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Sinopse

Um grupo de recém-formados do ensino médio curte seu último verão antes de seguirem para a faculdade. À medida que os jovens lutam com amores achados e perdidos, amizades se formam em circunstâncias inesperadas, e eles assumem um controle maior nos relacionamentos com os pais, ao menos até decidirem quem serão e o que farão quando estiverem à beira da idade adulta.

Crítica

Produção original da Netflix, o drama romântico adolescente Nosso Último Verão segue o padrão de grande parte dos longas lançados pela gigante do entretenimento: é bonito, colorido, diverso e atraente, mas incapaz de resistir a um olhar mais apurado, pois rapidamente se revela escasso de conteúdo em qualquer abordagem mais profunda. “Ah, mas por quê ser sério se é um filme sobre jovens, amores passageiros e planos que talvez nunca se concretizarão?”, alguns poderão apontar. Bom, isso é fato. Mas não é por abordar temas aparentemente leves que se discurso pode ser leviano – que, aliás, são duas coisas bem diferentes. No entanto, é justamente isso que o diretor e roteirista William Bindley entrega: uma visão superficial e genérica sobre algo que deveria ser único e inesquecível.

Anunciado como a reunião de alguns dos maiores nomes de apelo ao público ‘jovem adulto’ do momento, não causaria espanto se alguém decidisse confessar que Nosso Último Verão foi feito a partir de uma pesquisa a respeito dos gostos desse tipo de audiência. Afinal, almeja-se o mediano do início ao fim, sem dar um passo sequer mais ousado em nenhum momento. Estacionado entre o bom e o ruim, entre o pouco e o muito, entre o escasso e o excesso, acompanha-se o desenrolar de várias situações simpáticas, mas nenhuma particularmente marcante. Ao contrário do texto de autoajuda que abre a trama, que afirma que “estes serão nossos últimos dias de liberdade, pois a partir de agora tudo será diferente”, o que se vê a seguir não tem nada de especial, pelo contrário: desenvolvem-se encontros e desencontros, namoros que começam e outros que terminam, planos que mudam e outros que são abandonados, tudo em nome de um sentimento de nostalgia entre aqueles que quase nada viveram até então.

K.J. Apa parece estar em um episódio da série Riverdale (2017-2019), Halston Sage é a mesma de Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015), Maia Mitchell fez sucesso no Disney Channel com Teen Beach Movie (2013), Jacob Latimore suou a camiseta em Maze Runner: Correr ou Morrer (2014) e Tyler Posey é o lobisomem adolescente de Teen Wolf (2011-2017). Como se vê pelos currículos dos protagonistas, todos são rostos frequentes entre o público dessa faixa etária. Aqui, cada um tem sua própria história, em uma trama coral com poucas interações, o que termina por não justificar a própria proposta. Em comum, apenas o fato de terem terminado o colegial e estarem prestes a dar início à vida universitária. Mesmo que praticamente todo o elenco já tenha passado há muito dos 20 anos (alguns, como Posey, estão com quase 30), o que torna o resultado ainda mais artificial e forçado.

Apa está voltando para casa, e enquanto decide se vai para a faculdade de Administração (como quer o pai) ou de Música (como ele deseja), se apaixona por Mitchell, que está focada em fazer um documentário sobre esse momento inquietante na vida de qualquer um. Ela pretende participar de um festival amador, o que lhe abriria portas para um futuro profissional mais garantido. Latimore e Sage são namorados há anos, mas como sabem que a faculdade irá separá-los, decidem se antecipar partindo para novas conquistas – uma ideia que tem tudo para dar errado. Ainda temos Sosie Bacon (13 Reasons Why, 2017-2018), que não sabe o que fazer da vida, Wolfgang Novogratz (Sierra Burgess é uma Loser, 2018) como um virgem metido a conquistador, e os nerds vividos por Mario Revolori (também de Sierra Burgess é uma Loser, 2018) e Jacob McCarthy (O Baterista e o Goleiro, 2017) que acreditam que lhes basta colocar uma gravata para aparentarem ser uma década mais velhos e, com isso, conquistar qualquer garota.

No meio dessa abundância de clichês, Bindley – que não dirigida um longa desde Madison (2001), há quase vinte anos – e seu co-roteirista, Scott Bindley (irmão dele e responsável pela animação O Que Será de Nozes?, 2014, e suas sequências) tentam inserir temas mais complexos – lá pelas tantas, descobre-se que o pai de um está traindo a esposa com a mãe de outra, ou o drama da criança que sofre com a pressão materna para ser uma estrela-mirim – mas mesmo estas questões são abordadas de modo fugaz e resolvidas sem muito embaraço, acentuando o caráter descartável de todo o conjunto. Nosso Último Verão começa prometendo ser o registro de um momento de passagem que deveria ficar na memória, mas tudo o que consegue é se mostrar irrelevante a ponto de ser esquecido antes mesmo do desenrolar dos seus créditos finais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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