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Sinopse

Um panorama sobre o ensino médio nas escolas públicas do Brasil sob diferentes pontos de vista, principalmente a partir dos estudantes. Isso é mostrado através de relatos de jovens, professores, diretores de escolas e especialistas.

Crítica

A cineasta Estela Renner tem grande interesse nos temas que se relacionam com o crescer. Depois do sucesso de O Começo da Vida (2016), documentário que discute a importância dos primeiros anos logo após o nascimento na formação de cidadãos mais felizes e conscientes, Renner agora atua como produtora, ao lado de Marcos Nisti e Luana Lobo, num filme sobre o Ensino Médio das escolas públicas brasileiras. Nunca Me Sonharam vai além da análise da educação do país. É, antes de tudo, sobre sonhos e sobre descobrir a si mesmo e ao mundo.

Dirigido por Cacau Rhoden, Nunca Me Sonharam começa com ares de manifesto pró-juventude. Em sua fala, o psicanalista Christian Dunker faz a analogia clássica do raio e do trovão para as constantes dúvidas e mudanças típicas da adolescência. O que se segue são uma série de depoimentos de jovens de todas as regiões do Brasil dizendo, nos mais diversos sotaques, que a sociedade não quer escutá-los nem sem preocupa com o que pensam. A ideia, difundida por muitos, de que quem tem entre 15 e 18 anos não quer nada da vida vai pelo ralo diante dos questionamentos dos entrevistados. É a faísca necessária para se entrar no assunto da educação, iniciando pelo espaço escolar, comparado a uma cadeia. Com grades por todos os lados, como querer que uma mente sedenta de conhecimento seja livre para pensar? Como seguir nos estudos diante de uma família que cobra um emprego que engorde a renda ao invés de mais gasto com livros e cadernos?

Com uma trilha sonora instrumental que só cessa quando a voz dos entrevistados surge, o documentário passeia a câmera por meninos e meninas de todos os estilos e pensamentos, escuta histórias que refletem a falta de preparo de professores e pais, e também o descaso dos gestores com os alunos. O simples ato de ouvir alguém que está desvendando a vida pode ser salvador. Mas a caricatura do adolescente que só fala bobagem parece gritar mais alto, por mais que as jovens vozes deixem claro que não querem decoreba de fórmulas, mas aprender, serem instigados, discutir o mundo e não apenas guardar datas na memória, sem nenhum significado concreto. Mesmo com falas fortes, algumas até emocionantes, Nunca Me Sonharam mantém sempre seu ritmo leve, como devem ser os papos entre amigos no pátio da escola. Uma ação simples, executada por milhares de adolescentes todos os dias, mas que os poucos que se dizem adultos e cientes da sociedade em que vivem nunca param para observar.

Nunca Me Sonharam tem esperança. Isto porque dentro dos prédios com pouca estrutura ainda existem mestres sensíveis e dispostos a mudar muito mais que o futuro de seus alunos por meio de uma educação mais próxima das múltiplas realidades de um país de proporções continentais como o nosso. Temos juventudes, no plural. E cada uma tem suas particularidades para contribuir para que uma nova forma de ensinar e aprender se concretize. Com o recente ocorrido em uma escola particular da cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, onde alunos se vestiram de gari e até de professores para simbolizar a profissão que seguiriam se nada desse certo em suas vidas, um filme como esse é obrigatório. Porque só quem faz com paixão é feliz de verdade. E ela existe pouco em escritórios luxuosos e muito nas escolas deste Brasil.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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