Crítica
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Sinopse
Amora fica órfã aos 22 anos e enfrenta o desafio de se tornar independente à medida que tenta aprender a lidar com a dor. Ela vive com sua avó conservadora, com quem tem uma relação turbulenta.
Crítica
João Côrtes é um ator que sabe fazer uso do humor físico, algo que deixou claro em séries como Vai Que Cola (2014) ou filmes como Ninguém Entra, Ninguém Sai (2017). Assim como Woody Allen, que começou sua carreira como humorista de palco, mas aos poucos foi se aventurando por temáticas mais densas e sombrias, o brasileiro demonstra vontade de se debruçar sobre questões mais pertinentes em sua estreia como realizador. Em Nas Mãos De Quem Me Leva, o foco está em Amora (Fernanda Marques), uma garota que há pouco deixou a adolescência, mas ainda não se vê como adulta. Acima das questões próprias da idade, precisa lidar com dramas familiares e desencontros amorosos. Nada surpreendente ou revelador, mas feito com nítido cuidado e interesse. O bastante, aliás, para justificar uma atenção mais próxima.
O prólogo é eficiente em mostrar não apenas o que se teve, mas, principalmente, aquilo pelo qual anseia recuperar. Amora, quando criança, está com os pais em um passeio de automóvel. Os três brincam, reclamam, fazem piadas e provocações. Natural entre quem se quer, fruto de um convívio saudável e diário. Mas o espectador tem acesso a apenas esse relance. O hoje, no qual a história a ser desenvolvida se situa, se dá muito tempo depois. Amora cresceu, mas sem seus maiores exemplos por perto. Como saíram de cena, não vem ao caso. À narrativa, interessa os conflitos da protagonista que, sozinha, mesmo que rodeada de gente, precisa se encontrar e permitir que os outros também tenham acesso a essa que a própria está recém descobrindo.
Morando com a avó, uma senhora religiosa dona de costumes ultrapassados, Amora não encontra em casa um momento de paz para si. Presa a um emprego que não parece ter futuro, sonha com destinos e atividades talvez longe demais para suas ambições – por mais que somente ela possa medir o alcance de seus atos. Ao menos enquanto leva seus dias como atendente em uma livraria tem a oportunidade de juntar algum dinheiro e dividir seus problemas com o único amigo – e colega de trabalho. É curioso como Côrtes não tem pressa em desenhar esse cenário. Obviamente, está mais interessado no que tais figuras podem oferecer de diferente ao todo, e não apenas em como se darão as relações entre elas. Ainda que um olhar mais apurado pudesse ter contribuído com a edição final – não há trama para mais de duas horas – os personagens são suficientemente interessantes para valer o investimento de acompanhá-los em seus erros e acertos.
Tanto é que muito já se passou quando Amora encontra Bruno, um empresário mais velho e galanteador na medida certa – do tipo que parece ser bom demais para ser verdade. Alguns poderão achar que o flerte que inicialmente rola entre os dois não levará a nada, mas a forma como vão aos poucos se envolvendo tanto não agride a percepção da audiência que flui de modo natural e envolvente. Por mais evidente que seja esse o longa de um realizador estreante – como aponta o desfecho desse relacionamento, calcado num dos clichês mais clássicos do gênero – esse é um pormenor diante do qual será fácil relevar, visto que a experiência conjunta se mostra mais pertinente que a soma de cada uma das suas partes.
Ainda que não consiga desviar de certas facilidades – a coincidência que envolve a psicóloga da protagonista é por demais forçada – e tente fazer uso de tipos desgastados – ninguém mais precisa de um ‘melhor amigo gay’ – que, caso fossem melhor aproveitados, corriam o risco de desviar os olhares para si, Nas Mãos De Quem Me Leva ganha pontos pelo forte desempenho de Marques, à vontade como essa garota em busca de seu espaço no mundo, e também pela mão sensível com a qual Côrtes demonstra apreço pelo universo que criou. Sem ousar além do necessário, preocupa-se com o básico, e esse o alcança com solidez e segurança. Um feito promissor, seja por tudo que percorre como, principalmente, por aquilo que realiza. E se com tão pouco o resultado se mostra consistente, é de se imaginar – e torcer – pelos seus próximos passos.
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