Crítica
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Sinopse
Barbara é uma professora solitária a amargurada que controla com disciplina os alunos de uma escola pública de Londres. Sua vida muda ao contratar a nova professora de artes, Shelba, logo uma companhia agradável para sua solidão. Mas, quando a novata se envolve sexualmente com um dos alunos, Barbara se torna uma pessoa vingativa.
Crítica
Cate Blanchett e Judi Dench são duas das maiores atrizes da atualidade, e disso ninguém tem dúvida. Portanto, quando surgiu a notícia de que estariam juntos num mesmo filme, como não deixar as expectativas subiram nas alturas? E Notas Sobre Um Escândalo, o resultado deste encontro, é uma grata surpresa - mesmo que, infelizmente, em um certo nível possa causar desapontamento. Mesmo assim, o resultado geral justifica qualquer lamentação, e os eventuais deslizes são ínfimos e não chegam a marcar negativamente o trabalho impecável de ambas, que felizmente foram indicadas ao Oscar.
O best seller de Zöe Heller, lançado no Brasil com o título Anotações Sobre Um Escândalo, é muito bom. Conta, com riqueza de detalhes, a história de uma professora que entra numa escola inglesa com a missão de ensinar artes. Ela tem pouca experiência, e acaba criando uma amizade com uma das mais antigas instrutoras do lugar, uma solteirona que se encanta com a atenção recebida e passa a desenvolver um interesse "especial" pela nova colega, numa fixação que combina atração sexual com extremos de carência. Porém este desejo logo se transforma em revolta quando descobre o tal "escândalo" do título: a novata acabou tendo um caso com um dos alunos, um garoto de 15 anos. Na posse deste segredo, passa a manipular a 'amiga' para obter dela o que deseja: carinho, dedicação, companheirismo. Porém, num passo em falso, coloca tudo a perder numa tentativa fútil de vingança. E, quando a verdade é revelada, terá que agir com cuidado para manter o que havia "conquistado" até então.
A adaptação de Patrick Marber (autor de Closer: Perto Demais, 2004), num roteiro indicado ao Oscar, e a direção de Richard Eyre (Íris, 2001), respeitam rigidamente a estrutura do romance, porém preferem centrar a atenção nos desempenhos irrepreensíveis das atrizes ao invés de se focarem na ação discorrida. Ou seja, é possível apontar essa como a maior falha da versão cinematográfica: sua pouca duração (são apenas 90 minutos) para um drama que discorre por quase 400 páginas literárias. Os eventos inevitavelmente terminam por se atropelarem, e o espectador, ainda mais aquele que desconhece a trama previamente, provavelmente ficará com questões mal resolvidas em mente - dados estes que estão no livro, e não na tela.
Mas, ao assistir ao longa, deve-se pensar nele enquanto obra cultural independente, e não ligada a uma outra fonte, seja uma peça teatral, um fato, música, notícia de jornal ou, claro, um livro. E, enquanto produto cinematográfico, Notas Sobre Um Escândalo é inegavelmente acima da média. Só pela trilha sonora de Philip Glass, também indicada ao Oscar, já valeria o ingresso. Mas o importante mesmo é estar atento às atuações de Dench e Blanchett, no auge de suas formas, dando vida a duas personagens complexas, interessantíssimas e singulares. Cada meio olhar, movimento no cabelo, roçar de dedos... tem relevância. Na festa do Oscar, Judi enfrentou um peso-pesado (Helen Mirren, por A Rainha, 2006), mas ver Blanchett perder sua estatueta para a impactante, porém melhor cantora do que atriz, Jennifer Hudson, me remete a quando Catherine Zeta-Jones (Chicago, 2002) foi premiada no lugar de Meryl Streep (Adaptação, 2002). São estrelas da vez, que acabam por obscurecer trabalhos superiores, porém sem tanto destaque. Injustiças como essas não são exceções, e na história do maior prêmio da indústria cinematográfica mundial elas se repetem com uma frequência muito maior do que gostaríamos. E não há nada a ser feito a respeito, além de alertas como este.
Notas Sobre Um Escândalo pode ser um pouco apressado, deixando elementos no ar, mas é um impactante estudo sobre a solidão humana, e como tal deve ser percebido. Com duas fantásticas atrizes à frente do elenco, é daqueles filmes que merecem ser vistos com carinho e muita delicadeza. Pode não ter ganho nenhum dos quatro Oscars a que concorria, mas certamente irá ganhar um espaço importante entre outros iguais, como o perturbador O Que Terá Acontecido A Baby Jane? (1962) e o belo As Horas (2002).
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