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Sinopse
Casados há mais de 40 anos, Ben e George decidem finalmente oficializar a sua união. No entanto, isso faz com que George perca seu emprego e os dois precisem viver separadamente por causa da falta de dinheiro.
Crítica
O Amor é Estranho (2014), afirma em seu título o drama romântico de Ira Sachs, cineasta norte-americano que avalia a partir de sua filmografia este singular sentimento que conquista alguns e acomete outros. Como em Vida de Casado (2007) e Deixe a Luz Acesa (2012), Sachs direciona suas câmeras para um retrato íntimo e delicado do amor em diferentes intensidades e intenções. Mais uma vez apoiado no melodrama, o resultado aqui é uma agridoce história maximizada pelo poder de seus atores protagonistas, Alfred Molina e John Lithgow.
Depois de 39 anos juntos, o artista plástico Benjamin e o professor de música George finalmente conseguiram se casar legalmente. No entanto, o que o Governo de Nova York acaba de oficializar pode ser separado por uma triste peça do destino: quando perde o trabalho por conta de sua união homossexual, George também fica sem o apartamento que serviu de lar para o casal por tantos anos, o que os obriga a viver divididos entre familiares até conseguirem se restabelecer financeiramente.
Inspirado novamente por vivências pessoais, Ira Sachs desenvolve a partir de uma exposição lenta e melancólica uma história contemporânea e plausível, que avalia não apenas o amor em seu estado romântico e perene que mantém um casal unido por quatro décadas, mas também os aspectos cotidianos de todas as relações – familiares, fraternas, convencionais, efêmeras - que gravitam ao seu redor. Quando Ben e George se dividem, eles criam um conflito em sua serena harmonia e também na relação que mantém com pessoas próximas, que hesitam em os acolher num primeiro momento e, quando o fazem, percebem que as trivialidades do dia a dia podem dificultar um convívio mais próximo. Afinal, como Benjamin Franklin já dissera, convidados são como peixe; a partir do terceiro dia já passam a cheirar mal. O Amor é Estranho não teria muitos êxitos não fosse o empenho de seu casal de protagonistas, soberbamente interpretados por John Lithgow e Alfred Molina. Os atores concebem trocas – de olhares, gestos, palavras – de maneira singular e vívida, o que torna seu envolvimento palpável, realista e digno de duas pessoas que vivem há tanto tempo juntas. O filme ainda guarda o trunfo de contar com ótimos atores coadjuvantes, em particular Marisa Tomei, que destaca em sua composição ambígua o desejo em ajudar George e Ben, mas também o desconforto por ter maculada a aparentemente inabalável serenidade de sua família.
O roteiro de Sachs, composto a quatro mãos com o brasileiro Maurício Zacharias, peca em ritmo e continuidade em seu segundo ato, quando se esquece de alguns personagens em detrimento de outros – o que acontece com os vizinhos policiais, ou com a sobrinha de Poughkeepsie? – mas logo se recupera ao assertivamente desenvolver os encontros e relações essenciais para o triste desfecho do filme. Todos os maiores acontecimentos da vida do casal ocorrem em segundo plano ou rapidamente, sendo que o foco principal de O Amor é Estranho são as pequenas e eventuais interações que preenchem as nossas vidas.
Em certo momento de O Amor é Estranho, George, ao se referir a apresentação de uma orquestra, diz que quando uma obra é tão romântica, não há a necessidade de embelezá-la. Tal máxima define muito bem o filme de Sachs, repleto de ternura em suas entrelinhas, ainda que econômico em suas proporções.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 7 |
Alex Gonçalves | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
Chico Fireman | 7 |
Daniel Oliveira | 6 |
Maria Caú | 9 |
MÉDIA | 7.2 |
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