Crítica
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Sinopse
Numa pequena cidade litorânea do Rio de Janeiro, Dora e sua filha Júlia tentam retomar suas vidas após alguns anos de uma tragédia familiar. O retorno inesperado de uma figura do passado vai trazer à tona novamente todo o sofrimento que ambas gostariam de sufocar.
Crítica
As famílias felizes parecem-se todas; as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. Esta afirmação de Tolstói marca o interesse da arte pelo singular. É esta peculiaridade trágica, portanto, que movimentará Noites de Reis. O segundo longa-metragem ficcional do diretor Vinicius Reis acompanha a professora Dora (Bianca Byington) e sua filha Júlia (Raquel Bonfante) algum tempo depois da perda de Lucas, seu outro filho.
Aquilo que não se fala parece não existir. O tema árduo silencia os personagens. E a narrativa faz dessa situação de negação uma engenharia fílmica ao desenvolver o filme liberando as informações pouco a pouco. O espectador não conhece o que se passa. Há estranheza nos personagens. Em uma das cenas, vemos Dora mergulhar nas águas límpidas de Paraty. A atividade que à primeira vista parece prazerosa resulta em um inesperado choro intenso. A interpretação de Bianca, atriz conhecida pelos trabalhos cômicos, supera as expectativas. As expressões condoídas, os olhos fundos e os gestos tímidos concebem uma personagem que deixa no público a angústia de um passado ainda não revelado.
O tempo não conserta o desequilíbrio, mas faz com que saibamos lidar com ele. Assim, Jorge (Enrique Diaz), marido de Dora, resolve voltar para casa. Sentimos sua ausência nas desculpas evasivas que Dora presta à filha. Músico de orquestra, Jorge tem na rabeca o instrumento que ilustra a dor da perda. Sentimento com o qual não soube lidar. Ou lidou ao seu jeito: abandonando a família.
Dora é a resistência. Jorge, a fuga. Quando retorna à casa, ele esforça-se em limpar as paredes do quarto. A cena é simbólica. O aposento vazio é a materialização de duas perdas. O sofrimento da personagem de Bianca não pode ser descrito. Diante de um crime tão grave, não há desculpas possíveis. Por isso, o silêncio entre os pais de Júlia é uma forma de acusação e perdão. O tempo, porém, reconstrói a sua forma. É possível que Dora houvesse esperado pelo retorno do marido durante meses ou anos. E é possível que o tivesse desejado ainda mais forte ao estar convicta de que ele não voltaria. O descompasso entre os pais de Júlia torna-se cada vez mais claro, pois Jorge retorna justamente no momento em que Dora se envolve com o restaurador de patrimônios históricos Marcos, interpretado por Flávio Bauraqui. Um coração ferido se cuida para não sofrer novamente.
Sem desdobramentos inesperados ou opções estapafúrdias, o roteiro de Rita Toledo é simples. Sua virtude reside na forma de contá-lo. Engenharia esta muito bem conduzida pela direção ao liberar a conta-gotas o drama de Noites de Reis. O quebra-cabeça se estrutura e ganha corpo, envolvendo o público na expectativa das decisões de Dora e nas atitudes de Jorge. A fotografia é outro ponto alto. Comandada por Fabrício Tadeu, parceiro no primeiro longa do diretor e também de Pedro Sotero em O Som ao Redor ( 2012). A câmera de Tadeu explora com eficiência as tomadas gerais, mas destaca-se a forjar o clima intimista enquanto recurso subjetivo. Noites de Reis se passa durante a Folia de Reis. Os reis magos não se deslocam, mas as boas novas estão na tela.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Willian Silveira | 8 |
Alysson Oliveira | 6 |
Ailton Monteiro | 6 |
MÉDIA | 6.7 |
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