Crítica
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Sinopse
Uma jovem cantora ascende ao estrelato ao mesmo tempo em que seu parceiro, um renomado artista, cai no esquecimento devido aos problemas com o álcool. Os momentos opostos nas carreiras acabam por minar o relacionamento amoroso dos dois.
Crítica
A história não é nova. E nem precisamos falar exatamente de Nasce Uma Estrela – cuja versão inaugural com esse título é de 1937 (premiada com o Oscar de Melhor Roteiro Original), e seguida por outra em 1954 (indicada a 6 Oscars) e uma em 1976 (vencedora do Oscar de Melhor Canção Original). Afinal, a trama do astro consagrado que se apaixona por uma novata e conhece a decadência da própria carreira ao mesmo tempo em que a vê cada vez mais famosa foi levada às telas pela primeira vez em Hollywood (1932) – indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original – e adaptada sob diversos outros formatos (um dos mais bem-sucedidos foi o francês O Artista, 2011, que conquistou 5 Oscars, inclusive o de Melhor Filme). Ou seja, originalidade não chega a ser exatamente o forte da questão. Quais os motivos, portanto, para se prestar atenção a essa nova adaptação? Basicamente, para verificar como Bradley Cooper, também protagonista, se sai atrás das câmeras – é sua estreia como diretor – e descobrir se sua colega em cena, a cantora Lady Gaga, possui talento suficiente também como intérprete. E a resposta para ambas as questões é: mais ou menos.
Jackson Maine (Cooper) é um astro da música country, acostumado a lotar estádios, mas que mal consegue consigo mesmo. Sempre com uma garrafa de bebida ao alcance da mão, está acostumado a varar as noites indo de bar em bar. Numa dessas jornadas, acaba indo parar em uma boate de drag queens, e lá assista à apresentação da única mulher presente, Ally (Gaga). Impressionado com a voz dela em uma performance da clássica La Vie en Rose, ele se apaixona quase que instantaneamente, ainda que a própria esteja constantemente se menosprezando – “sou muito baixa, o cabelo não é da cor certa, o nariz é muito grande”. Ela a adota, e – literalmente – no dia seguinte já está colocando um jatinho à disposição dela para acompanhá-lo em seus shows. Antes que o espectador perceba, estão morando juntos, e assim que a coloca no palco para dividir uma canção de autoria dela, um empresário surge disposto a transformá-la no novo fenômeno pop. O caminho dela é ascendente, o dele, mais uma vez sozinho e entregue aos vícios, só tem como destino a sarjeta.
Cooper, enquanto realizador, demonstra estar mais preocupado com os personagens do que com a história. Há um cuidado particular com Gaga. Muito se falou a respeito do naturalismo dela no filme, e de fato, para alguém acostumada a fazer aparições em público vestida com pedaços de carne, brotando de dentro de um ovo ou com chifres despontando por todas as partes do corpo, e que já foi apontada como alienígena em uma das suas raras incursões cinematográficas anteriores (Homens de Preto 3, 2012), basta mostrar o rosto limpo de máscaras ou maquiagem para que muitos se convençam que se trata de uma pessoa normal. No entanto, Stefani Germanotta – seu nome verdadeiro – ainda que tenha começado sua carreira artística antes como atriz (em uma ponta na série Os Sopranos, em 2001) do que como cantora, fez de Lady Gaga uma persona tão forte que é praticamente indissociável de quem ela é hoje em dia. Tanto que Ally, ao invés de investir na música country – como Maine – prefere se transformar em uma cantora pop – exatamente como ela de fato é na vida real. É Gaga, em resumo, que aparece a cada fotograma – e quase nunca é possível enxergar a personagem Ally.
Por outro lado, Cooper está comprometido em fazer de Jackson uma figura convincente. Longe de ser um dos melhores momentos de sua filmografia – conciliar mais de uma responsabilidade tem seu preço – também não é nada que possa causar vergonha. Ele se sai bem cantando, o rosto está sempre inchado para convencer como bêbado, e os momentos mais frágeis são comoventes. Mas o corpo sarado está longe de ser o de um alcóolatra irrecuperável – e ele exibe bastante o físico – enquanto que, nas passagens mais dramáticas, volta e meia prefere se refugiar por trás de mãos ou cortes de cena ao invés de exibir a face de alguém despedaçado. Se há um ator de verdade presente, este é Sam Elliott, como o irmão – bem – mais velho do protagonista, além de seu empresário. No entanto, ele não possui uma única cena individual – está sempre ao lado dele, ou dela, funcionando apenas como interlocutor – e mesmo nas situações mais intensas, quando discute com o caçula ou quando este lhe pede desculpas, as câmeras se demonstram mais interessadas no seu parceiro de cena do que nele. Cooper fez esse filme para si, e não tem vergonha de deixar isso claro.
Musical que é tímido para se assumir como tal – todas as canções, com exceção dos singles Shallow e I’ll Never Love Again – são exibidas apenas em partes, e nunca a composição inteira – esse Nasce uma Estrela se beneficiaria caso tivesse sido batizado como O Ocaso de uma Estrela – título mais honesto, uma vez que a história é mais dele do que dela. Narrado de forma linear, plana e simples, desprovido de qualquer subtexto ou profundidade, o filme até se arrisca a uma crítica discreta sobre o perfil desses artistas, aqui invariavelmente descritos como figuras fracas e instáveis, que precisam ser aduladas o tempo inteiro para conseguir lidarem com suas inseguranças – os dois estão constantemente elogiando um ao outro, numa repetição que beira o ridículo. Lady Gaga poderia ser constrangedora, e só por se livrar desse resultado já está mais do que bom. Bradley Cooper é um cineasta competente, e um ator esforçado, mas não mais do que isso. E o filme que fazem juntos até possui bons momentos, mas nada memorável. Simpático, porém ausente de audácia ou criatividade – curiosamente, justamente o que costumava ser tão importante tanto para ela quanto para ele.
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como assim a média desse filme é só 6.9, devia ser no mínimo 8.