Crítica
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Sinopse
O famoso diretor de teatro Konstantin Stanislavsky decide conhecer o submundo de Moscou em busca de inspiração à montagem da peça Ralé, de Maksim Gorky. Na companhia de um célebre conhecedor dos ambientes underground da cidade, ele se envolve numa investigação.
Crítica
Eis aqui um interessante material a ser trabalhado. Para realizar No Submundo de Moscou, o cineasta Karen Shakhnazarov fundamentou-se em uma inusitada ocorrência, datada do início do século XX, vivida por duas populares figuras da capital russa pré-revolução, segundo relatos jornalísticos. No caminho, o responsável ainda tempera a empreitada com lampejos inspirados em "O Signo dos Quatro", romance policial de Arthur Conan Doyle. Dessa forma, é razoável acreditar que o percurso será, no mínimo, mobilizante. Mas o fator dinamismo, talvez, não seja um dos nortes de Shakhnazarov.
Trabalhando na produção da peça "Ralé", de Maksim Gorky, o notável diretor teatral Constantin Stanislavski sente que não está mergulhado suficientemente em seu objeto de estudo: as dificuldades das classes baixas de seu país. Segundo ele, seu desempenho estaria poluído pela vida confortável na qual está inserido. Decidido a entender, de fato, a vida dos necessitados, Stanislavski pede a Vladimir Guilyarovsky, jornalista habituado ao cotidiano hostil da vida urbana, que o leve para uma incursão no cenário underground de Khitrovka, bairro que abriga vácuos de políticas públicas. Nesse contexto, ambos presenciam um assassinato. Na sequência, instigados, decidem investigá-lo por conta própria.
Cabe aqui ressaltar que o filme foi premiado na categoria de Melhor Figurino e indicado a Melhor Trilha Sonora no Golden Eagle Awards, tradicional premiação do cinema russo. De fato, tais serviços se destacam durante a trama. Enquanto os trajes desenham retrato confiável dos estilos da época, as melodias regulam a narrativa. No entanto, os grandes méritos da aposta terminam por aí. Toda a encenação proposta pelos responsáveis soa didaticamente imatura, ilustração que pode ser verificada em situações simplórias, facilmente resolvidas pelos personagens, e, mais hegemonicamente, em atuações caricatas, principalmente de coadjuvantes.
Essa infantilização do enredo é simbolizada com maior suntuosidade pelo trio principal. Stanislavskiy, encarnado pelo galã Konstantin Kryukov, é apenas condutor de uma visita guiada pelos belos sets construídos para a produção. Gilyarovskiy, papel de Mikhail Porechenkov, é um jornalista que está para o público como alívio cômico constrangido, ainda que possua boas expressões. Por fim, Anfisa Chernykh dá vida a Knyazhna, garota de programa trapaceira que não contribui muito além de adicionar toque femme fatale a este universo dominado por homens. Aliás, boa parte do tempo, Anfisa é privada de diálogos.
Entre desordens e frases de efeito, No Submundo de Moscou busca cativar audiência diversificada, transitando entre comédia, romance e investigação, sem adentrar profundamente nenhum desses aspectos. As figuras retratadas carecem de singularidade, o que torna difícil criar qualquer empatia. No desfecho, é instigante refletir sobre o que motivou Shakhnazarov, diretor previamente indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes (em 1991, com Assassinato do Tzar), a se aventurar, para além da bela direção de arte, em terreno tão ingênuo.
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