Crítica
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Sinopse
Enquanto aguarda a chegada da amada Nega Juju, Paulinho Gogó conta suas histórias. Ele relembra a infância pobre na baixada fluminense, os bicos, o tempo no quartel e as várias confusões que apontou com os amigos Chico Virilha, Biricotico, Helinho Gastrite e Celso Bigorna.
Crítica
Paulinho Gogó é um dos fenômenos da televisão brasileira – e nem tão recente assim. Alter ego do ator Maurício Manfrini, nasceu como personagem de um programa de rádio em 1995 como um típico malandro carioca. Na telinha, chegou em 1999, no jornalístico sensacionalista Na Boca do Povo, da CNT. Em 2001 estreou na Rede Globo, como parte da Escolinha do Professor Raimundo, e em 2004 se mudou para A Praça é Nossa, no SBT, onde ficou até o início desse ano, quando anunciou sua saída da emissora após 16 anos. Portanto, sua ida para o cinema é mais do que natural – era esperada, afinal. Mas esse No Gogó do Paulinho poderia ser mais do que apenas um esquete televisivo, caso tivesse sido feito por alguém disposto a fazer uso dos recursos desse novo meio. Pelo contrário, o que se encontra é apenas uma reciclagem mal engendrada de piadas antigas, em sua grande parte infames ou assumidamente escatológicas. A triste constatação é que, apesar de ter sido lançado em 2020, o humor empregado é o mesmo que era praticado duas décadas atrás – ou mais.
Pra quem está sendo apresentado a essa figura somente agora, Paulinho Gogó é uma mistura de Nerso da Capetinga (Pedro Bismarck) com Rolando Lero (Rogério Cardoso), apenas para ficar entre os colegas da Escolinha. Ou seja, não chega a ser um tipo particularmente original. Trata-se de um falastrão, cuja metade dos relatos que faz são obviamente inventados, que vão do absurdo ao improvável. E entre garganteios que tendem a aumentar seu envolvimento com os fatos e disparates provocados por uma óbvia ingenuidade, o que se vê é um homem-criança, bobo em suas provocações e feliz em comemorar feitos que qualquer outro trataria como irrelevantes. É alguém evidentemente deslocado da realidade, cuja própria presença em cena deve pode ser vista como anacrônica, mas também como impossível.
Assim como um Forrest Gump tupiniquim, Paulinho Gogó está sentado num banco da praça, disposto a narrar a própria história a qualquer um que se interesse (ou não) em ouvi-la. Só que, ao invés de uma caixa de bombons, o que traz consigo é a convicção de estar no lugar e momento certo – o que, obviamente, logo se revelará mais um dos tantos equívocos. Sua expectativa é a de reencontrar a paixão da infância, a Nega Juju (o politicamente correto passou longe, como se percebe). A personagem de Cacau Protásio é mais um motivo do que um ser concreto. Participando do filme apenas em situações pontuais, é por causa dela que ele percorre uma trajetória que vai desde o nascimento até o tempo presente. É seu grande amor, apesar de que em nenhum momento se explique as razões que o levam a recordar de quando era criança – antes de conhecê-la, portanto – e nem mesmo as desventuras que passa em suas tentativas de conquistá-la. Menos identificáveis ainda são os motivos que a levam a mudar de ideia a respeito dele.
Se no berçário é apontado como “a criança mais feia do mundo” e tratado com desprezo pela família (apesar de interpretado pelo simpático Gabriel Moreira, o ‘Cascão’ de Turma da Mônica: Laços, 2019), na escola era visto com não mais do que desprezo pela Nega Juju. Quando ela se muda de cidade, a vida dele se vê resumida a uma busca pelo amor perdido. Do serviço militar à experiência como vidente picareta, passando por um período escondido no interior de Minas Gerais, o que se verifica é uma série de ‘causos’, ou seja, uma narrativa episódica que nada colabora com a trama em si. São apenas piadas infelizes, como o banheiro imundo ou o músico apelidado de “Virilha” por estar constantemente com coceira na mesma, ou a árvore de café que já o serve com xícara e pires ou o cabo que pula de paraquedas mas leva uma mochila vazia no lugar. Tudo muito pueril, tolo mesmo, que mais provoca constrangimento do que qualquer tipo de graça.
Se o sentimento de desconforto que o filme provoca provém da estrutura assumida, ultrapassada e envelhecida, há outros elementos que apontam para algo feito às pressas, como o uso de dublês para celebridades como Zeca Pagodinho, Ronaldo Fenômeno ou Neymar – sem esquecer de mencionar um infeliz Capitão Jair, cuja presença não é nem crítica, nem laudatória. Ou seja, qual o motivo da referência, então? Mais do que um desserviço ao personagem – até por sua longevidade, Paulinho Gogó merecia mais do que o descaso que por aqui se percebe no tratamento que recebe – o grande problema de No Gogó do Paulinho é mesmo a leitura que ganha através das mãos – e olhares – da dupla Roberto Santucci (diretor) e Paulo Cursino (roteirista). Os dois já fizeram muitos filmes juntos, alguns bons, outros de sucesso. Nenhuma dessas características, no entanto, próximas ao que por aqui se encontra. Talvez esteja mais do que na hora de ambos reverem seus conceitos e, quem sabe, buscarem outros caminhos – separados, de preferência.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 2 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 1.5 |
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