Crítica
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Crítica
Barbra Streisand é uma grande estrela. Ponto. Não há o que discordar. Basta ver sua carreira. Na música, milhões de álbuns vendidos. No cinema, trabalhos como produtora, diretora, entre outras funções atrás das câmeras, além, claro, das performances notáveis em filmes como Funny Girl (1968), Nosso Amor de Ontem (1973), Yentl (1983) e O Espelho tem Duas Faces (1996). Além disso, venceu Oscar, Tony, Emmy, Grammy, Globo de Ouro, enfim, todos os prêmios mais relevantes da indústria de entretenimento norte-americana. É, também, uma ativista de causas sociais, especialmente dos direitos das mulheres. Contudo, todas as grandes estrelas têm seu momento de tropeço. A versão de 1976 de Nasce Uma Estrela é um desses calos nos sapatos de Streisand.
Foram duas versões antes desta. Uma em 1937 e outra em 1954. Primeiramente, o cenário era Hollywood. Desta vez, o mundo da música. Nessa adaptação, John Norman Howard (Kris Kristofferson) é um astro do rock com a carreira em constante decadência. A cocaína e o álcool tomam conta de seus dias. E as performances ao vivo ficam a desejar. Numa dessas noites erráticas, em que tudo vai por água abaixo, o roqueiro vai parar num clube. Lá, um grupo de canto se apresenta. Sua líder é Esther Hoffman (Barbra). Ele se encanta pela voz e a beleza da moça. Ela retribui num encontro. Logo, se envolvem. Ela, arredia ao mundo do showbiz, fica receosa com muitas coisas que acontecem na nova relação. Até que um dia John a convida para o palco. Ela se torna imprescindível tanto pessoal quanto profissionalmente. Porém, ele cada vez mais se afunda.
São 140 minutos para toda esta história se desenvolver. O que poderia ser uma decisão acertada, se bem utilizada, acaba por gerar enfado. O ritmo do longa é truncado, com detalhes desnecessários que não acrescentam à trama. São repetecos. Ecos do já falado e mostrado anteriormente. Um corte profundo de, no mínimo, trinta minutos dessas "gordurinhas" poderia tornar a experiência mais agradável. Porém, não é apenas o sentimento de repetição que torna o processo até maçante em alguns momentos.
O principal problema da produção é justamente a estrela do título literal e que poderia levar o filme nas costas: Barbra Streisand. A atriz não convence como uma pessoa frágil e ingênua engolida pela fama. Na maior parte do tempo, o que parece ser visto é a própria Barbra, estabelecida como grande nome da indústria. Algo que, na época, fora das telas, já era realidade. Porém, se a intenção era uma auto-performance, sua personagem na tela deveria ser Streisand em início de carreira. Parece que ela não evolui, por mais que o roteiro insista em dizer o contrário. Esther já nasceu estrela em seus minutos iniciais. A diferença é que se torna mais glamourizada no decorrer do longa. Por outro lado, quem acaba ofuscando Barbra é Kris Kristofferson. Talvez pela profundidade dos problemas de John, seu desempenho enérgico e a onda de erros que vai tomando ao longo do percurso, acabam tornando o personagem muito mais interessante.
Com relatos de diversas brigas nos bastidores, muitas que envolvem os produtores e Barbra (ela própria produtora executiva), Nasce Uma Estrela parece ter se perdido na sua essência: uma forma de criticar o quão maligna a indústria do showbiz pode ser para quem quer alcançar o estrelato. O excesso de duração dá a impressão de que o filme não foi finalizado. E o teor de baixo astral que domina a produção (mesmo com belas músicas como Evergreen, que rendeu ao longa um Oscar de Melhor Canção), torna essa crueza ainda mais áspera. É um filme que, infelizmente, parece ter envelhecido mal, por melhores que sejam algumas questões levantadas. Especialmente o modus operandi, como as coisas funcionam de forma diferente para homens e mulheres nesse meio onde todos querem chegar, mas que poucos alcançam. Ao menos, a estrela de Barbra pode ter sofrido uma lasca, mas nunca mais se perdeu.
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