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Sinopse

Histórias de amor na idade dos 20 anos trazem lutas internas e externas para jovens em uma época de transição da adolescência para a maioridade. Gravidez, ciúme e incompreensão marcam as vidas apaixonadas desses jovens.

Crítica

Se o amor oferece em si múltiplos sentidos sobre sua própria natureza, aos 20 anos de idade esse sentimento tão almejado pode ser ainda mais imprevisível, permitindo inúmeras configurações conforme pessoas e contextos. Algumas delas ganham representação nos curtas que integram O amor aos 20 anos, filme feito em cinco países com histórias situadas em Paris, Varsóvia, Roma, Tóquio e Munique.

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Lançado em 1962, antes da contracultura se opor mais fortemente às tradições burguesas, o filme ecoa ideais progressistas e antecipa condutas atuais acerca do amor e das relações entre pessoas. Também movimenta temas críticos como abandono familiar, trauma de guerra, adultério, crime passional e maternidade independente sem necessariamente levantar bandeiras.

Em Antoine et Colette, curta de abertura do longa, François Truffaut retoma Antoine Doinel, o pré-adolescente rebelde interpretado por Jean-Pierre Léaud em Os Incompreendidos (1959). Como explicou o ator, Truffaut lhe deu liberdade para compor o personagem, reduzindo o roteiro e dando espaço ao inesperado. Em sua estreia, Léaud apresentou um Antoine assombrado por dramas familiares, acuado em uma escola rígida, porém sempre decidido a dar o troco na vida. Isso tornou seu percurso bastante acidentado. Nesta segunda aparição, aos 17 anos, Antoine está livre do centro de reabilitação ao qual havia sido enviado. Trabalha em uma fábrica de discos e se tornou independente, como sempre quis ser. O problema é sua paixão por Collete (Marie-France Pisier), que com seus prováveis 20 anos de idade faz jogo duro com o rapaz, tratando-o apenas como amigo. Ele quer namoro, ela quer Paris. Teimoso, Antoine paralisa sua vida em função de um amor não correspondido que acaba ferido de morte. Nesta pepita audiovisual de imagem granulada e discurso seco, Truffaut desconstrói o personagem fazendo-o sofrer uma grande perda amorosa. Antoine voltaria renovado apenas seis anos depois, em Beijos Proibidos (1968), comédia que propõe sucessivas tentativas de reconstrução do sujeito mais emblemático criado pelo cineasta francês.

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No trecho seguinte, Andrzej Wajda narra a ascensão e a queda de um veterano de guerra no período de algumas horas em Varsóvia. Após realizar um salvamento em um zoológico, o ex-militar torna-se o centro das atenções de uma garota e de seus amigos, todos fãs instantâneos que o cercam e o consomem após o ato heroico. Capturado pelo redemoinho celebratório, o protagonista surta tomado por memórias trágicas. Com habilidade, Wajda exibe uma interessante sequência de ação no zoo, estabelece romance e tensão sexual posteriormente, e encerra o curta com suspense psicológico catártico. A transição entre gêneros cinematográficos se dá de forma natural e cumpre uma função narrativa bem estruturada. Há também boa direção, especialmente nos planos internos e na abordagem sobre os ecos da guerra e a volatilidade das relações contemporâneas.

Já no filme que se passa em Roma, assinado por Renzo Rossellini, o adultério é motivo de drama e desavença entre um casal rico (sendo ele mais jovem, de origem pobre) e uma mulher solteira de classe média (amante dele). Sendo um registro sobre o cotidiano com sequências noturnas filmadas tanto em festas privadas quanto pelas ruas da capital romana, Rossellini faz homenagens ao neorrealismo italiano e a Roma onírica de Fellini. Porém, em sua forma e argumento se mostra o trecho mais conservador de O amor aos 20 anos.

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O curta de Tóquio, pelo contrário, é o mais inovador em temática e linguagem. Shintarō Ishihara apresenta um operário apaixonado pela garota que sempre encontra na saída do trabalho, mas que mal o percebe. Pior: ele é constantemente cercado por uma colega do serviço que não esconde suas intenções, mas que não o atrai como a outra. Sem conseguir nem mesmo falar com a menina que ama, o rapaz decide executar um plano para tê-la consigo para sempre. Utilizando fusão de planos em movimento com imagens congeladas, zoons e supercloses, sombras e cenas noturnas, o cineasta transforma lentamente uma narrativa trivial em um suspense sobre poder, pertencimento e loucura.

A trama de Munique também reflete a contemporaneidade e arrisca igualmente em sua composição formal, especialmente quando o diretor Marcel Ophüls sobrepõe fotografias às imagens em movimento da narrativa ficcional, utilizando as primeiras como instrumentos documentarizantes das segundas. Na história, um repórter fotográfico roda o mundo e arranja um amor em cada porto até que sua amante alemã dá à luz um bebê. O que poderia ser um peso para ele, que evita qualquer enraizamento, se torna alforria quando a mãe da criança, solteira por opção, o livra da criação do filho. De fato, os dois parecem muito decididos em seus posicionamentos independentes frente ao mundo, porém no último minuto algo indica que ambos podem sim mudar de ideia.

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O amor aos 20 anos reflete a aurora contracultural dos anos 1960. Apresenta curiosas visões de autores sobre o amor e as relações humanas na década mais efervescente do século XX. Entretanto, é em sua essência uma obra de traços caucasianos, heterossexuais e eurocêntricos, mesmo que dê espaço ao sempre arrojado exotismo japonês. Porém, se a diversidade comportamental ainda tardaria algumas décadas a frequentar o cinema, essa produção franco-ítalo-japonesa se coloca como influência para projetos de criação coletiva como Cities of Love, da trilogia Paris-NY-Rio (2006, 2008, 2014), Cada Um Com Seu Cinema (2007), longa com 33 curtas sobre a Sétima Arte, ou Um Golpe, 50 Olhares (2015), que reúne 50 curtas de um minuto com diferentes observações sobre a ditadura militar no Brasil.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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