Crítica
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Sinopse
Com 11 anos, Chala é um garoto de vida familiar conturbada e dificuldade para se encaixar no ambiente escolar. Quando a única professora que ele respeita se ausenta por motivos de saúde, ele vai ser ver em apuros ainda maiores.
Crítica
Vem de Cuba aquele que, talvez, seja um dos filmes mais emocionantes da atual temporada. Numa Escola de Havana parte de um tema frequente no universo cinematográfico – a sala de aula e as relações muitas vezes conturbadas entre alunos e professores – para estabelecer um retrato duro e sensível de uma realidade que reflete sem meias palavras a condição de todo um país. Não por acaso, tem sido muito comparado com o igualmente comovente Entre os Muros da Escola (2008), drama vencedor do Festival de Cannes. Mas se neste o olhar era sobre um problema específico da sociedade francesa (e europeia, até certo ponto), agora temos uma abordagem mais singular e, também por isso mesmo, muito mais abrangente.
Dono de sete indicações aos Prêmios Platino de Cinema Iberoamericano – inclusive a Melhor Filme, Direção e Roteiro – Numa Escola de Havana parte do ambiente citado no título nacional, mas não restringe sua ação a apenas esse único cenário. É entre estas quatro paredes que Carmela (Alina Rodríguez, vencedora do troféu de Melhor Atriz do Prêmio ACE, em Nova York) é autoridade absoluta: professora já antiga, encontra em seus alunos respeito e admiração. É, também, para muitos deles, o único ponto de apoio adulto. São crianças com famílias desestruturadas, de condições econômicas precárias e sem exemplos mais próximos que lhes sirvam de inspiração. Como é o caso de Chala (o surpreendente Armando Valdes Freire, premiado como Melhor Ator no Festival de Havana), um menino de apenas 11 anos que mora sozinho com a mãe, uma jovem que passa seus dias entre as drogas ou se virando como prostituta.
Como não poderia ser diferente, vindo de um lar como esse, Chala volta e meia está arrumando confusão na escola. Metido a valentão, está sempre envolvido em brigas com os colegas e com os deveres atrasados. A situação para seu lado fica tão complicada a ponto de ser necessária a intervenção de uma assistente social, que orienta que o mais indicado neste caso seria transferi-lo para uma ‘escola de conduta’ (título original), uma espécie de instituto de recuperação para delinquentes, ambiente que, como bem sabemos pelos exemplos brasileiros, servem apenas para piorar a formação daqueles que lá vão parar. Justamente por isso, Carmela se empenha para evitar esse destino: discute com a diretora, com a mãe do menino, com a professora substituta e até com a representante do governo. Tudo para garantir as condições justas a um garoto que apenas ela consegue ver o que ele tem de melhor dentro de si. Uma verdade que só poderá vir à tona após muito esforço. De ambos.
Felizmente, o olhar do diretor Ernesto Daranas não recai apenas na afeição que se desenvolve entre os dois protagonistas. Há espaço para outros personagens, como Yeni (Amaly Junco), a colega que talvez perca o direito de estudar porque a família não tem residência fixa na capital, ou Ignacio (Armando Miguel Goméz), o rapaz que pode ou não ser pai de Chala e que ganha a vida – e bem ou mal sustenta o garoto – criando cães de luta. Assim, aumenta-se a dimensão dos relatos envolvidos e a capacidade de identificação com o espectador. Desta forma, Numa Escola de Havana se revela um filme terno, porém nunca fraco. Sua crítica é contundente, e o impacto do discurso que carrega ressoa com força naqueles que o acompanha com atenção. A diferença que uma pessoa pode fazer na vida de tantos, e como a desumanização do sistema, que torna todos em um só nivelamento por baixo, alcança apenas a mediocridade, eliminando possibilidades melhores para aqueles com potencial. E nunca é exagero sermos lembrados do quão concreta essa afirmação pode ser, independente do contexto em que se revele inserida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
Muito bom! Dá para fazer uma análise geral da educação e também um paralelo com o desdobramento do regime cubano! Tem uma crítica em www.artigosdecinema.blogspot.com/2015/11/numa-escola-de-havana-conducta.html
Vi o filme ontem, li a crítica e achei que corresponde exatamente a minhas impressões. A crítica do Milani está muito bem escrita, dá uma idéia da proposta do filme, e coloca algumas posições, sem dogmatismos e sem apelar para clichés. Eu acrescentaria que o filme, dentro do universo dificil de uma sala de aula composta em grande parte de alunos de familias desestruturadas e carentes (o que, em grande parte é também a situação da escola pública brasileira), mostra o embate entre um humanismo, em parte equivocado (porque não é papel da professora cuidar da questão familiar dos alunos, nem isto é possivel e viável) e o burocratismo, em parte oportunista, da assistente social. Esta última provávelmente representa a posição oficial da direção do governo em Cuba. Claro que existem normas, existem regras, mas é questionável se o enquadramento de um ser humano, concreto, real, dentro de uma regra e um esquema rígido, é algo positivo. Acho que é isto que o Milani quis dizer com as palavras finais da sua crítica.
Ainda não conheço Cuba, Havana, o filme emocionou-me. Uma escola em Havana, uma escola em muitos lugares bem mais perto da gente, burocrático-hierárquico onde não se tem rinha de cachorro, não tem uma escola laica, talvez nem Educação. Um filme de Amor.
Lindo filme. Não vi toda aquela miséria em Cuba, quando estive lá em abril de 2015. O que vi foi uma Cuba em franca recuperação e uma Havana quase totalmente restaurada pela Unesco e por empresários do ramo do turismo. Apesar de algumas alfinetadas no regime dos Castros, mostra o comprometimento que o país tem com a educação.
adorei o filme. Muito me emocionou, conheço Cuba, vivi por alguns meses em Havana. E doi ver o que o bloqueio desumano e cruel causa aquele povo. Filme delicado, realista, profundo que aborda questões vividas lá e aqui. Só que com abordagens totalmente diversas. vamos divulgar
É a escola ( ou alguns professores )indo muito além do lugar- comum. Bonito filme. É para pensar !!