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Sinopse
Em um porto, um homem caminha todas as noites pelo píer. Lá, ele encontra uma mulher que diz estar esperando pelo amor de sua vida. Após quatro noites discutindo a vida, ele se apaixona por ela. Então, o homem pelo qual ela esperava, chega.
Crítica
O escritor e roteirista francês Paul Vacchiali não é nenhum novato – na verdade, ele possui cerca de cinquenta títulos em sua filmografia, entre trabalhos como diretor, roteirista, compositor, figurinista, editor e até mesmo ator. É curioso – e um pouco triste, na verdade – descobrir que nenhuma destas obras tenha sido lançada comercialmente no Brasil até hoje – afinal, ele está na ativa desde o início dos anos 1960, ou seja, há mais de cinco décadas. Esta falha do circuito exibidor nacional começa a ser corrigida agora com a estreia de Noites Brancas no Píer, o seu mais recente longa-metragem como realizador. E não se trata de um título qualquer: temos aqui uma adaptação de um texto clássico de Dostoiévski, e não é toda hora que temos a oportunidade de nos confrontar com uma criação à altura da obra do autor russo.
Fiodór (Pascal Cervo, de De Volta Para Casa, 2012) está sem rumo na vida. Órfão desde muito cedo, foi criado pela madrasta, com quem mantém uma boa relação. Na verdade, o que lhe aflige não é um mal específico ou outro – é simplesmente a ausência de motivação. Professor, decide tirar um ano sabático, longe dos compromissos ou das obrigações, para definir o que fazer da vida. Durante esse período, uma das suas atividades mais regulares é caminhar pelo porto, de preferência à noite, quando o lugar é mais vazio. Não quer fazer amigos, nem se aproximar das pessoas. Sua honestidade quanto a isso chega a ser reveladora: “sou um homem mau, e me orgulho disso”, afirma logo no começo da trama.
Essa existência de contínua insatisfação começa a ser alterada quando encontra Natacha (Astrid Adverbe), uma moça que ali também está à espera de algo que mude sua rotina. O que a leva ali, no entanto, é algo mais concreto: aguarda a chegada do homem de sua vida. É claro, no entanto, que a aproximação entre os dois recém conhecidos não será gratuita – o interesse inicial que ela desperta nele logo se transformará em paixão, e com isso virá também o ciúme e a necessidade de posse. Porém essa relação não se estabelecerá de forma tranquila. Por mais simpáticos que sejam um com o outro, em última instância o que querem, mesmo, é se satisfazerem. E esse processo nem sempre é simples.
Calcado em um forte discurso filosófico, Noites Brancas no Píer é praticamente uma peça de teatro filmada, com dois atores sozinhos em cena durante a maior parte da ação. Quase nada acontece entre eles, ainda que muito seja dito e, principalmente, sentido. Os discursos são longos e repletos de analogias e informações sobre eles, sobre o que os aproxima e como veem suas realidades e expectativas – ou o que restam delas. Fiodór é o hoje, cruel e amargo, preso à terra e sem aspirações. Natacha é o sonho, a esperança, o amanhã que talvez nunca chegue, mas pelo qual não se cansa de acreditar. A união de dois extremos assim parece ser impossível. Mas será de fato?
Temas como sexualidade, morte e religião são constantes na obra de Vacchiali. Em Noites Brancas no Píer não é diferente. Seus protagonistas são espectros de um tempo vasto e inalcançável, inseridos em uma existência onírica que mistura desejo com impossibilidade. Adentrar nesse mundo não é uma tarefa para qualquer um, mas uma vez partilhando destas visões muito terá a ser refletido e, acima de tudo, absorvido. Assim como esse cinema, em que tudo está exposto, porém pouco é entregue facilmente.
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