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Crítica


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Sinopse

Camila está empenhada em ser escritora, inclusive porque acredita na literatura como um ato de revelação.

Crítica

Nome Próprio chegou ao último Festival de Gramado com pinta de azarão, aquele que muitos comentariam, mas que poucos acreditavam ter chances de ficar entre os favoritos. Talvez daí a enorme surpresa quando anunciaram o novo longa do diretor Murilo Salles como o Melhor Filme desta trigésima sexta edição! Os fatores contra eram muitos: era o único longa que já tinha sido lançado no resto do país – ou seja, não contaria com os kikitos conquistados no Sul para seu desempenho comercial – os demais concorrentes eram muito fortes, como o último de Domingos Oliveira (Juventude) e a estreia de Matheus Nachtergaele (A Festa da Menina Morta) por trás das câmeras, e a trama era baseada em dois livros de uma escritora praticamente desconhecida, Clarah Averbuck. Mas Nome Próprio é bom, e ponto. E, felizmente, isso bastou para o seu reconhecimento.

Não que seja uma filme maravilhoso – também não é preciso exagerar. Mas é uma produção honesta, fiel aos seus preceitos e com muitos méritos. Averbuck é integrante de uma geração de autores que começaram a mostrar seu talento através da internet, onde ficaram conhecidos e lugar que até hoje frequentam. Nome Próprio é inspirado em dois livros dela, Máquina de Pinball e Vida de Gato, que por sinal são ambos bastante autobiográficos. Clarah é gaúcha, filha do ator e músico Hique Gomez (da dupla Tangos & Tragédias), e atualmente está radicada em São Paulo. Pode-se imaginar que as desventuras vividas por Camila – uma garota do Sul tentando a vida no centro do país, em luta com seus amores e desejos, ao mesmo tempo em que tenta se firmar como escritora – sejam as mesmas enfrentadas na vida real pela autora, mas esta é insistente em afirmar que é tudo pura ficção. Ok, nós acreditamos, então.

Independente da veracidade ou não do que vemos na tela, Nome Próprio é, acima de tudo, um filme original e dotado de muita criatividade. Suas qualidades estão além do desempenho arrebatador da protagonista Leandra Leal (também premiada com o kikito de Melhor Atriz em Gramado), que aparece numa entrega absurda e assustadora. O filme envolve também pelo formato, pela concisão do roteiro –escrito a seis mãos por Salles, Melanie Dimantas (Carlota Joaquina: Princesa do Brazil) e Elena Soárez (Cidade dos Homens) – que vai direto ao ponto, e principalmente pelo discurso, que não perde tempo em rodeios nem subterfúgios, mas revela com bastante precisão um problema atual: a falta de rumo do jovem moderno e sua indecisão quando em conflito entre os instintos básicos e os preceitos que deveriam importar, como fidelidade, trabalho e honra.

Murilo Salles não fez tantos filmes quanto merecia, mas tem uma carreira bastante sólida. Títulos como Faca de Dois Gumes (1989) e Como Nascem os Anjos (1996) mostram uma completa sintonia entre sua veia artística e o momento em que ela se expressa. Nome Próprio é mais uma prova desta manifestação. Talvez seja um pouco longo demais, demasiadamente fechado no universo da personagem principal, sem chance de nos aprofundarmos naqueles que estão ao redor dela. Mas não seria esse mesmo o objetivo? Visceral, abusivo, pornográfico, ousado, verdadeiro. Muitos são os adjetivos cabíveis à Nome Próprio, mas talvez o melhor de todos seja “pertinente”.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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