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Crítica


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Sinopse

Saigon está envolta em conflito no ano de 1952 para libertar-se do domínio francês. Alden Pyle, agente norte-americano da CIA, é enviado para auxiliar as forças locais. Ele acaba sendo tragado para um triângulo amoroso.

Crítica

O Americano Tranquilo é o resultado da vitória de um homem: Michael Caine, que merecidamente foi reconhecido com uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por esse desempenho irretocável. Apesar de o americano tranquilo do título ser outro (Brendan Fraser, novamente em uma parceria memorável, assim como ocorreu em Deuses e Monstros, 1998, ao lado de Ian McKellen), este filme é inteiramente de Michael Caine. Talvez tenha sido a emoção do seus olhos em cada cena desse drama de espionagem que tenha motivado o diretor australiano Philip Noyce a dar uma guinada em sua carreira em Hollywood, abandonando o cargo de mero operário contratado (como fez tantas vezes anteriores) para realizar este trabalho autoral e sem concessões. Uma obra difícil, de público limitado, mas que merece um imenso respeito e admiração.

Após os ataques terroristas em onze de setembro de 2001, muitas produções que tratavam de temas relacionados foram engavetadas, algumas temporariamente, outras para sempre. Este seria o caso dessa obra, se não fosse a atuação de Caine. Exibida num festival canadense durante uma exibição-teste, foi tão festejada que a Miramax, distribuidora do filme, não teve como fechar os olhos (literalmente) para o tesouro que tinha em suas mãos. Lançada num circuito limitado no final de 2002, apenas para se qualificar para a temporada de premiações de fim de ano, obteve reconhecido junto à Academia somente quanto ao trabalho do seu protagonista, mas recebeu vários outros prêmios, como o dos Críticos de São Francisco (ator e direção), o National Board of Review (direção), o dos Críticos de Londres (ator e direção) e o Satellite (ator). Um excelente resultado para um filme cujo destino era ser esquecido numa prateleira qualquer para nunca mais ser visto.

Existem duas tramas que correm paralelamente durante a ação de O Americano Tranquilo, ambas ambientadas no Vietnã dos anos 1950. Uma trata do triângulo amoroso que se forma entre um jornalista britânico (Caine), correspondente de guerra, sua amante (a novata Do Thi Hai Yen), e um médico americano que chega ao local, supostamente numa expedição de pesquisa (Fraser). A outra, muito mais ambiciosa, diz respeito à intervenção americana no conflito França versus comunismo na Ásia oriental. Numa história em que ninguém é o que aparenta ser, o roteiro de Christopher Hampton (oscarizado por Ligações Perigosas, 1988), baseado no romance homônimo de Graham Greene (Fim de Caso, 1999), consegue construir sua teia de relações de modo muito convincente, envolvendo o espectador de uma maneira que é impossível não se deixar levar pelas emoções contidas por trás de cada revelação.

Mesmo não tratando de nenhuma novidade – afinal, todo mundo sabe como acabou a guerra do Vietnã e como a participação dos Estados Unidos foi desastrosa em vários sentidos – o clima de suspense convive perfeitamente ao lado do romance puro. O diretor é hábil em conduzir sua história, mantendo uma ambientação extremamente suave, ao mesmo tempo em que estabelece em ambos os lados um jogo de duplo, fazendo que cada um sirva de contraponto para sua melhor compreensão.

O Americano Tranquilo é uma pequena preciosidade, que se não fosse pelo impressionante trabalho de composição de um astro como Michael Caine, ficaria relegada ao esquecimento. Mas não se engane: Caine é apenas um dos méritos dessa requintada história, conduzida com segurança por Noyce e dotada de imenso charme. Uma excelente oportunidade, tanto de ver um ator acima da média no domínio de sua melhor forma quanto de presenciar o redescobrimento de um diretor. Ambas situações raras, e uma das poucas obviedades dessa produção que merece ser descoberta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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