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Sinopse

O último sobrevivente da tribo Karamakate parte com dois cientistas em busca de uma planta sagrada da Amazônia.

Crítica

Tradição no Oscar é algo que a Colômbia não pode dizer que tem. Foram 24 filmes inscritos desde 1980 e apenas uma indicação, neste ano. Portanto, é com misto de surpresa e alegria que estamos conferindo um longa-metragem daquele país sendo lembrado pela Academia ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Em 2004, os colombianos chegaram perto de aparecer na festa, quando Maria Cheia de Graça (2003) foi indicado ao prêmio de Melhor Atriz, para Catalina Sandino Moreno. Esta havia sido a produção escolhida pelo país para concorrer na categoria de Língua Estrangeira. Como se tratava de uma coprodução com os Estados Unidos e as cenas supostamente filmadas na Colômbia eram, na verdade, capturadas no Equador, se teve o entendimento de que aquela produção não poderia concorrer nesta categoria representando os colombianos. Outro filme foi escolhido, mas sem sucesso.

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O Abraço da Serpente, do diretor Ciro Guerra, aparece 12 anos depois para quebrar este jejum. O longa-metragem conquistou diversos prêmios nos festivais que passou - dentre eles, os prestigiados Sundance e Cannes. Teve uma boa passagem por outros eventos cinematográficos, em cidades como Munique, Mar del Plata, Lima e Odessa. Com isso, carimbou sua passagem para Hollywood, para figurar na lista dos cinco estrangeiros do ano. É verdade que as chances de vitória são mínimas, mas só o falatório em cima da produção já vale muito. Na trama, assinada por Guerra ao lado de Jacques Toulemonde Vidal, acompanhamos duas histórias separadas por 31 anos. Em 1909, o xamã Karamakate acompanha a jornada do cientista alemão Theodor Koch-Grunberg. Em 1940, o mesmo xamã serve de cicerone para o americano Richard Evans Schultes. Ambos procuravam a Yakruna, uma rara e sagrada planta, com poderes de cura, e Karamakate – o último de sua tribo – é a única pessoa que pode ajudá-los. No elenco, Nibio Torres e Antonio Bolívar dividem o papel do xamã, enquanto Jan Bijovoet e Brionne Davis interpretam, respectivamente, os cientistas alemão e americano.

É impressionante o que Torres e Bolívar realizam como protagonistas desta história. Ambos são estreantes e carregam o filme nas costas, convencendo totalmente como dois diferentes extremos de uma mesma pessoa. O primeiro vive Karamakate com o vigor da juventude, cercado de certezas a respeito de sua cultura e dos malefícios que o homem branco trouxe para a sua região. O segundo traz a sabedoria esperada em um índio idoso. Mesmo que diga que tem problemas de memória e que não consegue se lembrar de fatos do passado, Karamakate claramente esconde um segredo. Não é apenas a maquiagem ou o figurino que nos convencem de que estamos observando o mesmo personagem. São os pequenos gestos, a postura, o olhar. Palmas para Guerra, que conseguiu extrair incríveis performances destes estreantes intérpretes. Não bastasse isso, a narrativa de O Abraço da Serpente consegue passear bem pelas duas linhas narrativas, nos dando informações importantes apenas nos momentos em que se nota extremamente necessário que saibamos de algo. Portanto, se Richard Evans parece um tanto escuso, tentando comprar um índio com apenas 2 dólares, é possível imaginar que algo mais deve acontecer baseado nesta atitude. A Yakruna, apesar de ser um McGuffin (objeto que é procurado pelos personagens, importando apenas para fazer a história andar), acaba tendo maior relevância no terceiro ato, transformando a história em uma viagem lisérgica. Como a frase de efeito do filme deixa bem claro: para se curar é preciso sonhar. E sonhamos junto deles no desfecho da história.

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Com lampejos de No Coração das Trevas, clássico livro de Joseph Conrad que deu origem à Apocalypse Now (1979), e fotografia em preto e branco potente, O Abraço da Serpente se mostra uma bela surpresa. Aborda questões pertinentes como a extração irregular das riquezas da natureza, o braço pesado do homem branco sobre o povo indígena e o apagamento contínuo da cultura de um povo cheio de sabedoria, tudo isso com um pé no fantástico. Não fosse o favoritismo fortíssimo de Filho de Saul (2015) e esta produção colombiana poderia muito bem abocanhar seu primeiro prêmio da Academia.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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