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Sinopse

Quando os planos de uma organização criminosa de construir uma bomba atômica são descobertos, os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Rússia unem esforços para combater a facção. Napoleon Solo, considerado o melhor agente da CIA, e Illya Kuriakin, um prodígio da KGB, possuem temperamentos bastante difíceis, e essa improvável dupla vai precisar aprender a trabalhar em conjunto se quiser ter sucesso.

Crítica

O seriado O Agente da U.N.C.L.E. estreou na televisão norte-americana em 1964 e durou por quatro temporadas, até 1968. Os mais de cem episódios produzidos retratavam a rotina de dois espiões inicialmente inimigos, mas que por força das circunstâncias acabavam trabalhando juntos. Detalhe, um era norte-americano, e o outro russo. E como se percebe pela data, estavam em plena Guerra Fria. Naquela época esse tipo de programa até fazia sentido, e o sucesso relativo determinou sua permanência no ar por tanto tempo e o destaque que os dois protagonistas, Robert Vaughn (Sete Homens e um Destino, 1960) e David McCallum (Fugindo do Inferno, 1963), tiveram nos anos seguintes. Mas o que justifica, portanto, esse transposição para a tela grande mais de meio século depois? Talvez as presenças de Guy Ritchie, Henry Cavill e Armie Hammer sejam parte da resposta. Mas longe de serem suficientes.

Napoleon Solo (Cavill) é um ladrão extremamente hábil que atuou no exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial mas, após o término do conflito, decidiu ficar pela Europa e usar suas competências para fins pessoais – até ser capturado pela CIA e colocado para trabalhar como agente secreto. Illya Kuryakin (Hammer), por outro lado, sempre foi o garoto dos olhos da KGB, um oficial dedicado e muito competente. Quando um cientista capaz de produzir uma bomba nuclear some, os dois são enviados – um pelos Estados Unidos, o outro pela União Soviética (afinal, estamos no início dos anos 1960) – em busca da filha dele, Gaby (Alicia Vikander), talvez a única pessoa que possa apontar o seu real paradeiro. Após uma sequência de abertura em que medem forças um com o outro para ver qual é o mais forte e inteligente, os dois acabam sendo colocados para trabalhar juntos por seus comandantes, principalmente por perceberem que não são os únicos atrás do gênio desaparecido.

Guy Ritchie surgiu no cenário hollywoodiano como uma versão inglesa – e menos original – de Quentin Tarantino. Depois, ao se casar com a popstar Madonna, passou por um período de inferno astral, que se seguiu até lançar a versão modernizada de Sherlock Holmes (2009) – já separado da cantora, é bom lembrar. Com o sucesso deste e de sua continuação, ao mesmo tempo em que parecia ter encontrado o grande público, também deixava de lado um perfil mais autoral. Pois é este realizador que encontramos em O Agente da U.N.C.L.E. (a sigla só é explicada no final, e não faz muito sentido... a ideia tem muito mais a ver com a palavra em inglês “uncle”, ou seja, “tio”, que no caso seria o Tio Sam, é claro). As cenas de ação são bem executadas e dinâmicas, os protagonistas são belos e atraentes, e a trilha sonora é perfeita para deixar todo mundo no ritmo das correrias vistas na tela (tem até Tom Zé!). Mas isso é pouco para alguém que em certo momento de sua trajetória chegou a prometer muito mais.

Henry Cavill e Armie Hammer possuem boa estampa, mas parecem mais preocupados com o corte de cabelo e em não amassar suas roupas do que com suas missões. Cavill é mais charmoso, mas a postura firme do Superman parece ter permanecido no rapaz, que não sabe relaxar – algo fundamental em um filme como esse, que o tempo todo grita para ser “cool”. Hammer, por outro lado, sofre da sina do duplo, coitado. Desde A Rede Social (2010), em que aparecia como irmãos gêmeos, ele pouco consegue ir além da postura de braço direito não mencionado no título, posição que ocupou aos trancos e barrancos em J. Edgar (2011) e em O Cavaleiro Solitário (2013) – e aqui, novamente. Por fim, temos a sueca Vikander se esforçando para se firmar em Hollywood. O problema é que sua personagem é mal construída – culpa do roteiro, e não da moça – entrando e saindo de cena conforme os interesses do realizador, e a reviravolta final que conduz pouco ajuda em reconquistar uma atenção que, a este ponto, já está dispersa.

O Agente da U.N.C.L.E. é, assim como a maioria dos filmes feitos nos últimos anos inspirados em séries televisivas de sucesso, mais um produto do que a satisfação de uma necessidade artística. A trama que envolve os protagonistas é mero detalhe, pois o que importa são as perseguições, os efeitos especiais, a tensão que possa ser criada ou o perfil dos atores, deslumbrantes, porém insípidos. Feito sob medida para ser o primeiro de ~ talvez ~ uma nova franquia, dificilmente conseguirá atingir esse objetivo, menos pelo fraco desempenho nas bilheterias nos Estados Unidos e mais por carecer de um apelo que lhe destaque dentre tantos genéricos similares. É até divertido de se ver quando não se exige muito, mas tão descartável e esquecível quanto jornal do dia anterior.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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