Crítica
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Sinopse
Juca Valente é um sedutor descompromissado. Um dia, Brenda, sua ex-namorada americana, abandona a pequena Emma, ainda bebê, com ele. Desesperado, Juca viaja para os Estados Unidos atrás da mulher na esperança de lhe devolver a criança. Seu plano não dá certo e ele fica por lá, trabalhando como dublê de cinema. Quando a menina faz seis anos, a mãe reaparece para pedir a guarda da criança.
Crítica
Não se Aceitam Devoluções é um remake do sucesso de bilheterias mexicano Não Aceitamos Devoluções (2013), que já tinha sido a base de Uma Família de Dois (2017), a refilmagem francesa. Portanto, não há algo de muito novo no front, sequer que diga respeito a uma pretensa vontade de adaptar a trama à cultura brasileira. O protagonista deste é Juca (Leandro Hassum), desenhado como um “pegador” de marca maior, que não se furta de mandar a mesma cantada de sempre – "sabia que você é uma das sete maravilhas do mundo?” – e levar para cama beldades, tratando de pular fora sempre que a responsabilidade começa a pairar no ar. Ambientada no Guarujá, a primeira parte da trama poderia se passar em qualquer lugar litorâneo, pois, novamente, não há o mínimo esforço para criar uma identidade ambiental. Um belo dia, o tal “garanhão” recebe a visita da ex-ficante que traz no colo uma bebê. A mãe vai embora, os abandonando. Convenientemente, ele encontra seu “paradeiro” e vai aos Estados Unidos, onde passa a morar.
Desde o princípio, sobressai o simplismo da encenação proposta por André Moraes, especialmente no que diz respeito aos eventos cuja função é fazer a história seguir adiante. Juca chega à América do Norte sem saber falar inglês e, por um lance do destino, se vê empregado como dublê cinematográfico. A cena dele pulando para salvar a filha é um bom exemplo do desajeito prevalente. Em Não se Aceitam Devoluções é necessário suspender a descrença para que haja, minimamente, a possibilidade de acompanhar o decorrer da história sem ceder ao enfado. O desempenho dos atores, sempre num tom acima, torna a missão ainda mais difícil. Leandro Hassum não consegue desvencilhar-se de sua persona engraçada, recorrendo, conforme seu modus operandi, a caras e bocas para construir um personagem atravessado ocasionalmente por episódios dramáticos. A menina Emma (Manuela Kfouri), funcional como um contraponto de ternura, acaba se circunscrevendo num espaço limitado, em virtude do trabalho monocórdico da atriz mirim
Porém, o que mais depõe contra Não se Aceitam Devoluções é a pobreza cenográfica. Aparentemente inexplicável, a decupagem que privilegia close-ups e demais ângulos fechados, se justifica quando a câmera nos permite visualizar melhor os espaços. Os cenários são simplórios, com destaque negativo à casa de Juca e Emma nos Estados Unidos, uma sala multicolorida que, diga-se de passagem, oferece poucas alternativas ao cineasta no que tange à movimentação espacial. Voltando ao âmbito das interpretações, Jarbas Homem de Mello, na pele do agente hollywoodiano do protagonista, está no limite entre a canastrice e a nulidade. Laura Ramos, intérprete de Brenda, a mãe que deixa a filha para trás, ou seja, tortuosamente propulsora da transformação da vida do personagem de Hassum, atua numa chave melodramática exagerada, condicionando determinadas partes ao timbre das novelas mexicanas, dos folhetins que rezam pela cartilha da overdose.
Quando é chegado o momento de instaurar a solenidade, por conta de uma doença terminal explorada tropegamente pelo roteiro, Não se Aceitam Devoluções deixa ainda mais expostas suas falhas estruturais. O talento cômico de Leandro Hassum dá conta de salvar certas passagens, sobretudo se elas forem entendidas como esquetes, isoladamente, não subordinadas ao todo. Todavia, ele falha ao trocar de registro, não convencendo como homem tocado sensivelmente por uma existência alheia à sua famigerada fome por conquistas e liberdade. Para fechar a conta, sem mais aquela, surge alguém imitando Ozzy Osbourne, cuja participação, a despeito da qualidade da mimese, reforça a sensação que atravessa a narrativa praticamente como um todo, a de que certos filmes são veículos ideais para os produtores, supostamente tentando levar enredos a outros contextos, capitalizarem sobre marcas já bem consolidadas. Em suma, o conjunto é bastante problemático, combalido por falhas de diversas naturezas, pesos e medidas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 1 |
MÉDIA | 2.5 |
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