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Crítica

Olivia está cansada de viver às sombras dos outros. Filha única de Eleonora, senhora que sofre de Alzheimer, é seguidamente preterida pela empregada Patricia, a dama de companhia da mãe e quem, de fato, cuida dela. Atriz, segue trabalhando com o ex-marido, Mauro, o diretor do espetáculo que estão ensaiando, ainda que os dois estejam sempre em conflito. Ignorada no prédio onde mora, mal conhece o vizinho travesti e é tratada como uma desconhecida pelo zelador. Mas as coisas pioram de vez quando começa a receber ligações de cobrança em nome de Lorena. “Você precisa pagar o que deve, Lorena”, informam os mais diversos reclamantes, surdos ao apelo da garota. Não Sou Lorena é o que ela diz a todos e também a si própria, repetindo até o ponto em que a própria exaustão a coloca em dúvida. Afinal, se não for ela, quem seria essa mulher?

A vida de Olivia possui tons cinzas. Morando sozinha em um apartamento maior do que as suas necessidades, possui poucos móveis para preenchê-lo após a separação, já que o ex-marido levou as coisas que eram dele. Estranha na casa de sua infância, tenta impor alguma autoridade diante a serviçal, sem o menor sucesso: afinal, sem a ajuda desta – que é consciente da sua importância – como as coisas poderiam se arranjar? E o trabalho no palco vai de mal a pior, sem conseguir se entender com o autor da peça, numa relação confusa que envolve arrependimentos e descasos artísticos. Algumas coisas, no entanto, passam a movimentá-la. Quando o colega de cena decide convidá-la para sair, o ciúme começa a se manifestar no ambiente profissional. Assim como quando a porta do apartamento ao lado do seu se abre e aquela figura exuberante, que ora é Paco, noutra atende por Rosseta, decide baixar a guarda e uma interação entre eles surge. Parece ser o momento certo para Olivia finalmente se assumir e mostrar quem é. Mas Lorena está no seu caminho.

Primeiro surge a ligação de um loja, depois de uma empresa de cobranças. Quando percebe, há um oficial de justiça na sua porta exigindo o recolhimento de seus bens para saldar as dívidas dessa mulher. Os documentos de Olivia lhe faltam – foram perdidos (?) – e ela não tem como comprovar quem é. E não há ninguém, por outro lado, que possa afirmar conhecê-la. Ela existe, ou será fruto de sua imaginação? Quem existe: Olivia ou Lorena? A diretora e roteirista Isidora Marras dispõe os elementos que possui em lugares curiosos, e o esforço que o espectador vai progressivamente fazendo para montar o quebra-cabeças de Não Sou Lorena parece ser pertinente. No entanto, nem tudo corre de acordo com o imaginado, em nenhum dos lados da tela.

Trabalho de estreia de sua realizadora, Não Sou Lorena sofre, principalmente, da falta de experiência dessa em alcançar seus objetivos. É um filme que começa bem, com um clima de mistério interessante, porém frustra as expectativas ao perseguir uma explicação tradicional e pouco convincente, que exige muita boa vontade da audiência para ser convencida em cada detalhe. Nada é compartido, e as possibilidades mais interessantes – seria uma dupla? Uma sósia? Uma doppelgänger? Uma questão psicológica? Um roubo de identidade? – se esvaziam quando percebe-se que o mirabolante por trás das justificativas são mais uma desculpa para entreter a audiência do que um artifício necessário para a trama. E assim o valor dessa se perde, resultando em um conjunto frustrante, ainda que dono de um potencial válido que acaba perdido.

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