Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema
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Ivelise Ferreira, Aída Marques
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Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema
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2023
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
A vida e a obra de um dos maiores realizadores da história do cinema brasileiro. Nelson Pereira dos Santos foi o criador de obras fundamentais, além de um dos expoentes do movimento de renovação chamado Cinema Novo.
Crítica
O enorme desafio encarado pelas diretoras Ivelise Ferreira e Aída Marques em Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema é documentar em forma de filme uma das trajetórias mais valiosas da história do cinema mundial. E tudo em pouco menos de duas horas. Dentro disso, o primeiro obstáculo é encontrar um recorte que seja, ao mesmo tempo, sintético e consistente. E as realizadoras acabam optando por uma via relativamente segura, a da progressão cronológica. O longa-metragem começa com o protagonista relatando histórias do seu nascimento na cidade de São Paulo, do envolvimento inicial com o cinema, do intercâmbio fundamental na França, até chegar aos bastidores de suas produções. Estamos falando de um homem que soube, como poucos dentro da tradição do cinema brasileiro, revitalizar o próprio olhar diante de tendências e fenômenos. Pai intelectual do Cinema Novo, Nelson Pereira dos Santos capturou o espírito da época pós-Segunda Guerra Mundial e rodou o seu neorrealista Rio, 40 Graus (1955). Mais tarde, dirigiu Vidas Secas (1963), consolidando o imaginário do Nordeste profundo e flagelado como um dos vetores do nosso cinemanovismo revolucionário. Logo depois, aproveitou os contatos transgressores com o underground norte-americano para rodar Fome de Amor (1968). Nelson se manteve dialogando com as fortes vocações das épocas, mas isso não é tão bem enfatizado por esse documentário.
Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema é um bom resumo informativo da vida do notável artista/criador que elevou os padrões do cinema brasileiro. Ainda que Ivelise Ferreira e Aída Marques não cheguem a sublinhar a renovada vontade do protagonista de conversar com mudanças e vanguardas (assim se mantendo “atualizado"), o longa nos permite chegar a essa conclusão. Quase abrindo mão de entrevistas de terceiros, as diretoras privilegiam a costura de depoimentos dados pelo próprio Nelson ao longo dos anos. Assinada por Luiz Guimarães de Castro, a montagem une fragmentos separados por tempos às vezes distantes. Há sentenças que começam pronunciadas por um senhor sexagenário e são concluídas por sua versão bem mais jovem. E vice-versa. É interessante essa interlocução entre temporalidades e texturas de imagens completamente distintas, com lembranças evocadas em prol de uma ideia consensual. Por isto, não há tensão entre aquilo que Nelson conta na década de 1960 e as suas memórias revisitadas na longínqua década de 1990, por exemplo. Para variar, às vezes surgem outras personalidades (Grande Otelo, Jece Valadão, etc.), por meio de materiais de arquivo, contando mais sobre os ricos bastidores de obras famosas. As comandantes dessa empreitada claramente reverente estão mais preocupadas com a construção de um painel informativo, sem as arestas.
Ainda que em termos de linguagem seja mais propenso à informação e menos à inventividade, Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema é um bonito recorte da carreira exemplar do homem que ajudou a nos recolocar no mapa cinematográfico mundial a partir dos anos 1950. Ivelise Ferreira e Aída Marques dão ao espectador acesso privilegiado a bastidores de produções fundamentais, aproveitando para ressaltar determinados assuntos caros à própria sociedade brasileira. Ao falar sobre Rio, 40 Graus, as cineastas abordam a censura que o filme sofreu por conta de sua observação das parcelas frequentemente invisibilizadas do Rio de Janeiro. Durante o regate dos causos de Vidas Secas e Memórias do Cárcere (1984), elas dão espaço ao entendimento dos contextos sociopolíticos em que as adaptações dos livros homônimos de Graciliano Ramos aconteceram – o primeiro foi lançado no começo da Ditadura Civil Militar e o segundo quando agonizava o regime que desgovernou o Brasil por 21 anos. Ao comentar Fome de Amor, a dupla de diretoras deixa margem para percebermos como essa produção libertária era urgente (estética e narrativamente falando) no período político em que o país estava sob o cabresto do governo inimigo das liberdades individuais. E o documentário investe bem mais tempo e energia na documentação das duas primeiras décadas e meia de Nelson como cineasta.
Especialmente a partir do registro da fase chamada pelo próprio Nelson Pereira dos Santos de “exílio em Paraty” – na qual fez trabalhos essenciais, tais como Azyllo Muito Louco (1970) e Como era Gostoso o Meu Francês (1971) – Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema ganha um ritmo acelerado, em meio ao qual não há espaço para investigar melhor os elementos que marcaram determinados trabalhos. Por exemplo, a sua experimentação no cinema de cunho popular. Na Estrada da Vida (1980) é compreendido de passagem como fruto da vontade do cineasta de incursionar pelo namoro com as grandes plateias. Essa pressa também se aplica ao tópico da valorização das religiões de matriz africana, inexistente em seus primeiros trabalhos – o artista maduro faz o seu singelo mea culpa. Nelson Pereira dos Santos: Vida de Cinema é uma boa porta de entrada ao universo criativo e pessoal de um artista essencial à compreensão da paisagem cinematográfica brasileira no século 20 – há somente flashes de sua atuação no século 21. Pena que o documentário não situe apropriadamente Nelson Pereira dos Santos como “padrinho” de vários colegas que nele se inspiraram e com ele colaboraram ao longo de décadas. A isso, o documentário prefere seguir somando ótimas histórias de bastidores e costurando falas indicativas de Nelson sobre Nelson, basicamente se atendo a festejar o gênio.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Francisco Carbone | 9 |
Chico Fireman | 6 |
Celso Sabadin | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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