Sinopse
Crítica
Por mais que filmes como Deus Não Está Morto (2014), O Céu é de Verdade (2014) e Milagres do Paraíso (2016) tentem dar a entender que o cinema religioso é um fenômeno recente, clássicos como Ben-Hur (1959) estão aí para provar que esse discurso é bem mais antigo. A grande diferença, no entanto, é o quão engajada é cada narrativa, assumindo suas inspirações como descrições literais da Bíblia ou usando este universo como pano de fundo para análises muito mais profundas e instigantes. Recentemente, tivemos o perturbador Silêncio (2016), de Martin Scorsese, tão válido e pertinente quanto títulos como Ressurreição (2016) ou O Jovem Messias (2016) são descartáveis em suas leituras superficiais e redundantes. Portanto, o que fica claro é que nem toda história laudatória é ruim, assim como nem toda postura pretensamente crítica é válida. Este Noviciado, por exemplo, infelizmente acaba se encaixando neste segundo caso, e não por falta de oportunidades, mas, sim, pela total inaptidão ao abordar tal temática.
Nora (Julianna Nicholson, de Álbum de Família, 2013) nunca foi uma mulher católica. No entanto, é uma mãe atenta, e ciente do fato de que seu marido não é um homem confiável, assume sozinha a criação da filha única. Entre suas preocupações está apresentar à menina o mundo que lhe espera em todas as suas nuances, inclusive no âmbito religioso. É por isso que, certo domingo, a leva à missa. “Para que, no futuro, você possa decidir por si só se quer, ou não, ter esse tipo de fé”. Entre uma visita à igreja e a entrada em um colégio de freiras, a garota acaba decidindo ela própria dedicar sua vida à Cristo. O noviciado – título original do filme – é um processo que se dá no decorrer de mais de um ano, no qual toda candidata terá sua vontade testada até o limite, até o ponto em que sua certeza e comprometimento estejam acima de qualquer suspeita.
Estamos, no entanto, no início dos anos 1960, período em que ocorreu o chamado Vaticano II, concílio que tinha como objetivo abrir a Igreja Católica, promovendo mudanças radicais que a aproximassem dos fiéis. Tais novidades, no entanto, não foram tão bem aceitas por muitos, principalmente entre os devotos mais radicais. Como era o caso da Madre Superiora (Melissa Leo), responsável pelo convento onde Cathleen (Margaret Qualley, de Dois Caras Legais, 2016) decide se internar – para espanto e tristeza da mãe, que fique claro. Ao invés de uma jornada que se ocupasse dos desdobramentos da sua atitude e uma investigação dos motivos que a levaram a esse caminho, Noviciado prefere se restringir a uma série de episódios que apenas reforçam a ideia do quão equivocadas estavam as irmãs em adotarem uma postura cada vez mais severa e obstinada, movidas por castigos medievais que beiravam à tortura ou o sacrifício.
A narrativa conduzida pela diretora de primeira viagem Margaret Betts, ela também autora do roteiro, opta por muitos atalhos, deixando os confrontos restritos às situações mais clichês. É constrangedor perceber também as explicações que busca oferecer, como se todas as que optassem por seguir esse tipo de vocação ou são sexualmente frustradas, ali estão por uma obrigação familiar ou simplesmente não tem mais para onde ir. Problemática também é a composição da diabólica Madre Superiora. Percebe-se que Melissa Leo – vencedora do Oscar por O Vencedor (2010) – estava sem rédeas ou orientações mais específicas, e invariavelmente acaba reincidindo em exageros ou vilanias tolas que em nada colaboram com a discussão proposta. Ela deveria ser o retrato de tudo que haveria de errado em um lugar como esse, mas, por outro lado, acaba sendo digna de pena pela forma patética como é apresentada.
Quando questionadas a respeito dos motivos que as levaram até ali, uma das noviças afirma ter seguido esse caminho por acreditar que, assim, Deus a veria de modo mais especial, destacando-a dentre os demais seres humanos. Como se percebe, fica claro que o pecado mais recorrente por elas praticado é o da soberba. Mas seriam todas assim? Noviciado não colabora muito para essa discussão, pois esquece-se do principal: entre o preto e o branco, há, literalmente, uma infinidade de tons. E entre uma protagonista apática – Qualley parece estar sempre fugindo de qualquer tipo de embate – e uma antagonista caricatural, quem se salva no elenco é Nicholson, como essa mãe de mãos atadas. Percebe-se nela o melhor potencial – o que compete aos familiares em casos assim? – porém, assim como se repete no decorrer de todo o filme, este também é desperdiçado pelo simples fato de não ser explorado a contento. Há, aqui, várias portas que, se abertas, teriam rendido uma grande história. Infelizmente, elas permanecem tão fechadas quanto a visão dos intolerantes que, curiosamente, deveriam ser objeto da análise aqui proposta.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 4 |
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