Crítica
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Sinopse
Elisa engravida do namorado no começo dos anos 1970 e é internada compulsoriamente num hospital psiquiátrico. Depois de passar por uma série de abusos, ela se junta a um grupo que pretende encontrar uma maneira de fugir daquele lugar.
Crítica
O cinema de gênero ainda é pouco explorado no Brasil. Ou, pelo contrário, é provável que até haja produções em uma quantia razoável que explorem esses conceitos. O problema é que na grande maioria das vezes acabam restritos a nichos específicos, sem atingir o grande público – isso quando conseguem ser lançados, indo além do regozijo dos próprios realizadores (e apenas destes). Portanto, o anúncio de que um filme de suspense e terror, com toques sobrenaturais, havia sido escolhido para a sessão de abertura de um dos mais prestigiados festivais do país, foi recebido com grande entusiasmo. Porém, o que se viu na tela, tanto por aspectos técnicos, como também pela própria afiliação dentro de um universo de regras bastante particulares, dificilmente colocaria Ninguém Sai Vivo Daqui como um legítimo representante deste padrão ao qual o conjunto almeja se inserir.
Para começo de conversa, é difícil até mesmo vê-lo como um longa. Afinal, Ninguém Sai Vivo Daqui nada mais é do que a compilação, em pouco mais de noventa minutos, dos dez episódios (!) da série Colônia (2021), exibida dois anos antes pelo Canal Brasil. Por mais que o diretor André Ristum (também co-roteirista, ao lado de Rita Glória Curvo, do igualmente problemático Macabro, 2019, e de Marco Dutra, que volta e meia flerta com temáticas similares em títulos como Quando Eu Era Vivo, 2014, ou Todos os Mortos, 2020) afirme ter providenciado cenas novas, a linha narrativa tanto do programa de televisão, quanto da obra cinematográfico que tenta agora apresentar, se mantém a mesma. Em ambos, o público é convidado a acompanhar o calvário de Elisa, uma jovem de pouco mais de vinte anos que é internada, contra a sua vontade, em um hospital psiquiátrico no interior de Minas Gerais.
O mais curioso é que esse episódio teria, supostamente, ocorrido no início dos anos 1970 – ou seja, não se trata de um absurdo de séculos atrás, mas que teve vez há apenas algumas décadas. Porém, independente da época, ou do lugar onde a ação se passa, o que se vê em cena é o mesmo já verificado em inúmeras produções que partem do mesmo princípio, do clássico Um Estranho no Ninho (1975) ao mais recente Garota, Interrompida (1999), passando pelos diversos repetidores genéricos que se seguiram nos anos posteriores. Ou seja, é a velha cartilha há muito conhecida: a internada irá se revoltar, os enfermeiros-guardiões a tratarão com desprezo, ninguém acreditará em sua versão dos fatos que a levaram até ali, as violências contra a protagonista irão aumentar progressivamente, e quando finalmente alguma possibilidade de esperança surgir no seu caminho ela já estará tão afetada pelo “tratamento” que lhe foi imposto que sua sanidade terá lhe abandonado, a ponto de se tornar, enfim, a louca que a acusam desde o começo.
Alice é interpretada por Fernanda Marques, uma jovem que tem feito alguns trabalhos esporádicos na televisão e que, no cinema participou do drama romântico pouco visto Nas Mãos De Quem Me Leva (2021). Sua evidente inexperiência não lhe fornece subsídios para enfrentar os desafios que esse enredo guarda, ainda mais por estar ao lado de intérpretes tarimbados. A semelhança física com Andréia Horta, outra das internas, também lhe é prejudicial. Mas há quem se destaque, e essa jornada só não é mais tortuosa pelas participações de Rejane Faria (Marte Um, 2022), o coração da história e único ponto de verdadeira emoção, e Augusto Madeira, perfeito como um carrasco vil e dissimulado, indo da falsa simpatia à agressão extrema sem muitos meandros, construindo um monstro à altura do pesadelo ao seu redor. A edição picotada, porém, não apresenta espaço para que nenhum dos dois consiga desenvolver seus personagens à contento. Pior ainda é a situação de outros talentos comprovados, como Bukassa Kabengele e Arlindo Lopes, não mais do que figuras dentro de um cenário amplo, ou Samuel de Assis e Marcelo Laham, que se mostram como meras participações especiais.
O maior dos incômodos provocados por Ninguém Sai Vivo Daqui – além desse título/spoiler – é a trilha sonora de Patrick de Jongh (Meu País, 2011), que talvez por também ser um dos produtores, demonstra não ter tido nenhum controle no seu uso, extrapolando os limites do bom gosto em mais de uma ocasião. Exagerada, intrusiva e reiterativa, piora ainda mais um contexto que já não era dos melhores. A opção pela fotografia em preto e branco é também controversa, pois não há estudo de luz e sombra, mostrando-se como um mero filtro aplicado por cima de imagens naturais e de pouca elaboração. E o que dizer quando os créditos de abertura afirmam que “os personagens são fictícios, porém os eventos de fato aconteceram”, isso em uma história em que a protagonista é capaz de conversar com fantasmas (figuras, essas, que em nada influenciam no andar dos acontecimentos)? Como se percebe, o título não faz tanta referência à ficção e, sim, aos espectadores, pois sair vivo dessa sessão é o maior feito que se pode esperar.
Filme visto durante o 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em dezembro de 2023
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 2 |
Edu Fernandes | 3 |
Carlos Helí de Almeida | 3 |
Carissa Vieira | 4 |
MÉDIA | 3 |
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