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Sinopse

No dia no funeral do pai ausente, três irmãs descobrem a filha que ele teve noutro casamento. Com apenas 13 anos, Suzu está abandonada e por isso mesmo a trinca decide incorporá-la, assim constituindo um quarteto de irmãs.

Crítica

De maneira insólita, três jovens mulheres conhecem sua meia-irmã adolescente no velório do pai ausente com quem não tiveram muito contato. Os olhares curiosos da colegial Suzu (Suzu Hirose) não dissimulam a alegria dela ao constatar que, mesmo sendo efetivamente uma completa desconhecida às forasteiras, de certa forma não está sozinha no mundo. O convite repentino para mudar-se, para dividir com elas o teto e o cotidiano, é recebido com alegria, tanto que são necessários poucos segundos até que surja a resposta positiva. Nossa Irmã Mais Nova, a mais recente crônica familiar levada às telas pelo diretor japonês Hirokazu Koreeda, baseada no mangá de Akimi Yoshida, transpira ternura pelos poros da imagem. A câmera se aproxima devagar dos personagens, como se quisesse abrandar dores com o calor de sua presença. A trilha sonora auxilia na construção de um transcorrer delicado, que não precisa soterrar desgostos para evidenciar a importância e a capacidade transformadora dos afetos.

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Na convivência inicial, identifica-se Sachi (Haruka Ayase), a mais velha, como uma espécie de figura materna às outras. Responsável e rigorosa, ela se ressente do peso recaído sobre seus ombros no instante em que o pai e a mãe praticamente obrigaram-na, por abandono, a “crescer” para cuidar das caçulas. Yoshino (Masami Nagasawa) tem dificuldades de conectar-se amorosamente, sendo vista como ligeiramente desajuizada. Já Chika (Kaho) parece a menos comprometida pelo conturbado histórico familiar, servindo como contraponto de serenidade às demais, embora haja indícios de que sua calma seja apenas uma camuflagem à dificuldade de expressar o que vem de dentro. Suzu entra nessa rotina estruturada como um corpo estranho, porém bem-vindo desde o primeiro sorriso trocado. Koreeda evita fazer dessa menina um catalisador de rancores, embora sua condição forneça insumos para isso. O diretor prefere trafegar na via do carinho, demonstrando fraturas significativas, mas sem fatalismos.

Nossa Irmã Mais Nova se aprofunda na estrutura complexa das relações parentais, investigando-as com parcimônia, destituído de alardes ou movimentos bruscos. Num primeiro momento, o de adaptação, Suzu centralizada a trama, já que acompanhamos prioritariamente suas conquistas no novo ambiente, o tecer dos laços que tratam de integra-la a uma realidade repleta de novidades. Sachi, então, é confrontada pela presença da mãe de quem guarda mágoas. A partir desse sutil ponto de virada, Koreeda alça a primogênita à condição de protagonista, demorando-se mais em suas angústias, nas particularidades que a tornam núcleo ao redor do qual gravitam os elementos e as questões que, de jeitos distintos, influenciam a todos. Em situação semelhante à vivida no passado pela mãe de Suzu, ou seja, próxima da conjuntura que levou ao desmantelamento de sua família, ela vive na pele as contradições impostas por um sentimento cuja beleza não suporta muitas vezes o peso dos julgamentos.

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Dando tratamento orgânico às ações e às reações, Koreeda cria uma obra de rara sensibilidade, em que os percalços estão presentes, mas na condição de efeitos colaterais do viver. A conexão entre a natureza simbólica, do humano, e a literal, vista na arrebentação, na cerejeira em flor e na ameixeira do quintal, evoca uma misteriosa sabedoria, que está além da racionalização cartesiana ou da explicação religiosa. Isso não encobre, porém, as implicações psicológicas e as interpretações possíveis de determinados comportamentos claramente decorrentes dos processos do inconsciente. Nossa Irmã Mais Nova possui uma vocação inequívoca para sublinhar o que as pessoas têm de melhor, sem com isso esconder a sujeira debaixo do tapete, pelo contrário, expondo fragilidades, a priori singulares, que, na verdade, nivelam de maneira acolhedora sob a perspectiva de uma falibilidade demasiado humana

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
9
Chico Fireman
6
MÉDIA
7.5

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