Crítica
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Sinopse
Ao mergulhar no passado do pai, a cineasta se depara com a história da freira que ajudou seus antepassados a fugir da guerra civil angolana nos anos 1970.
Crítica
Nome de Batismo: Frances é uma averiguação da História, bem como das raízes profundas da cineasta Tila Chitunda. A realizadora brasileira vai atrás de personagens essenciais para que seus pais escapassem da guerra civil de Angola nos anos 1970. Ainda que formalmente o documentário seja simples – basicamente, uma soma de testemunhais ilustrados com materiais de arquivos diversos –, o filme consegue sintetizar bem uma interpenetração entre concepções geopolíticas e afetuosas. Tila conversa inicialmente com dois missionários que vivem nos Estados Unidos. O casal revela episódios interessantes, sobretudo os decorrentes das presenças dos protestantes no país africano. Robin e Fran Markham misturam português e inglês numa rememoração que estabelece elos com os antepassados da entrevistadora. Tila mantém os vínculos no centro da investigação, sem para isso transformar constatações, descobertas e análises em epifanias melodramáticas e/ou chorosas.
Mais adiante, a cineasta conversa com Frances Ramirez, freira católica de origem filipina que conseguiu entrar em Angola por ser naturalizada portuguesa. Nome de Batismo: Frances enfatiza a partir dela o ecumenismo, a educação e a fraternidade. A religiosa fala da falta de autonomia dos angolanos e da propensão à utilização dos homens como mão de obra em lavouras. O exemplo do pai de Tila é alinhado para sugerir a impossibilidade de quantificar quanto potencial transformador (como o dele) foi desperdiçado em atividades insalubres. Isso, porque boa parte dos locais não tinha acesso aos meios para exercitar suas musculaturas intelectuais. Ainda que proponha um recorte pequeno e bastante específico, a cineasta enriquece essa abordagem com a nitidez de um interesse profundo e genuíno pelas engrenagens excludentes que, entre outras coisas, servem a propósitos colonialistas. Homens e mulheres religiosos reconectam as pontas desse passado e refazem as suas trajetórias.
Nome de Batismo: Frances é como um diálogo de alguém com suas raízes. Em off, Tila Chitunda fala dos pais, da chegada ao Brasil, da ciência de que era a única menina negra de sua escola, além de citar os privilégios. Há uma conjugação de imagens de suportes e origens heterogêneos para sinalizar a educação como um ideal libertador. A cineasta não analisa o funcionamento das missões em Angola, tampouco esmiúça como poderia a recepção dos pais que emigraram ao Brasil fugindo da guerra. Ela se concentra nas falas dos missionários que auxiliaram como puderam os excluídos a ter alguma autonomia à reconstrução de uma identidade própria quando o continente africano se debatia intensamente para livrar-se dos grilhões coloniais. Mesmo que isso fosse à distância. Prevalece um afeto residual nessa pegada ecumênica ressaltada por fotografias de crianças brancas e negras convivendo. A freira chega a dizer que as distinções são heranças da educação recebida.
O curta de Tila Chitunda parece um ensaio para algo maior. Isso, porque tanto os assuntos que vêm à tona nas interlocuções quanto os vários evocados pelas temáticas tangenciadas não são expandidos. Nome de Batismo: Frances ensaia uma investigação sobre a presença religiosa na África. Geralmente notada como outro instrumento de dominação eurocêntrica, a religiosidade adquire significados diferentes quando deixa de ser vista institucionalmente e passa a ser entendida como exercício particular. Por exemplo, o discurso ainda veemente da idosa freira Frances Ramirez contém uma evidente consciência social e um ímpeto alinhado à ala progressista que não desejava ver Angola subjugada. Dos missionários que moram nos Estados Unidos temos mais o viés memorialístico, sem tantos indícios de posicionamento ideológico demarcado. Como dito anteriormente, o curta é fruto de um recorte específico que cabe bem nos seus cerca de 15 minutos de duração.
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