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Sinopse

Max e Annie participam de um grupo de casais que organizam noites de jogos. Quando Brooks, irmão de Max, chega, ele decide organizar uma festa de assassinato e mistério. Quando Brooks é sequestrado, eles acreditam que tudo faz parte da misteriosa brincadeira. Os seis amigos competitivos precisam resolver o caso para vencer o jogo, cujo rumo vai se tornando cada vez mais inesperado.

Crítica

Adaptar jogos para as telas de cinema não é um recurso dos mais originais. Desde Os 7 Suspeitos (1985) até o recente Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017), passando por fracassos como Battleship: A Batalha dos Mares (2012) ou obras cultuadas como Quinteto (1979), os tabuleiros volta e meia surgem como inspiração para tramas que vão da comédia ao suspense, sem nunca esquecer de pitadas de romance e até mesmo drama pelo caminho. Exatamente, aliás, o que encontramos em A Noite do Jogo, longa que se vende como uma combinação entre Vidas em Jogo (1997) e Uma Noite Fora de Série (2010), porém sem assumir os riscos do primeiro e nem investir tanto na comédia como o segundo. Não se trata, que fique claro, de uma transposição exata de um brinquedo já existente para o formato cinematográfico, mas as alusões estão por todos os lados. E há bons momentos, é claro – alguns chegam até a serem ótimos – mas, no geral, a sensação que permanece é de que, com um pouco mais de ousadia, talvez o resultado fosse mais marcante.

Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein – responsáveis também pela frustrante releitura de Férias Frustradas (2015) – não se cansam em deixar claro que tudo que se vê em sua trama, em uma última análise, não passa de uma grande brincadeira. Para isso, utilizam um recurso interessante, com a câmera assumindo uma posição superior, enquadrando a cidade inteira como peças de um Banco Imobiliário – ou, melhor, como um Jogo da Vida – para, somente ao se aproximar, revelar os atores em cenários reais. A ideia, interessante num primeiro momento, logo se revela cansativa, dada a constante repetição. Essa análise, aliás, é bastante pertinente, pois reflete com precisão o viés dos cineastas sobre a história que estão contando: até possuem boas ideias, porém sem saber como dosá-las, terminam por desgastá-las fazendo, na maior parte das vezes, um uso equivocado das mesmas.

Um bom exemplo disso é o casal de protagonistas, formado por Jason Bateman e Rachel McAdams. Com quase dez anos de diferença, os dois atores até se esforçam, mas custam a convencer como uma dupla que se conheceu ainda na juventude e estão prontos para dar os primeiros passos na formação da família – ele já tem quase 50 anos, afinal! Tentando compor dois personagens que se veem como eternos adolescentes, eles aparecem como aficionados por ‘noites de jogos’, encontros em que reúnem os amigos Kevin (Lamorne Morris, da série New Girl, 2011-2018) e Michelle (Kylie Bunbury, de A Melhor Festa do Ano, 2011), além de Ryan (Billy Magnussen) e a “namorada da semana”. Os dois primeiros, logo no começo, descobrem uma suposta infidelidade, e passam o resto do filme discutindo o caso – a resolução é até engraçada, mas ao estender a piada além da conta, ela acaba perdendo a força. Já o segundo, que tinha encarado o papel do “loiro burro” com eficiência em títulos tão diversos como Caminhos da Floresta (2014) e A Grande Aposta (2015), aqui atinge seu ápice: ele realmente tem momentos hilários, mas chega a ser difícil defender um tipo tão sem noção em meio a outros mais centrados. Sem falar que seu desfecho ao lado da inglesa Sarah (Sharon Horgan, de Imagine Eu & Você, 2005) é tão previsível que é quase ignorado.

A ação de A Noite do Jogo, no entanto, só começa de fato com a chegada de Brooks (Kyle Chandler, sempre um coadjuvante confiável), o irmão mais bem-sucedido de Max (Bateman). É ele que propõe uma nova experiência ao grupo, uma aventura na qual não conseguirão discernir o que é real ou não. Bom, é claro que a coisa logo sai de controle, no momento em que um sequestro de verdade interfere no que havia sido planejado. Só que os participantes demoram a se dar conta do que de fato está se passando com eles, e nesse meio tempo a situação vai tomando proporções cada vez mais perigosas. Em uma das passagens mais brilhantes, os seis jogadores se envolvem em um intrincado plano-sequência de passa e repassa com um disputado Ovo Fabergé. A sequência, muito bem elaborada, acaba servindo apenas de exibicionismo para os realizadores, pois sua conclusão, que é com a peça se partindo e revelando um conteúdo insuspeito, se dá numa sequência seguinte, desperdiçando o frenesi há pouco gerado.

Por outro lado, o uso desse recurso é mesmo curioso, pois remete o espectador a uma outra preciosidade: as bonecas russas, aquelas que ao serem abertas sempre revelam uma outra no seu interior. Essa, afinal, é a estrutura em que o roteiro de Mark Perez – que possui no currículo títulos como Herbie: Meu Fusca Turbinado (2005) – se apoia: a cada revelação que parece dar conta de explicar o enredo, uma reviravolta surge em seguida, apenas para gerar uma nova distração. O próprio gênero acaba sofrendo com essa inconstância, indo do humor escrachado à violência desmedida, gerando resultados que não conversam bem uns com os outros. Sem falar no desperdício de certos nomes, como Jeffrey Wright e Danny Huston, que é de se perguntar o que fazem neste projeto. Toda essa inconstância uma vez é legal, duas pode até surpreender. Agora, na terceira ou quarta o recurso se esgota, firmando-se como regra e deixando de gerar o impacto esperado.

Dito isso, pode-se ter a impressão de que A Noite do Jogo é um desperdício completo, o que também seria um exagero. Ainda que se assuma como entretenimento passageiro, possui algumas ideias curiosas – o Clube da Luta dos milionários é um dos pontos altos – e enquanto diversão cumpre sua meta sem muitos tropeços. Bateman é um ator adequado para esse tipo de comédia (como visto em Quero Matar Meu Chefe, 2011, que investe num tom semelhante), enquanto que McAdams dá mais um passo ao explorar sua suposta versatilidade (antes esteve na aventura Doutor Estranho, 2016, e há pouco foi indicada ao Oscar pelo drama Spotlight: Segredos Revelados, 2015). E como ignorar a presença de Jesse Plemons, como o vizinho um tanto psicótico que nada mais é do que carente por atenção? São elementos como esses que revelam um conjunto interessante, ainda que não consiga dispor de suas peças com a devida harmonia. Ou seja, estão todas lá, faltou apenas combiná-las com maior eficiência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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