da noite de um dia bastante atribulado, o patrão dá um passo mais ousado, tentando roubar-lhe um beijo, o constrangimento surge de forma peremptória entre os dois. Ela refusa a atenção. Não lhe dá abertura. Ao se desvencilhar do homem, pega suas coisas e vai para casa. Algo aconteceu, mas está decidida a não fazer grande caso a respeito. Não conversa com o homem que dorme ao seu lado, e no dia seguinte age como se precisasse dar explicações – ainda que não tenha sido ela a incorrer em falha.
Aí o filme de Michal Aviad – que assumiu a direção e o roteiro – se mostra alinhado a ativismos como o #MeToo, que vem tomando conta dos debates públicos nas nações ocidentais, porém optando por outros caminhos. Orna não irá fazer uma denúncia. Entende que um escândalo, naquele momento, não fará bem a ninguém. Está grata pela função que desempenha, e se reconhece afortunada por desfrutar de uma posição de prestígio e confiança enquanto mulher que trabalha – aliás, esse é o nome que o longa recebeu internacionalmente, ‘Working Woman’. Além do mais, se fala aqui de uma realidade distinta daquela vista nesse lado do planeta. Por mais que a ação se passe em Israel, país que anseia diariamente por se espelhar nos modelos de comportamento capitalistas, não se pode ignorar o fato de estar localizado em pleno Oriente Médio. Mulheres como Orna ainda são exceções. Um bom exemplo está na passagem em que tenta se abrir com a mãe e confidenciar o que lhe aconteceu – e tudo o que ouve como resposta é: “esqueça isso e siga em frente”.
Não Mexa Com Ela, apesar do batismo um tanto infeliz recebido no Brasil, é uma obra de qualidades discretas, que merece ser analisada com cuidado, através de uma observação detalhada. É o tipo de estrutura que os mais apressados poderão acusar de pouco dizer, quando, na verdade, expõe muito através do mínimo que lhe é oferecido. Não é uma narrativa de grandes e inesperadas reviravoltas. Por outro lado, busca mostrar como a condição feminina se revela forte justamente por conseguir se dobrar sem, no entanto, quebrar com o esforço. A estratégia vem da inteligência, em reconhecer o momento de avançar e quando é preciso se conter, sem ímpetos ou rompantes que ficariam bonitos em uma lógica hollywoodiana, mas que se distanciam radicalmente do que é visto todos os dias, seja aqui ou do outro lado do mundo, nas rotinas de milhares de mulheres. Muitos, afinal, insistem em seguir mexendo com elas. Mas é bom que estejam cientes para as respostas que lhes serão devidas. Justiça, enfim, seja explícita ou não.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
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