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Crítica


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Sinopse

Em novembro de 1918, alguns dias antes do Armistício de Compiègne, Édouard Péricourt salva a vida de Albert Maillard. Ambos não têm nada em comum, a não ser a guerra, e são obrigados a se unir para sobreviver. Anos depois, Albert e Édouard planejam uma farsa para desmascarar o Tenente Preadelle, que tenta fazer fortuna com corpos das vítimas da guerra.

Crítica

Já nos primeiros minutos, Nos Vemos no Paraíso se revela uma produção de personalidade. Com uma câmera criativa, que passeia por trincheiras de guerra agilmente enquanto persegue um cão, o diretor Albert Dupontel (que também assina o roteiro e estrela o longa) diz, de bate-pronto, que nas próximas duas horas nos dará um belo e inteligente passatempo. Adaptando a obra de Pierre Lemaitre, Dupontel se viu ganhando seu segundo César na categoria Melhor Roteiro e ainda venceu, pela primeira vez, a disputada estatueta de Melhor Diretor. Ao todo, foram cinco prêmios na prestigiada festa francesa, com mais oito indicações, transformando o filme em um dos mais lembrados de 2018. Não é pouco para este belíssimo trabalho, falho apenas em alguns pontos do seu roteiro.

Na trama, boa parte ambientada no início dos anos 20, na França, acompanhamos o soldado Albert Maillard (Dupontel) em sua trajetória após a Primeira Grande Guerra. Tendo a vida salva pelo amigo Edouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart), que ficou terrivelmente desfigurado após o conflito, Albert tem uma dívida enorme com o rapaz e resolve ajudá-lo a esconder sua situação do pai, o austero Marcel (Niels Arestrup). Na farsa, o sargento culpado por tê-los colocado naquela situação de morte, o cínico Henri Pradelle (Laurent Lafitte), acaba ajudando, meio sem querer. De volta à sua terra natal, Albert e Edouard começam a bolar um plano para ganhar dinheiro fácil, virando golpistas de arte. Mas, o passado tem um jeito curioso de alcançá-los.

Com senso de humor notável, Dupontel conta esta história dramática de forma leve. Aqui temos a guerra, cicatrizes tanto físicas quanto sentimentais, mas o clima do filme não deixa que esses assuntos sejam conduzidos de maneira séria demais. Isso não significa, no entanto, que o longa seja leviano ou raso. É muito mais uma questão do talento do cineasta para realizar algo lúdico, quase cartunesco em dados momentos. Guardadas as proporções, mais ou menos como Roberto Benigni fez muito bem em A Vida é Bela (1998). Embora aqui, a guerra seja bem mais um pano de fundo que dá o start às ações das figuras principais.

Dupontel é destaque no elenco, construindo um personagem adorável, por sua vontade de alegrar o irmão de armas num momento dos mais difíceis. Biscayart, por sua vez, capricha na pantomima para construir seu Edouard, homem que perdeu seu maxilar na guerra e que utiliza máscaras das mais criativas para transmitir seu humor. Niels Arestrup, Melánie Thierry e Laurent Lafitte mantém o elenco em alto nível, todos indicados ao César nas categorias de atuação (junto de Dupontel). Biscayart poderia muito bem ter sido lembrado também.

Algo que incomoda no roteiro – e, imagina-se, seja um tanto culpa do livro – são as coincidências da história. A ligação dos personagens não faz tanto sentido, com a suspensão de descrença do espectador precisando estar no máximo para acreditar em alguns encontros. Nem a história de moldura funciona – Albert conta o que aconteceu com ele a um homem da lei, com toda a ação do filme sendo um grande flashback. O twist do final é mais uma gigantesca coincidência, que tira pontos valiosos do longa-metragem. Felizmente, a trama vinha sendo bem contada anteriormente, com boas performances do elenco, fazendo com que não levemos em tamanha conta esses pecadilhos do roteiro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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