Natalie Wood: Aquilo que Persiste
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Laurent Bouzereau
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Natalie Wood: What Remains Behind
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2020
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
A morte de personalidades em circunstâncias pouco usuais sempre despertam todo tipo de teoria. Elvis não morreu? Michael Jackson teve uma overdose? Marilyn Monroe foi assassinada? Natalie Wood é um destes casos, após ser encontrada morta por ter se afogado ao deixar o barco em que estava. Com um detalhe extra: nele estavam apenas ela, seu marido Robert Wagner, o dono do barco e o também ator Christopher Walken, cujos rumores apontavam um caso com a atriz - nunca confirmado, é bom ressaltar. Quer ambiente mais propício para a proliferação de todo tipo de história sobre o que lá aconteceu?
Sem medo de abordar o tema, o documentário Natalie Wood: Aquilo que Persiste felizmente não se atém apenas ao sensacionalismo para retratar a mulher por trás de tão badalado incidente. Tendo por base depoimentos das filhas da atriz, em especial Natasha, este é um documentário de alto teor íntimo, o que traz prós e contras. A favor está o amplo acesso não apenas a imagens de arquivo, mas também a depoimentos de pessoas próximas à atriz que, talvez, tivessem uma certa resistência a se abrir tanto caso não houvesse o envolvimento de sua própria família. Contra porque esta é uma história pré-contada, uma espécie de versão oficial, escancarada a partir de certas interferências da própria Natasha às falas de entrevistados, especialmente ao depoimento de seu padrasto, Robert Wagner.
Ainda assim, o que se vê é um painel bastante amplo sobre a atriz e, além dela, muito do modus operandi da Hollywood pós-Segunda Guerra Mundial. Por mais que não seja este o tema principal do documentário, é emblemático ver o quanto Natalie esteve sujeita aos interesses dos estúdios durante boa parte de sua juventude, seja determinando quais filmes ela deveria fazer - sem se importar se ela própria queria - ou mesmo na construção de um arquétipo em torno de uma atriz ainda em formação. Tal situação não é propriamente nova, Judy Garland que o diga, mas desperta imediatas reflexões ao ver a própria Natalie, em gravações antigas, relatando a dificuldade que foi atuar em Juventude Transviada (1955) ou em como ficou 18 meses na geladeira, após se recusar a fazer um filme para a Warner. Ecos de um tempo em que atores eram aprisionados por contratos leoninos, cuja única saída era alcançar tamanho estrelato que lhes permitisse peitar seus senhorios. Foi o que Natalie Wood fez.
Tal postura em defesa de sua liberdade de agir e escolher os papéis que desejasse atuar é pontuado em vários momentos do documentário, seja através dos variados relacionamentos amorosos ou mesmo a partir do retrato de algumas de suas personagens mais famosas. Intercalando depoimentos de amigos e parentes a entrevistas de época em que Natalie falava abertamente sobre sua vida pessoal, e muitas vezes de forma bem humorada, Natalie Wood: Aquilo que Persiste vai das consequências em ter iniciado a carreira de atriz com apenas quatro anos aos problemas que teve com os próprios pais, que tanto peso tiveram nas escolhas de vida que tomou. Tudo para ressaltar a mulher por trás do mito, de forma a evitar que sua morte se tornasse maior que o feito em vida. Consegue.
Entretanto, seria impossível fazer um filme sobre Natalie Wood sem mencionar o mistério por trás de sua morte e é este o tema central de seu terço final. A partir de um depoimento doloroso e emocionado de Robert Wagner, muito graças ao fato de ser entrevistado (e defendido) por sua enteada, o ocorrido é abordado sem esconder a polêmica por trás do fato, especialmente em relação ao sensacionalismo de parte da imprensa. Este é um documentário "oficial", não se esqueça. Natural que haja uma defesa à família, ainda mais diante de algo tão traumático.
Mesmo com lacunas sentidas, como depoimentos de Christopher Walken e de Lana Wood, irmã de Natalie que acusou Robert Wagner de tê-la matado, Aquilo que Persiste é tanto uma homenagem competente quanto um painel abrangente sobre sua vida. Poderia também adentrar mais nas minúcias de seus filmes, assim como faz com Juventude Transviada, mas isto seria mais para atender a curiosidade cinéfila. Não é propriamente este o objetivo do documentário, por mais que atinja tal intenção em segundo plano, ao escancarar (de novo) como era a indústria do cinema até poucas décadas atrás.
Filme visto em Portugal, em maio de 2020.
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