Crítica
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Sinopse
No frio do Alasca, uma criança é morta por um grupo de lobos. Diante dessa terrível tragédia, a mãe do menino decide pedir ajuda a um biólogo especialista nesses animais. Porém, além do crime, ele se depara com uma trama que envolve uma sociedade secreta e um pai que acaba de retornar do Iraque e que acaba sendo levado à loucura com a notícia da morte do filho.
Crítica
Num cenário de puro branco, o vermelho do sangue não apenas se manifesta destoando no horizonte. Ele grita, tanto como um pedido de socorro, como um alerta para o mal que a imensidão esconde. E quando a terceira criança é levada sem chance de retorno, algo precisa ser feito. A justiça não está mais ao alcance dos homens, das leis ou das convenções da região. É preciso vir alguém de fora, que atenda o chamado e saiba o que fazer no momento de maior perigo. Como se percebe, a premissa de Noite de Lobos é interessante, e desperta a atenção. É de se lamentar, portanto, que a realização do diretor Jeremy Saulnier seja tão equivocada, atirando para todos os lados, e acertando alvo nenhum. É um filme que começa em nota alta, mas vai destoando um toque após o outro, até se revelar uma sinfonia caótica e confusa, sem graça e desprovida de conteúdo digno do olhar até ali dedicado. E poucas coisas são piores do que esse sentimento de traição deliberada.
Após seu filho desaparecer misteriosamente, apenas uma única suspeita parece ser possível: foram os lobos que o levaram. Como este não é o primeiro caso, de nada adiante insistir com as autoridades ou esperar que algo divino aconteça: é preciso partir para a ação. E a decisão de Medora (Riley Keough, de Docinho da América, 2016) é um caminho sem volta: pedir pela ajuda de Russell Core (Jeffrey Wright), um escritor especialista nesse tipo de animais. Ele, a despeito da estranheza do chamado, acaba atendendo vai ao encontro da mãe solitária. A mulher com quem se depara, no entanto, está longe de ser alguém vitimada pelo sofrimento. Pelo contrário, é uma muralha de ódio e ressentimento, como se a vingança lhe fosse o único caminho possível. Não é difícil para o recém-chegado compartilhar desta dor. Ele pensa entender o que a move. Mas, o que logo ficará claro, é o quão longe está da verdadeira compreensão a respeito do que, de fato, está se passando ao seu redor.
Afinal, tudo muda quando o pai do menino desaparecido retorna para casa. Vernon (Alexander Sgarsgard) é um soldado em atividade fora do país, que ao receber a notícia é desligado das suas funções. Seu caminho é rumo à vila em meio a neve constante onde a família vive. A região é indígena, e há tanto a ser cumprido pelos vivos como o que é ditado por aqueles que já se foram. A polícia, no papel do delegado Donald (James Badge Dale, de Guerra Mundial Z, 2013), também está perdida entre pistas falsas e testemunhos que não levam a lugar nenhum. O pior, no entanto, é a declarada falta de cooperação dos locais. Cada estrangeiro, seja vindo de outro ponto do país ou apenas por uma diferente cor de pele, é não apenas um estranho, mas também um inimigo em potencial. E em uma comunidade tão fechada como a aqui retratada, toda ameaça deve ser não apenas rechaçada, mas também evitada mesmo diante dos maiores custos.
Há uma forte dor ligando os personagens de Noite de Lobos. Falta a Saulnier, no entanto, a perspicácia de explorar esse sentimento de modo que colabore com o desenrolar da trama sobre a qual se debruça. O roteiro de Macon Blair (Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo, 2017), no entanto, demonstra estar mais interessado no misticismo ao redor destes eventos e nas possibilidades que tais portas vislumbram – sem nunca investir em cada um destes caminhos, curiosamente – do que nos efeitos provocados por tais atos e nas consequências destas ações. O cenário lá no princípio desenhado rapidamente se torna mera figura de linguagem, deixando de acrescentar peso e relevância, contentando-se em servir apenas como uma nota de rodapé. Muito diferente do que foi visto em Terra Selvagem (2017), por exemplo, apenas para usar um título mais ou menos contemporâneo e dono de muitas similaridades – sejam geográficas ou dramáticas – que é mais feliz em explorar cada um destes elementos e as ligações entre eles.
E se por um lado Jeffrey Wright parece tão perdido quanto seu personagem em Westworld (2016-2018) e Alexander Skarsgard cada vez mais tem abraçado o posto de psicopata de plantão que tão bem lhe serviu em títulos como Sob o Domínio do Medo (2011) e Big Little Lies (2017), pouco parece se salvar diante da grande confusão que Noite de Lobos termina por se revelar. Da ambientação exótica ao elo entre homem e natureza, das insanidades da guerra ao desrespeito do branco em relação aos povos que pensa ter dominado, as possibilidades eram muitas. Saulnier – que se saiu melhor em trabalhos anteriores, como o thriller Sala Verde (2015) – revela dificuldade entre a comodidade de uma produção de maior orçamento e com destino garantido – trata-se de uma encomenda da Netflix – e termina por entregar algo tão desprovido de alma quanto seus próprios personagens, indecisos entre o que pensam ser o certo e exageros que nada lhes acrescentam. Um lamento que, ainda que verossímil, termina por ser maior no lado de cá da tela, cujo investimento é inversamente proporcional ao que é oferecido como conclusão: o nada, tanto antes quanto depois.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 4 |
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