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Sinopse

Um olhar sobre o processo de cultivo de sementes e as experiências na mata. Os protagonistas são integrantes das tribos Tekoa Pindó Mirim, Tekoa Nhundy e Tekoa Jatai ty.

Crítica

Há um detalhe que a vastidão de formatos familiares não consegue mudar: as pequenas tradições, passadas de geração em geração. Seja o almoço de domingo ou uma receita familiar, de bolo ou de chá curador, todos nós aprendemos alguma coisa com nossos pais e avós, numa espécie de ritual que acontece de forma espontânea. A população indígena, mais precisamente a Mbya Guarani, dividida em três aldeias localizadas na região metropolitana de Porto Alegre, utilizam um nome especial para esta transmissão de conhecimento. Nhemonguetá, palavra que batiza o documentário dirigido pela dupla Paola Mallmann e Eugenio Barboza.

Nhemonguetá acompanha o cotidiano das comunidades indígenas Tekoa Pindó Mirim, Tekoa Nhundy e Tekoa Jatai ty focando seu olhar nos moradores mais jovens, que estão vivenciando os primeiros contatos com as tradições de seu povo. Diferente de outros filmes que se debruçam sobre a mesma temática, Mallmann e Barboza não buscam uma narrativa didática. Se o espectador pretende entender as bases dos rituais ou mesmo as ordens hierárquicas dentro da tribo, terá de procurar fora das telas.

Nhemonguetá é mais poesia que história, mesmo que a ideia inicial tenha nascido da dissertação de mestrado da diretora, na área da Antropologia. Seguindo ideias propostas por antropólogos reconhecidos mundialmente, como Franz Boas e Ruth Benedict, aliados com preceitos básicos do chamado cinema indígena, nota-se que os realizadores colocaram o pé na terra e se deixaram guiar pelos moradores da aldeia. Há uma preocupação em respeitar o tempo de fala do entrevistado, em alguns casos permeados por longas pausas e um forte sotaque.

O mais interessante no visual do documentário está presente em seus minutos finais. Respeitando a iluminação natural, um ritual é registrado e nos vemos diante de algo quase mágico. Crianças e adolescentes, alguns trajando camisetas de super-heróis e times de futebol, realizam a iniciação na vida adulta através da dança e da música, limpando o espírito para tornarem-se homens dignos da ajuda dos deuses. Uma cena curta, mas inebriante. Nhemonguetá pode não ser uma aula ou uma denúncia, como costumam se apresentar alguns documentários. Mas a pureza presente em seus depoimentos e imagens compensa qualquer informação perdida.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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