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Sinopse

O boxeador Billy Hope se entrega a uma profunda depressão no auge de sua carreira, após o assassinato de sua esposa. Com a decisão judicial sobre custódia da filha em debate, ele volta ao ringue para assumir o controle de sua vida outra vez.

Crítica

Filmes sobre boxe, seus lutadores e bastidores há muito não são novidade, menos ainda quando consideramos os infindáveis dramas esportivos que continuam sendo lançados sem necessariamente apresentar algo de novo. Nocaute tenta somar ao filão, mas é claramente calculado para pontuar tantas características formulaicas que termina sem razão de existir. As definições de seus personagens são rasas, interligadas apenas por um estreito fio condutor motivacional que parece ainda mais insignificante quando confrontado ao universo que retrata. O golpe baixo, aqui, é uma afronta direta ao espectador.

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A trama é um pastiche dos clássicos dramas hollywoodianos com protagonistas boxeadores. Billy Hope (Jake Gyllenhaal), que cresceu em um orfanato em Nova York, é um campeão invicto que se vale de uma arriscada e dolorosa técnica para vencer seus adversários, composta por sacrifício, autopunição e revanche. Quando sua esposa, Maureen (Rachel McAdams), diz que é hora de dar um tempo, sua influência como companheira do lutador desde a infância fala mais alto – algo que vai na contramão da proposta de seu empresário, Jordan Mains (50 Cent).

A introdução de Nocaute é narrada com alguns atrativos; seja na exposição do que ocorre além das câmeras que registram um grande combate, nas interações entre imprensa, patrocinadores, executivos, médicos e os próprios lutadores, assim como nas delicadas relações que estes últimos desenvolvem com seus familiares. Infelizmente, o que parece promissor logo se perde entre o verdadeiro argumento do roteiro de Kurt Sutter (da série televisiva Filhos da Anarquia, 2008-2014). Billy discute com um rival em potencial no lobby de um hotel, uma arma é disparada e sua esposa morre. Enquanto tenta criar a filha sozinho e lidar com uma intensa depressão, ele perde um campeonato e sua licença para lutar boxe, assim como sua reputação, dinheiro e a custódia da criança para o Estado. Billy deve então procurar sua redenção enquanto “luta” para reconquistar tudo o que perdeu. Não peço perdão pelo trocadilho porque o sobrenome do protagonista é Hope (esperança, do inglês), algo que indica o que se esperar como conclusão – ainda mais quando os narradores das lutas soltam frases prontas como “a esperança aparece novamente” ou “sim, nós ainda temos esperança”.

Antoine Fuqua, que tem um longo histórico como diretor de filmes de ação, desaparece na condução de Nocaute, carente da intensidade arrítmica de Dia de Treinamento (2001) e até mesmo do descompromisso de O Protetor (2014), que tornariam sua história rasa mais atraente. Criado originalmente para ser protagonizado pelo rapper Eminem, o filme foi engavetado pela Dreamworks até que Fuqua o desenterrou na expectativa de fazer um filme sobre boxe com lutas extremamente realistas – uma das poucas qualidades de Nocaute. Enquanto desvia do retrato verossímil visto em filmes como O Vencedor (2010) e Menina de Ouro (2004), o drama parece cada vez mais controlado por seus produtores; despido de qualquer sinal de originalidade, o direcionamento do estúdio parece guiar a narrativa para as fórmulas dos super-heróis – histórias que não dependem de um senso de realismo para seus personagens ou aos ambientes nos quais se desenvolvem.

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Com problemáticas em série, Nocaute é salvo por seu elenco, que não só carrega o filme como distrai os espectadores do mesmo. Jake Gyllenhaal tem mais uma performance maior que o filme que lhe serve de veículo, assim como em O Abutre (2014), e demonstra um compromisso que vai muito além do físico em Billy Hope. Outra grata surpresa está no treinador substituto de Billy, que parece ter sido escrito para Morgan Freeman e acabou nas mãos da próxima melhor escolha, Forest Whitaker. McAdams sai do lugar comum de suas performances regulares, mas tem pouco tempo de tela para dizer muita coisa. Tente notar também as boas participações menores de 50 Cent, Naomie Harris e Rita Ora – a cantora britânica aparece por alguns segundos e curiosamente não é como uma ring girl. Nocaute, definitivamente, não merece muita atenção. Ainda menos num universo em que uma obra-prima como Touro Indomável (1980) possivelmente nunca será conhecida por quem sai feliz ao término da exibição desta preguiçosa produção.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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