Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Na França, o azul até pode ser a cor mais quente. No Rio Grande do Sul, de acordo com o belo longa-metragem de Fabiano de Souza Nós Duas Descendo a Escada, o vermelho parece dar este tom. É o que nos mostra o vestido de Adri, logo que ela adentra uma festa estranha, com gente esquisita – aos olhos dela, ao menos. Todos torcedores do time de futebol Internacional, saúdam a escolha da cor do vestido, enquanto a jovem busca por todos os lados a real razão de estar ali: Mona, uma mulher de cabelos loiros e curtos, com atitude libertária em seus modos e uma irresistível paixão por viver o agora. Juntas elas passarão nove meses intensos. Ao cabo deste tempo, será que o amor perdura? As diferenças serão empecilhos? E as escadas? Serão enfrentadas de mãos dadas?
Além de dirigir, Fabiano de Souza escreve o roteiro do longa-metragem e o fez de forma diferente, assim como se deu a execução das filmagens. A ideia foi realizar duas diárias por mês, em um período de nove meses, para conseguir capturar o passar do tempo daquele casal de namoradas, a troca de estações, etc. Existia um argumento no início, com a ideia geral do longa descortinada ali, e o roteiro ia sendo criado a cada novo mês, assim como as filmagens iam se desenrolando. Com isso, Nós Duas Descendo a Escada ganhou um caráter mais aberto, mais ao sabor dos ventos. Na trama, Adri (Miriã Possani) está vivendo um período de estagnação na vida. Formada em artes, trabalhando em uma livraria, sem muitas perspectivas. Ao sair do consultório psiquiátrico, se vendo obrigada a descer as escadas do prédio, conhece a bela Mona (Carina Dias). Deste encontro fortuito surge um convite para uma bebida que logo descamba para uma apaixonada transa no apartamento de Adri. A partir disso, vemos alguns momentos importantes do relacionamento do casal a cada novo mês, enquanto somos informados do que acontecia no Brasil e no mundo através de recortes de jornais e músicas de Pop Rock.
O que mais chama a atenção no trabalho de Fabiano de Souza é a relação do casal principal. Existe paixão ali, assim como existe muita insegurança, possessão e ciúme. A construção deste relacionamento entre as duas personagens é um dos acertos do filme, por conseguir transmitir um senso de verdade naquele casal. Ajuda o fato de Possani e Dias estarem seguras nos papéis, em personagens que pedem muita entrega. Os diálogos, por vezes literários demais, atrapalham um pouco quando pensamos no naturalismo que o filme parece buscar. Mas em boa parte das vezes, as atrizes conseguem suplantar algum desconforto no texto mais rebuscado e se saem bem. Nós Duas Descendo a Escada se revela quase um musical. A cada novo mês (que acabam servindo como segmentos), uma música dá o tom do que veremos naquele trecho. Canções de Graforréia Xilarmônica, Nei Lisboa, Frank Jorge, Júpiter Maçã, entre outros, constroem esta trilha sonora, com regravações ou versões originais. Os cenários de Porto Alegre encaixam completamente com cada uma das canções executadas, méritos da montagem de Milton do Prado.
Talvez por ter sido construído de forma aberta, o roteiro acaba por apresentar alguns problemas que, com uma ou outra revisão maior, poderiam ser sanados. Um deles é a falta de um grande conflito. Sabemos que em um filme romântico o casal principal sempre se separa para que, ao final, retome ou não o relacionamento. As razões colocadas para o rompimento do namoro surgem de forma intempestiva, como uma necessidade da trama. Podemos acreditar que as duas guardavam mágoas há tempos e que explodiram naquele momento. Mas uma construção melhor destas angústias, anterior àquela cena do bolo de aniversário, resolveria este problema. A inclusão de personagens que aparecem e desaparecem da trama também parece mais descuido do que intenção. Plasticamente belo, com a sempre competente fotografia de Bruno Polidoro, reforçando o tema do amor sem barreiras e sem fronteiras, Nós Duas Descendo a Escada é um esforço interessante de um realizador criativo, que utiliza de sua cinefilia para preencher a boca de seus personagens com citações saborosas. É certo que existem arestas a serem aparadas, mas em seu segundo longa-metragem, Fabiano de Souza mostra um trabalho intenso, por vezes divertido, outras vezes emocionante.
Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)
- Made in Italy - 1 de fevereiro de 2019
- Medo Viral - 13 de agosto de 2018
- Nico 1988 - 1 de agosto de 2018
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 7 |
Ailton Monteiro | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
Deixe um comentário