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Sinopse

A vida do escritor Paulo Coelho, um dos mais conhecidos autores latino-americanos do mundo. A juventude na companhia do amigo Raul Seixas, as marcas deixadas pela Ditadura Militar e o sucesso que viria a torna-lo célebre.

Crítica

Partiu da roteirista Carolina Kotscho, responsável por sucessos como 2 Filhos de Francisco (2005) e Flores Raras (2013), a ideia de se realizar uma cinebiografia sobre o escritor brasileiro mais vendido de todos os tempos, Paulo Coelho. E o resultado é Não Pare na Pista, um filme que tenta abraçar todas as facetas desse múltiplo artista, porém sem atingir um resultado equilibrado. Se por um lado há méritos inegáveis e até mesmo estimulantes, por outro há uma certa indecisão narrativa que permeia o desenrolar da obra, fazendo deste um filme que deverá agradar aos iniciados, mas talvez não encontre a repercussão necessária entre aqueles que não conhecem – ou não apreciam – o biografado e seu trabalho. E da mesma forma como os que o consagraram são inúmeros, estes que o atacam também representam uma parcela numerosa do público.

Os problemas do filme do diretor estreante Daniel Augusto (que até então havia feito apenas documentários, curtas-metragens e projetos para televisão) começam em sua própria estrutura. Ao invés de investir em um período específico da vida de Paulo Coelho e, a partir daí, traçar um paralelo sobre toda a sua trajetória, o cineasta decidiu ser mais ousado, percorrendo desde a juventude do protagonista até os dias atuais, já um homem com quase 70 anos. Porém, ao invés de traçar uma linha sequencial dos eventos mais importantes desta caminhada, optou-se por uma construção fora de ordem, repleta de flashbacks e mudanças temporais que, infelizmente, não se justificam. Num instante o personagem é adolescente, no seguinte está com seus cabelos brancos, para logo após aparecer em idade adulta. Aliado a isso, a cada mudança há a inclusão de letreiros na tela para instruir a audiência do período em questão, o que não só subestima a inteligência do espectador pela exaustiva repetição, como se torna irrelevante dentro de um contexto maior.

Essa opção se torna, no entanto, algo menor diante da grandeza das atuações do elenco principal. Se de Julio Andrade – no papel de Paulo Coelho quando adulto e na velhice – espera-se nada menos do que sua excelência habitual, entregando um desempenho à altura do visto como Gonzaguinha em Gonzaga: De Pai pra Filho (2012), a surpresa é perceber que o talento corre no sangue da família: seu irmão menor, Ravel Andrade, cumpre com louvor as expectativas ao aparecer como o protagonista em sua versão adolescente, representando bem a rebeldia e os conflitos familiares que marcaram essa fase. Também durante este período chama atenção a caracterização e as atuações contidas, porém na medida exata, de Enrique Diaz e de Fabiula Nascimento como os pais dele. A cena em que Diaz está dirigindo sozinho à noite e escuta uma canção do filho no rádio, obviamente endereçada a ele, é de cortar o coração e muito bem realizada.

O roteiro de Não Pare na Pista é bastante econômico em cada uma das fases da vida do artista – justamente pela necessidade de ser abrangente, aprofunda-se pouco em cada uma delas. A impressão é de buscar as origens do sucesso que hoje o escritor desfruta, porém sem apontar para uma resposta definitiva e limitadora – o que é um bom sinal, diga-se de passagem.  A juventude turbulenta, os anos internado em instituições clínicas, o ocaso profissional, a carreira na música e a jornada mística pelo Caminho de Santiago de Compostela oferecem pistas do homem que Paulo Coelho é hoje, deixando, no entanto, que cada um na audiência complete as lacunas ao seu modo. É uma decisão interessante, ainda que arriscada e que nem sempre funciona a contento.

Além da montagem não cronológica desnecessária, Não Pare na Pista tropeça também ao discorrer sobre a parceria profissional entre Paulo Coelho e Raul Seixas. Por vezes exagerada, em outras superficial, não se oferecem elementos suficientes para que o público entenda como os dois se uniram, nem o que os levou a se separarem. Tudo parece fácil demais, demasiadamente simples para uma união que gerou sucessos tão importantes na música popular brasileira e que repercutem até hoje. Da mesma forma, além da obsessão de Coelho em se tornar escritor, há pouco sobre essa fase de sua vida – a trama se encerra quando ele publica o primeiro livro, Diário de um Mago, em 1987. Muito ele fez desde então, mas disso tudo o que o filme oferece é a visão de um homem já idoso, cansado e que segue buscando suas origens, refazendo tantas vezes for preciso seu próprio círculo da vida.

Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho dificilmente será visto da forma como o subtítulo indica. Não deixa, no entanto, de ser um filme curioso, tecnicamente bem cuidado e com produção de primeira. Mas ressente de uma condução mais segura, de um olhar experiente em sua realização e de uma maior abrangência narrativa, que exercesse influência não apenas naqueles naturalmente interessados, mas também nos alheios ao universo particular do autor em questão. Mais ou menos como Kotscho conseguiu no longa sobre os cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano. O que, infelizmente, ela não repete desta vez.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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