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Sinopse

Vee é entra num jogo virtual de Verdade ou Desafio. Rapidamente, ela fica famosa por seus feitos, mas se torna vítima de um roubo de identidade. Ela será obrigada a vencer desafios extremos para ter sua vida de volta.

Crítica

Embora inicialmente alheia ao game do momento, a protagonista de Nerve: Um Jogo Sem Regras está em sintonia com os tempos facilitados por gadgets e apps. Sua familiaridade com navegadores de internet, serviços de streaming e redes sociais, vistas já na abertura do filme, numa cena marcada por acessos a sites, pelo abrir de janelas e programas, não deixa dúvidas quanto à geração a que ela pertence. O medo de decepcionar a mãe (interpretada por Juliette Lewis) faz com que essa garota vacile diante de um convite universitário. Isso, a paixão platônica e a relação de submissão que mantém com a amiga expansiva e, portanto, muito diferente dela, completam de maneira desajeitada tudo o que precisamos saber a respeito de Vee (Emma Roberts).  O caráter prosaico de sua conduta contrasta, de certa forma, com os riscos que seus colegas topam correr para alcançar notoriedade no mundo virtual, assim angariando seguidores. A plataforma em alta se chama Nerve, jogo em que o participante ou encabeça a ação, possivelmente ganhando fama e dinheiro, ou se contenta em olhar, torcer e regozijar-se com o falso poder de ditar os rumos da vida alheia, conforme seu bel prazer.

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A relevância da premissa não é suficiente para sustentar o interesse em Nerve: Um Jogo Sem Regras, longa-metragem a léguas de problematizar verdadeiramente os temas abordados ou mencionados em meio a uma aventura incapaz de minimamente esconder suas fragilidades, estas sublinhadas pelos excessos. Uma vez humilhada pelo comportamento nonsense de Sydney (Emily Meade) diante de seu interesse amoroso, Vee, num rompante de inconsequência – que, assim como outras decisões tomadas adiante, destoa bastante de seus princípios – inscreve-se como jogadora, assinando um contrato de cláusulas escusas. Ela decide se expor para provar personalidade, um contrassenso, já que, cedendo ao modismo, demonstra apenas sucumbir novamente às pressões. Durante o cumprimento das primeiras tarefas, provas leves escolhidas pelos seguidores, ela se depara com Ian (Dave Franco), rapaz boa pinta com cara de bad boy que se torna seu parceiro improvável, acompanhando-a nas atividades transmitidas ao vivo. O risco é proporcional ao dinheiro na conta. A adrenalina vicia.

Posto assim pode parecer que Nerve: Um Jogo Sem Regras faz observações pertinentes acerca da atual conjuntura social, sobretudo no que tange à relação dos jovens com os meios digitais. Infelizmente a condução errática dos diretores Ariel Schulman e Henry Joost não permite ao filme transpor a camada mais superficial. Ao invés de deter-se na análise crítica da superexposição, da busca desenfreada por curtidas, das concessões que as pessoas estão dispostas a fazer para ganhar popularidade na rede, entre outras possibilidades ventiladas pelo roteiro, o longa gasta um tempo precioso no desenho do envolvimento de Vee e Ian. As incongruências saltam aos olhos em diversas sequências, como naquela que mostra a entrada fácil num reduto hacker, a priori escondido sob ferrenho segredo. Na medida em que a trama progride, fica evidente a natureza escapista desta realização mais preocupada em capitalizar sobre uma fatia do público que propriamente em estudar as peculiaridades inerentes tanto à faixa etária dos personagens quanto à dicotomia real/virtual. O saldo é um romance insosso.

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A inocuidade de Nerve: Um Jogo Sem Regras é intensificada pelo artificialismo do visual, dimensão marcada fundamentalmente pela constante e despropositada alteração da palheta de cores. A arbitrariedade da trilha sonora é também boa parte responsável por deflagrar a essência ordinária da produção, pois sucessivas músicas pop surgem com o mero propósito de pontuar as transições. Há um quê de Jogos Vorazes no engendramento da disputa, principalmente em virtude das regras que apontam diretamente à crueldade do sistema desenhado como o verdadeiro vilão. A incipiência do arrolamento dos observadores como cúmplices e a tentativa pálida de expor o Nerve, monstro intangível e tirânico, como fruto dos piores impulsos humanos, ou seja, decorrência de uma deformação moral da espécie, fazem com que este filme chafurde no lugar-comum. O disfarce de obra relevante dura pouco, questão de minutos, depois dos quais identificamos claramente que os estereótipos relativos aos anseios e às turbulências tipicamente juvenis estão acima de qualquer leitura mais profunda.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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