Crítica
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Crítica
O cinema chileno percorre dois caminhos distintos. Por um lado, a estrada da densidade narrativa das histórias de Pablo Larraín; por outro, o rumo mítico de filmes como Neruda: Fugitivo, apresentado a nós por Manuel Basoalto, estreando na direção após três anos de trabalho. O país é o mesmo, mas o cinema não. Enquanto a investida na arqueologia da história chilena, sem medo de aceitar os cadáveres que por ali surgem, rendeu a Larraín o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano com O Clube (2015), Basoalto segue na contramão – ou no mesmo caminho de Violeta Foi Para o Céu (2011) – ao percorrer um corredor do qual o cinema sul-americano parece não cansar de trilhar, esperando dos heróis nacionais mais do que eles já entregaram – esperando que nos deem grandes filmes.
Conhecido mundialmente pela força de sua literatura e pelo engajamento político, Pablo Neruda (1904-1973) assume aqui a face menos esperada de qualquer homem de letras: a da coragem física. Para isso, o roteiro escrito pelo diretor inspirou-se no documentário televisivo Neruda: Diario de un Fugitivo (2004) e parte do discurso proferido pelo escritor no final dos anos 1940, posicionando-se contra o governo do presidente Gabriel González Videla (Max Corvalán) e a lei que institucionalizava a perseguição política à oposição governista, mais conhecida por “Lei Maldita”. Videla não aceitou o enfrentamento de uma figura nacional tão importante. Para não perder popularidade, entrou em rota de colisão com Neruda, fazendo com que o poeta deixasse o discurso e partisse para a ação. Interpretado com oscilações por José Secall, às vezes excessivamente altivo para a circunstância, Neruda passa, então, a ser perseguido pelo comissário Peluchoneaux (Erto Pantoja), tornando-se um fugitivo que depende da ajuda dos amigos para se esconder pelas cidades do interior do país.
Neste momento o filme parece chegar ao ponto para o qual foi todo moldado. A perseguição funciona para o poeta como uma transformação de caráter duplo, pois é externa, evidenciada pelo crescimento da barba e pela degradação das roupas, e interna, por meio do que se costuma chamar de forma desgastada de autoconhecimento. A escapada, mas não apenas ela, exige do protagonista um novo nome. Também a transformação íntima faz com que o poeta passe a atender por Antonio Legarreta. Fechado o eixo dramático da recriação ficcional, torna-se nítido o esforço de Basoalto para dar peso e consistência para a um projeto com potencial, mas que facilmente se ressente de fôlego. Tentativas de reanimar a narrativa não faltam, e é isso que vemos com a inserção dos flashbacks e retomadas da vida conhecida do escritor. Pela repetição, a fórmula não funciona nem para comparar o homem das letras com o homem da fuga ou mesmo para entregar ao espectador mais desavisado quem de fato foi e qual a importância de Pablo Neruda.
Entre as idas e vindas, a fotografia de Germán Uñero trabalha com segurança e consegue um bom resultado, ainda que isso signifique ser mais plástica, ao captar as belezas naturais chilenas, do que necessariamente técnica. Ao seu lado, a montagem de Luis Albónico não compromete, mas certamente deixa a desejar quanto à dosagem do ritmo. Algo possivelmente explicado por ser este, assim como para Uñero, o trabalho de estreia do montador. Ao final, mesmo que não naufrague, é difícil imaginar um navio tripulado por novatos alcançando alto-mar. Em especial se as águas forem turvas como as do sul.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 5 |
Ailton Monteiro | 3 |
MÉDIA | 4 |
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