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Sinopse

Várias histórias se entrelaçam em Nashville. Nessa localidade em que a música funciona como um elo, impérios estão prestes a colapsar, casais enfrentam problemas no relacionamento e dificuldades distintas são apresentadas.

Crítica

Nashville é um dos trabalhos mais adorados e elogiados de Robert Altman, tido como uma de suas muitas obras-primas. Vencedor do Oscar de Melhor Canção Original (para “I’m Easy”, de Keith Carradine) e indicado a mais quatro estatuetas (dentre elas, Melhor Filme e Direção), o longa-metragem lançado em 1975 tem predicados mais do que suficientes para figurar em uma lista dos grandes trabalhos do cineasta norte-americano. Muito embora ele tenha lapidado seu estilo com o tempo e tenha chegado à perfeição da multitrama com Short Cuts: Cenas da Vida (1993), Nashville já mostrava o quão habilidoso Altman conseguia ser com um elenco graúdo, uma trama coral e uma vontade enorme de se surpreender com os improvisos que poderiam vir pelo caminho.

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Em Nashville, Altman conta a história de 24 personagens (ou 25, caso você conte a própria cidade). Durante a campanha presidencial para as primárias, o candidato Hal Phillip Walker é uma nova aposta, surgindo em um partido que propunha uma mudança – nem Democrático, nem Republicano. Para surgir forte na corrida eleitoral, é importante se sair bem no Tennessee e, por isso, o assessor de campanha John Triplette (Michael Murphy) faz questão que o comício do seu candidato tenha estrelas da música country queridas pela população. Assim surgem nomes como o cantor veterano Haven Hamilton (Henry Gibson), a adorada estrela Barbara Jean (Ronee Blakley, indicada ao Oscar como Atriz Coadjuvante), sua rival Connie White (Karen Black), o trio folk Bill, Mary and Tom (Allan F. Nichols, Cristina Raines e Keith Carradine, respectivamente), entre outros. Esses astros estão em Nashville buscando seus próprios objetivos, mas acabam sendo convidados para participar do show.

Em meio a tudo isso, ainda conhecemos uma garçonete sem talento vocal chamada Sueleen Gay (Gwen Welles), que sonha em ser uma estrela; a cantora de coral Linnea Reese (Lily Tomlin, também indicada ao Oscar como Coadjuvante), mulher casada com o advogado Del (Ned Beatty), mas que é o objeto de desejo do cantor folk Tom; Opal (Geraldine Chaplin), uma repórter britânica, da BBC, que está fazendo um documentário sobre a cena de Nashville e se mostra totalmente deslumbrada pelas estrelas que lá aparecem; Albuquerque (Barbara Harris), uma cantora esforçada que se livra das amarras do seu casamento para perseguir seu sonho; Martha (Shelley Duvall), uma groupie insensível que não perde oportunidade de sair com qualquer astro que lhe dê atenção, mesmo que deixe seu tio Green (Keenan Wynn) sozinho em um momento de pesar; e o silencioso motoqueiro (Jeff Goldblum), que passeia por Nashville aparentemente sem muitos objetivos. Essas pessoas (e tantas mais) formam a colcha de retalhos que é esta história.

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Como viria a ser praxe em sua filmografia, Robert Altman cria junto de seus atores o sumo dessa história. A maioria dos diálogos é criada na hora, dando um ar muito naturalista aquele universo. Existe uma estrutura no roteiro, mas ela serve como alicerce apenas do que está por vir. Desta forma, o cineasta acaba colocando seu elenco como co-autores daquela trama, dando responsabilidades ímpares aqueles talentosos intérpretes. Para melhorar, grande parte dos atores que atua como cantores no filme teve de escrever suas próprias canções. Desta forma, Keith Carradine, além de convencer como o mulherengo charmoso Tom, também cantou e compôs cada uma de suas faixas, dando grande veracidade à sua performance. Não bastasse tudo isso, Altman decidiu gravar ao vivo as canções, não permitindo que seus atores a dublassem apenas. Com todo esse cuidado, o diretor construiu uma obra viva, pulsante, intensa.

Claro que esse conceito iria por água abaixo caso os personagens e suas situações não fossem interessantes. E todos são, sem exceções. Desde a estrela country que passa por apuros, não dizendo coisa com coisa em suas aparições públicas, parando em um hospital depois de um colapso, passando pelo militar fascinado pela cantora, que só fica sossegado ao tê-la em seu campo de visão, culminando com a repórter britânica que serve como representante da plateia na história. Cada um dos personagens tem um arco interessante e desempenha papel – maior ou menor – que faz diferença no todo.

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É verdade que, por vezes, essa vontade de manter-se no improviso deixa a narrativa um tanto à deriva. Felizmente, não demora para Altman reencontrar o caminho e colocar a trama nos eixos. Por incrível que pareça, a longa metragem do filme (160 minutos) não chega a cansar, visto que são tantos os personagens e situações que são desenvolvidos que o tempo passa bastante rápido. Ajuda também a trilha sonora, muito bem elaborada, com canções que – mesmo que sirvam como crítica aos clichês do gênero – costuram muito bem as tantas histórias ali contadas. O terceiro ato reserva algumas boas surpresas, encerrando o filme com um verdadeiro estouro. Em suma, Nashville, mesmo mais de 40 anos depois de sua estreia, se mostra fresco e criativo, uma obra-prima de um cineasta que se especializou em tramas coral e personagens muito humanos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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