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Sinopse
Crítica
O grande mérito de Novas Espécies é a valorização da pesquisa científica. Não se trata de algo indigno de nota, principalmente na atualidade brasileira, na qual linhas de incentivo à atividade são cortadas arbitrariamente por iniciativa do governo federal. O cineasta Maurício Dias e sua equipe se juntam a uma expedição notável na Serra da Mocidade, em Roraima, região Amazônica. Cerca de 50 renomados cientistas, das mais diversas áreas, de ornitólogos a botânicos, passando por especialistas em primatas e entomólogos, decidem se embrenhar num território praticamente intocado pelo homem. O objetivo é estudar o bioma e, possivelmente, encontrar novas espécies animais e vegetais. A figura central, inclusive por ser o arquiteto da árdua empreitada, é o Dr. Mario Cohn-Haft, que alimentava há dez anos o sonho de incursionar pelo espaço de exceção na mata. O filme aparentemente terá o sujeito como nuclear. Assim o tem, mas apenas parcialmente.
O protagonista tem uma obsessão compartilhada com os numerosos colegas. Todavia, Novas Espécies rapidamente deixa de colocar em foco o aspecto humano, as possíveis dúvidas, frustrações, enfim, tudo que concerne ao aspecto individual para abraçar vigorosamente a missão. Narrado pelo ator Marcos Palmeira, o filme se apresenta bastante próximo dos documentários televisivos, valendo-se de uma narrativa basicamente expositiva que encadeia burocraticamente os acontecimentos. Aliás, essa voz que perpassa a produção incessantemente serve tão e somente para oferecer um contexto melhor, mas facilmente seria prescindível caso a intenção do conjunto não fosse exatamente o mero registro. Palmeira somente pontua determinadas singularidades, sinaliza acontecimentos, pormenoriza as circunstâncias, funcionando como apêndice da imagem. Não há uma interlocução fértil entre o visto e o ouvido. São dimensões, no mais, bem sobrepostas.
Uma pena que Maurício Dias não pince tópicos menos ordinários nessa jornada de descoberta. As dificuldades logísticas são apresentadas com o mesmo peso das intempéries, por exemplo, da captura de um pequeno batráquio aparentemente desconhecido. Novas Espécies trabalha os diversos meandros e implicações da viagem com modulações dramáticas e emocionais parecidas, assim as homogeneizando. Momentaneamente, personagens acabam sobressaindo, como quando um integrante é obrigado a desligar-se da expedição por conta de uma urgência médica. Mas, a energia residual dessa tensão não é aproveitada, senão superficialmente. O próprio Dr. Mario Cohn-Haft, bem como sua intenção de encontrar novos pássaros, some do documentário sem mais aquela, voltando à tona pontualmente, mas perdendo a potência até mesmo como pulsão aglutinadora. Pena que o realizador se satisfaça em fazer uma simples anotação audioviosual.
Levando em consideração as dificuldades de produção, Novas Espécies é um êxito por não ficar restrito a um tipo de perspectiva, variando a experiência com planos aéreos (numa boa utilização dos drones) e os com a câmera na mão. Há um claro interesse científico na construção narrativa, vide a forma como ela detém-se brevemente em espécies importantes, oferecendo-nos a informação do nome, da família a qual pertence e sua nomenclatura acadêmica. A lamentar que essa curiosidade passe longe de atingir as jornadas humanas ali em curso. Não são sublinhadas dúvidas, hesitações, euforias e obstáculos (entre eles os mentais e psicológicos), pois os personagens são reduzidos às suas funções profissionais. Esse desenho obviamente faz parte de uma escolha, do privilégio à missão em detrimento dos expedicionários, ainda que em certos instantes pareça que o todo vai enveredar por um estudo pessoal menos displicente. Mas, ainda assim, tem preservado o seu valor.
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